Uso e tráfico de entorpecentes e prostituição à luz do dia motivaram a Prefeitura a cortar energia da Praça Dr Barbosa de Oliveira (Estação); movimentos culturais foram os mais prejudicados.

 por Nathália de Oliveira

De repente, a lâmpada apagou e a Praça Dr Barbosa de Oliveira, ao lado de Rodoviária Velha e em frente a estação ferroviária desativada, ficou às escuras. Mais conhecida como ponto de comércio e uso de drogas e prostituição, aquela agradável florida praça foi descoberta e se tornou ponto de referência para os jovens que estão atrás de eventos culturais.

A administração pública agiu na tarde de sexta-feira, 29 de abril. De acordo com Thiago Naldi, organizador do projeto Trance Solidário, funcionários da Prefeitura retiraram tomadas e cabos elétricos da praça. Ele estava no local no momento, porque naquele dia iria acontecer uma ação do projeto. “O evento seria aquele dia à tarde e infelizmente não pode ocorrer e impediu a arrecadação de alimentos que iria para a Casa São Francisco do Idoso de Taubaté”, explica.

O projeto do Tiago tem o objetivo de difundir a música eletrônica na sociedade ao mesmo tempo em que arrecada roupas e alimentos para instituições de apoio a pessoas carentes. “Eles retiraram completamente a energia da praça que ficou sem luz até em torno das 21 horas quando eles religaram a luz e tiveram certeza que o evento não seria realizado”, destaca.

Apesar da falta dos conectores no coreto da Praça, os organizadores do projeto Terça Sintonia não desistiram de realizar o evento nesta semana, no dia 03. “A gente fez um movimento orgânico com as pessoas tocando instrumentos acústicos”, afirma Júlia Amora Silvestre, organizadora do evento. O Terça Sintonia é um evento cultural que teve início com as rodas de músicos de rap e freestyle e hoje é utilizado como espaço para que jovens artistas de todos os gêneros musicais da região divulguem os trabalhos.

 

No meio, os agentes culturais entrevistados, Julia Silvestre, Thiago Naldi e Leonardo Peres

No meio, os agentes culturais entrevistados, Julia Silvestre, Thiago Naldi e Leonardo Peres

 

Drogas

De acordo com a secretaria de Segurança Pública, o corte de energia ocorreu devido ao consumo de entorpecentes na Praça. “Esse evento que acontece na praça é um evento legal, mas que tomou uma proporção muito grande e já há algum tempo está sendo acompanhado pelas câmeras do COI. Nós percebemos que está aumentando o número de pessoas no evento. [Porém], infiltradas no meio dessas pessoas existem usuários de entorpecentes que estão vendendo [drogas} no local”, explica Marcus Querido, diretor de Segurança da Prefeitura.

De acordo com ele, as câmeras do COI também captam venda irregular de bebidas. Porém, o que culminou na atitude da Prefeitura foi a “briga generalizada que ocorreu lá [na Praça no dia 26 de abril]. Um jovem foi brutalmente atacado por outros jovens e ficou bastante ferido. Assim procuramos interferir ali e abrir um canal de comunicação com o pessoal que organiza o evento”, afirma Querido.

“A gente até conversou com representantes da Secretaria de Segurança pedindo apoio deles, mas eles se apresentaram indispostos a ajudar nos eventos”, esclarece Júlia Silvestre que destaca a presença de usuários de entorpecentes na terça, 03, após a ação da Prefeitura. “O problema da droga estava aqui e não é responsabilidade da gente que organiza o evento. Nem conseguimos inibir isso”.

Marcus Querido contesta: “Eu desconheço qualquer tipo de comunicação desse grupo com a secretaria de Segurança. Existe um caminho que precisa seguir para realizar um evento como esse. Normalmente, quando esses eventos vão acontecer, os organizadores protocolam uma solicitação que circula nas secretárias envolvidas e aqui nunca [na secretaria de Segurança] chegou nenhum processo”, afirma Querido.

“A gente não apoia nenhum uso de drogas e de bebidas [mas] não vai inibir [o uso de drogas] o movimento não estar aqui. Eu até acredito que é um incentivo para que as pessoas mudem através da cultura”, afirma Júlia Silvestre.

Marcus Querido também destaca que o movimento tomou grandes proporções com o uso de equipamentos de som e iluminação e por isso devem se legalizar e seguir algumas normas determinadas pela Prefeitura.

 

Grupos como o Terça Sinfonia (fotos) usam a praça como espaço para eventos culturais e artísticos

Grupos como o Terça Sinfonia (fotos) usam a praça como espaço para eventos culturais e artísticos

 

Policiamento

De acordo com os organizadores do Terça Sinfonia, não há policiamento na praça. “É raro. Este ano quase nem apareceram aqui durante os eventos”, afirma Júlia. Segundo os artistas, eles já foram à delegacia várias vezes com o alvará para pedir a presença da policia, mas não foram atendidos. “A gente precisa de polícia aqui até para garantir a segurança de quem vem aqui”, afirma Leonardo Peres, um dos organizadores.

Comerciantes da região confirmaram que raramente aparecem policiais no local.

“Não temos condições de manter no local uma viatura policial 24 horas por dia. A pessoas que praticam esses atos [ilícitos] não o fazem enquanto estamos lá. Nós vistoriamos, fiscalizamos, mas na hora que a Prefeitura vai embora, eles voltam”, ressalta Marcus Querido. Segundo ele, diariamente há presenç ade policiais da Atividade Delegada, de Guardas Municipais, além de viaturas do programa municipal `Crack, é possível vencer`. “Temos que ressaltar que há uma base da Policia Militar na rodoviária e quem se sentir ameaçado pode ir até a base e acionar a policia”.

 

Audiência

Na quarta, 12, está agendada uma audiência pública na Câmara Municipal para debater a retirada dos cabos de energia na Praça. Representantes da Prefeitura e dos movimentos culturais estarão presentes.

“Eu acredito que o evento cultural inibe um pouco as práticas de tráfico e de prostituição. A maioria que vem aqui [na Praça] vem pra aproveitar porque é um ponto de entretenimento”, afirma Leonardo Peres