Tenente-coronel Mauro Cid é o principal ajudante de ordens do presidente Jair Bolsonaro

Manchete do jornal Folha de S. Paulo de hoje, 27 de setembro de 2022, a 5 dias da realização do primeiro turno das eleições nacionais: “PF vê transações suspeitas em gabinete de Bolsonaro”. Eis a razão para nomear esse artigo com o provérbio “o uso do cachimbo faz a boca torta”. Por uma razão muito simples: o provérbio procura descrever as pessoas que, de tanto fazer a mesma coisa, acabam incorporando esse costume ao seu jeito de ser, falar, pensar e agir. Porém, quando praticado de forma sediciosa por uma autoridade é um crime que se agrava ainda mais quando envolve recursos públicos.

Na família presidencial, a rachadinha foi incorporada no século passado, depois que o capitão foi afastado do Exército por preparar atos de terrorismo contra unidades da própria corporação. O Supremo Tribunal Militar salvou sua pele depois de condenado pela primeira instância jurídica e pelo Conselho de Justificação do Exército. Fato que o levou a procurar na política a sua sobrevivência a partir de 1988.

Bolsonaro com o tenente-coronel Cid (de farda), em Nova York

Eleito vereador, deputado estadual e federal aprendeu rapidamente as mutretas que marcam os chamados políticos profissionais. Uma dessas mutretas é a chamada rachadinha, que foi naturalizada no meio político. Trata-se de exigir que seus funcionários – incluindo os fantasmas – devolvam integral ou parcialmente o salário que recebem.

O capitão, vereador e deputado, aprendeu rapidamente a ponto de passar esse conhecimento para seus três filhos mais velhos. E de quebra, apresentou-lhes um assessor que se transformou no operador dessa atividade ilegal. Esse assunto pautou a grande imprensa durante todo o mandato do presidente. Mas as apurações sempre foram suspensas.

A Folha de hoje, a cinco dias do primeiro turno eleitoral, informa que a Polícia Federal (PF) encontrou no telefone do principal ajudante de ordens de Bolsonaro mensagens que levantaram suspeitas sobre operações financeiras feitas no Gabinete do presidente da República. Apesar das negativas apresentadas pelo gabinete presidencial, a PF analisa mensagens de texto, áudios e fotos no celular do tenente-coronel do Exército Mauro Cesar Barbosa Cid, o principal assessor do presidente.

Tia da primeira-dama, uma das beneficiadas

Alexandre de Moraes, ministro do STF e presidente do TSE, já autorizou a quebra do sigilo bancário do tenente-coronel. Era de sua conta que saíram os pagamentos das contas da família presidencial, e também de pessoas próximas da primeira-dama Michelle Bolsonaro.

Tenente-coronel Mauro Cid, segundo a Folha, teria afirmado que a escolha do pagamento por meio de saques e depósitos para uma tia de Michelle se deu por razões de segurança. Nesse mesmo sentido, a assessoria do gabinete presidencial informou que “Cid não fazia transferência de conta a conta. Ele sacava o dinheiro para a conta do presidente não ficar exposta, com o nome dele no extrato de outra pessoa”.

É um assunto que dará muito pano para as mangas depois das eleições e um bom assunto para animar o debate de quinta (29) na Globo.