A insistência em descrever o nazismo como ideologia de esquerda mostra que Bolsonaro cultiva uma relação peculiar com a realidade. Se os fatos o contrariam, pior para os fatos

          Jair Bolsonaro cultiva uma relação peculiar com a realidade. Ele não admite contestação, mesmo quando é desmentido com argumentos irrefutáveis.

Se os fatos o contrariam, pior para os fatos.

Na segunda-feira, o presidente atacou o IBGE. Motivo: o instituto revelou que o desemprego voltou a subir. Em vez de encarar o problema, Bolsonaro reclamou da estatística. “Parecem índices que são feitos para enganar a população ”, esbravejou.

Brazilian President Jair Bolsonaro (L) and Israeli Prime Minister Benjamin Netanyahu touch the Western wall, the holiest site where Jews can pray, in the Old City of  Jerusalem on April 1, 2019. - Bolsonaro arrived in Israel just ahead of the country's polls in which his ally Prime Minister Benjamin Netanyahu faces a tough re-election fight. (Photo by Menahem KAHANA / POOL / AFP)

 Jair Bolsonaro no muro das lamentações e Benjamin Netanyahu, em campanha eleitoral  em Israel

A pesquisa seguiu parâmetros internacionais, mas foi descartada por não confirmar a propaganda .“Fui muito criticado e volto a repetir: não interessam as críticas. Eu te nhoque falar a verdade ”, prosseguiu o presidente. Ele deu as declarações numa data sugestiva: 1º de abril.

Ontem Bolsonaro resolveu esticar o Dia da Mentira. Em Israel, embarcou no delírio do chanceler Ernesto Araújo e disseque o nazismo foi uma ideologia de esquerda .“Não há dúvida, né? Partido Socialista… Como é que é? Partido Nacional-Socialista da Alemanha ”.

O presidente despejou o besteirol em visita ao Yad Vashem, museu que lembra as vítimas do Holocausto. A instituição informa aos visitantes que o nazismo foi uma das expressões do “crescimento de grupos radicais de direita na Alemanha”. Se não leu os livros escolares, Bolsonaro poderia ter consultado as plaquinhas.

É consenso entre historiadores que o nazismo foi um movimento de extrema direita. O primeiro campo de concentração, em Dachau, foi inaugurado com o envio de comunistas e socialistas. Só depois recebeu judeus, ciganos e homossexuais.

Ernesto e Olavo de Carvalho

Ernesto Araújo (D) foi aluno de Olavo de Carvalho que o indicou para a Chancelaria

          A insistência em negar os fatos tem espantado a comunidade internacional. “Nunca ouvi uma voz séria na Alemanha argumentando que o nazismo foi um movimento de esquerda”, disse em setembro o embaixador alemão no Brasil, Georg Witschel.

Na semana passada, a emissora pública Deutsche Welle resumiu a falsa polêmica com sete palavras: “O absurdo virou discurso oficial em Brasília”. A Alemanha zela pela verdade histórica para que seu passado sombrio não se repita. Quando o Planalto exalta golpes e ditaduras, o Brasil toma o caminho oposto.