Militares costumam ser filhos de militares, netos de militares e pais de militares. Estudam em colégios militares, moram em vilas militares, frequentam clubes militares, casam-se com filhas de militares e comparecem às mesmas cerimônias militares. Ouvem a mesma música militar, assistem aos mesmos desfiles militares e absorvem os mesmos discursos militares. A Vila Militar, bairro da zona oeste onde moram 6.000 militares aqui no Rio, fortemente guardado, é um oásis. Há anos não tem um tiroteio. Anda-se por suas ruas a qualquer hora. Que bom.

Os militares se acham melhores do que nós, os paisanos. E devem ser mesmo. Têm crédito imobiliário próprio, direito à aposentadoria mais cedo e sistemas especiais de educação e saúde. Têm também uma Justiça exclusiva para se julgarem uns aos outros, o que lhes faculta infringir suas próprias regras, uma delas a proibição de militares da ativa de fazerem declarações políticas. É proibido, mas fazem. Militares jamais reconhecem que erraram. Qualquer crítica a eles é vista como revanchismo.

Como disse um general: “Todos os militares têm a mesma estrutura mental, o que os leva a, diante de um impulso, reagirem de forma padronizada. Os civis não. Cada um vê o problema por um ângulo diverso.” Está vendo? Somos um caos, vemos os problemas por ângulos diversos.

Os militares acreditam que o artigo 142 da Constituição faz deles o poder moderador da República, donos da última palavra. Daí que, na composição de um ministério por um novo presidente, todo cuidado é pouco. A escolha de um ministro da Defesa tem de ser feita na ponta dos pés para não desagradá-los. E só deve ser nomeado depois de aprovado por eles. Enfim, nada de atiçar as fardas.

Aprendi tudo isso sobre os militares no excepcional livro “Poder Camuflado”, de Fabio Victor, recém-lançado. Os militares também deviam lê-lo, para aprender sobre os militares.