Os oito anos de Roberto Peixoto à frente da Prefeitura foram marcados pelo seu distanciamento com a realidade; apesar das diferenças abissais, o prefeito Ortiz Júnior parece caminhar pela mesma trilha. Seria uma maldição palaciana?

 

Prefeito Ortiz Jr (PSDB) tem revelado sintomas de autismo político, embora se esforce para manter as aparências. A sessão da Câmara de terça-feira 10, que não aprovou a criação de mais 11 cargos de confiança, foi a última manifestação explícita desse mal que assola o Palácio do Bom Conselho. Um tropeço político que deixa claro o total descompasso existente entre os poderes Executivo e Legislativo.

            A intervenção da vereadora Pollyana (PPS) abriu a porteira para as críticas. “O prefeito tem dado prioridade acentuada para cargos de confiança”. Em seguida questionou se aquele projeto visava resolver a situação de Antonieta Ito contratada como diretora de Cultura, mas que presta serviço junto à secretaria da Educação como diretora do departamento de Cultura.

E foi além ao revelar que o feitiço pode virar contra o feiticeiro. Pollyana se referia ao marido de Antonieta, o escultor Fernando Ito, que na gestão anterior teria liderado manifestações contra os vereadores. “Recebi quatro telefonemas criticando essa proposta do prefeito por causa disso”, afirmou a vereadora.

            Vereador Jeferson Campos (PV), da base governista, pegou a deixa e tascou: “Se é diretora da Cultura, tem de ficar lá. Se não tem competência, vai embora. Simples assim”. Carlos Peixoto (PMDB), presidente da Casa, emendou: “[O Ito] que fazia ratoeira, pizza, pode perfeitamente arrumar óleo de peroba para passar na cara”.

Pollyana retomou a palavra e reforçou os ataques a Ito: “Quando iniciamos nosso mandato, esse senhor (Ito) me destratou no saguão da Câmara, como se eu pudesse efetivar todos os celetistas [da Educação], inclusive a mulher dele. Nossa maior luta era pela realização de concurso público, para que [os professores] pudessem se contratados dentro da legalidade”.

            Fernando Ito defendeu-se em declaração à nossa reportagem. “Hoje sou governo. Sou amigo pessoal do prefeito. Basta ver o trabalho da Antonieta, como o Palavra Cantada que reuniu cerca de 15 mil pessoas. [No evento] Não ocorreu nenhum problema. Ela é responsável por toda atividade da Educação ligada à Cultura. Pollyana, Jeferson, Carlão? Quem são esses caras. Veja a história deles”.

            Em seguida Ito partiu para o ataque. “Nunca precisei dos governos federal, estadual e municipal para sobreviver. Meu passado é limpo. Nunca fui julgado. O Carlão já. Jeferson foi o cara que mais ajudei. Levei-o ao Ministério Público Federal, à Polícia Federal para apurar denúncias. Pollyana trabalhou no governo de Peixoto. Tomou conta da Saúde, onde deram os maiores pepinos”.  E arrematou: “Eles são covardes quando falam da tribuna sem direito a resposta. Óleo de peroba é uma das coisas que mais uso para passar na madeira de minhas esculturas”.