Gestão Ortiz Júnior (PSDB) não sabe sequer copiar projeto paulistano batizado de parklets, que se expande em alguns badalados bairros da capital, e elegeu  Quiririm como cobaia construindo bancos de alvenaria nas calçadas sem consultar o que os moradores pensam sobre essas obras

 

Uma obra inacabada de reforma iniciada no início do ano no distrito de Quiririm talvez seja a amostra perfeita do que é a gestão Ortiz Júnior à frente da prefeitura: abandonada e inacabada. Em maio, CONTATO registrou o início do que seria a revitalização iniciada após o carnaval (você pode conferir AQUI). Obra tipicamente eleitoreira. Seis meses depois continuava parada, ou generosamente devagar quase parando.

Além da demora para a finalização da reforma, o que chama a atenção é o descontentamento dos moradores com a “nova Quiririm”. Insatisfeitos, afirmam que as melhorias pioraram o local.

 

 

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Parklets

A insatisfação maior dos moradores tem origem nos bancos de alvenaria que estão sendo construídos nas calçadas das principais vias do distrito. Em implantação desde o início das obras, eles ainda não foram finalizados. Comparados com “caixões”, as calçadas foram alargadas para abrigar os bancos. “Eu achei feio. O certo seria virado para a rua e eles fizeram ao contrário. Está de costa para rua. No caso da festa [italiana], a pessoa vai sentar de costa pra festa”, opinou a moradora Valquíria Carneiro.

O projeto de revitalização do Quiririm é uma cópia malfeita do que acontece em badalados bairros de São Paulo. Quem conhece a capital paulista, certamente já deve ter visto um parklet, muito comum na Vila Madalena, zona oeste da capital paulista. Espaços que seriam ocupados por dois carros são transformados em área de descanso e confraternização na frente de bares e lojas por frequentadores dos estabelecimentos ou transeuntes.

Os parklets,  um trocadilho com palavras inglesas “parking” (estacionar) e “park”, que significa parque, foi bem recebido tanto pela vida noturna paulista como jovens  e pessoas mais velhas que aprovaram esse novo modelo arquitetônico. Parklets se consolidaram como pequenas áreas de convívio para os pedestres no meio da rua.

 

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Cobaia

Os moradores de Quiririm mostram-se insatisfeito com a imitação dos parklets paulistanos. E com toda a razão. As discrepâncias com o original começam no seu financiamento.

Na capital, os parques são custeados totalmente pelo poder privado. As empresas compram a madeira para a construção da pequena área e ficam encarregados por toda a instalação. O retorno desse investimento vem do aluguel de espaço publicitário para divulgação da marca e produtos dos patrocinadores. Em Taubaté/Quiririm, o projeto está sendo bancado integralmente com dinheiro público.

A reforma de Quiririm orçada em  R$ 3.246.000,00 deverá ser custeada por um convênio entre a Prefeitura e o Governo do Estado (Fundo Estadual de Defesa dos Interesses Difusos – FID). Ou seja, diferente de São Paulo em que a Prefeitura e o Governo do Estado não custeiam nada, em Taubaté os parklets são implantados com dinheiro público. A empresa contratada é a Elefe Construtora e Incorporadora da cidade de Jacareí.

Além disso, em São Paulo, os parklets são feitos de madeira de reflorestamento e outros materiais renováveis, provisórios e, principalmente, de rápida montagem ou desmontagem. No Quiririm, serão construídos de alvenaria de concreto e tijolo. Esses pequenos enormes detalhes alteram todo o projeto original que prevê o uso de material temporário e sustentável.

 

Parklet na Rua Fidalga na Vila Madalena. O espaço é ponto de encontro dos jovens.

Parklet na Rua Fidalga na Vila Madalena. O espaço é ponto de encontro dos jovens.

 

O objetivo dos parklets é destinar aos pedestres o espaço que era dos carros aos pedestres. Todos esses conceitos foram quebrados em Quiririm.

Vicentina Ferreira, que vive há mais de 60 anos naquele distrito, ressaltou que a prefeitura aumentou o tamanho das calçadas o que muitas vezes atrapalha os próprios pedestres que passam por ali. “Eu já não enxergo bem e agora tenho que passar com muito cuidado pela calçada”.

Outro grande problema é localização dos bancos já que alguns deles ficam de frente para casas. Imagine a sensação de se defrontar com estranhos ao abrir a porta ou a janela de sua casa. No mínimo, é muito inconveniente, além de acabar com a privacidade. Na capital paulista, os parklets são instalados apenas na frente de estabelecimentos comerciais.

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Em São Paulo, os parklets são de madeira

 

É impossível não fazer comparações com São Paulo ao perceber tantas falhas.

 

Prefeitura

De acordo com a prefeitura, a revitalização de Quiririm foi feita pensando no bem estar dos moradores. “Dar nova qualidade a estes espaços públicos a fim de melhorar a qualidade da experiência dos moradores, visitantes e comerciantes, criando um ambiente mais atraente, agradável, acessível e seguro para o pedestre”, afirmou em nota.

A prefeitura ressaltou também que a prioridade das obras é o trânsito local. “O objetivo é reduzir o impacto negativo dos veículos motorizados, sem eliminar o tráfego local, através de soluções para diminuir seu fluxo e moderar suas velocidades, com a adoção de cruzamentos elevados, pavimentação diferenciada com blocos intertravados, a fim de ampliar o sentimento de segurança, acessibilidade e favorecer a apropriação da rua como uma ciclo-rota”.

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Porém, os moradores ressaltam que o trânsito só tem piorado no bairro. “As lombadas estão horríveis para passar. Tem um desnível que atrapalha muito. Quando você vai passar com o carro, ele bate no chão por causa disso”, explicou a moradora Valquíria Carneiro.

A prefeitura ressaltou que “todas as intervenções foram discutidas com a comunidade através de reuniões com a Secretaria de Planejamento para apresentação do projeto, antes do início das obras, inclusive, sobre a implantação dos bancos”. Já os moradores afirmam que o projeto apresentado era totalmente diferente do que está sendo realizado.

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Subprefeito

Durante o governo Ortiz Júnior, Quiririm ficou sem um subprefeito que sempre era indicado pelo prefeito em exercício. A função de um subprefeito é auxiliar a administração e informar as demandas e necessidades da região onde atua.

Na capital paulista, a escolha de um subprefeito exige um longo processo de debate com os moradores e os movimentos sociais organizados.