Terminada a penosa leitura,só consigo encontrar uma palavra para resumir os versinhos de Temer: constrangimento

por Pedro Venceslau

 

O ex-presidente José Sarney conquistou uma vaga de imortal na Academia Brasileira de Letras (ABL) com o duvidoso “Marimbondos de Fogo“. Trata-se de um livro de poesias que é tão ruim que mereceu uma citação de Millôr Fernandes: “é um livro, que quando você larga, não consegue mais pegar”.

 

Capa do livro "Os Marimbondos de Fogo"

Capa do livro “Os Marimbondos de Fogo”

 

O tucano Fernando Henrique Cardoso também conquistou um fardão devido ao conjunto de sua obra acadêmica. Nesse caso, a honraria foi merecida. Estudei FHC na Faculdade de Ciências Sociais da PUC-SP.

Como a ABL é um dos poucos cargos no Brasil que não estão na cota do PMDB, o vice-presidente Michel Temer terá que se esforçar mais para ser imortal, caso tenha essa ambição. Nos últimos dias li de fio a pavio o livro com 164 páginas de poesias dele, chamado “Anônima Intimidade“. Trata-se de um compilado de versos que ele “rabiscou” em guardanapos durante longas viagens de avião ou espera.

 

Capa de "Anônima Intimidade"

Capa de “Anônima Intimidade”

 

O sociólogo Gaudêncio Torquato, um dos conselheiros e amigo antigo de Temer, foi que o estimulou a publicar seus devaneios. Quando o livro ficou pronto, ele usou três palavrar chaves para descrever a obra: “autenticidade, concisão e sentimentos”.

Disse Torquato na contracapa: “Há uma profusão de pensamentos para aqueles que pensam, como lembra Schopenhauer, mas apenas alguns possuem força para conquistar o interesse do leitor depois de escritos”. Como aprecio o trabalho e confio nas opiniões do Gaudêncio, resolvi ler o livro de fio a pavio.

Terminada a penosa leitura,só consigo encontrar uma palavra para resumir os versinhos de Temer: constrangimento. Se o leitor não acredita, que tire suas conclusões. Na página 50, o poema “Saber” tem duas linhas: “Eu não sabia. Eu juro que não sabia”. Dependendo de como transcorrer a nova gestão, essas palavras podem ser premonitórias.

E por falar em premonitório. Na página 66, o poema “A carta” parece antever o episódio da cartinha de desabafo que o vice enviou a Dilma (e depois acabou vazando). “Leu. Releu. Não entendeu. Mas compreendeu. Tanto escreveu. Só para dize. Adeus“.

Outro poema minimalista, chamado “Procura III”, pode ser encontrado na página 146. “Procurei, alegremente, O amor. Ao encontrá-lo, entristeci”.  Há, porém, um outro que consegue ser ainda mais curto. Está na página 128 e se chama “Trajetória”: “Se eu pudesse, não continuaria”.

 

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