O bolsonarismo cultua as armas e odeia os artistas. Agora o que restou do Ministério da Cultura será entregue ao bolsonarista que insultou Fernanda Montenegro

‘Quando ouço falar em cultura, saco meu revólver”. A frase foi escrita por Hanns Johst, dramaturgo alinhado ao regime nazista. Apareceu na peça “Schlageter”, encenada pela primeira vez no dia do 44º aniversário do führer.

O bolsonarismo não chegou ao ponto de atirar em artistas, mas também cultua armas e odeia a cultura. Sua relação com o setor é baseada na raiva e no ressentimento. O presidente busca o confronto permanente com músicos, escritores e atores que não se curvam à sua visão de mundo.

Hanns Johst

Hanns Johst, dramaturgo alinhado ao regime nazista

No primeiro dia de governo, Bolsonaro extinguiu o Ministério da Cultura. Em seguida, asfixiou o financiamento de filmes e espetáculos. Entre uma coisa e outra, promoveu o aparelhamento de instituições como a Funarte e a Casa de Rui Barbosa, transformada em playground de um pastor aliado.

Para ostentar seu desprezo pelos artistas, o presidente ignorou as mortes de Bibi Ferreira e João Gilberto. Para escancarar seu caráter mesquinho, recusou-se a assinar o diploma do Prêmio Camões que será entregue a Chico Buarque.

A escalada de provocações acaba de alcançar um novo patamar. Sem qualquer debate prévio, Bolsonaro editou um decreto que submete a Secretaria de Cultura ao Ministério do Turismo. A pasta é chefiada por Marcelo Álvaro Antônio, acusado de comandar o laranjal do PSL em Minas Gerais.

bibi-ferreira

Faleceram este ano  a inigualável Bibi Ferreira e o gênio João Gilberto

À tarde, o Planalto anunciou o novo titular da secretaria. É o diretor teatral Roberto Alvim (foto na abertura), que conquistou o presidente ao ofender Fernanda Montenegro. O valentão insultou a maior atriz brasileira às vésperas de seus 90 anos. “A classe artística deve ficar feliz aí”, debochou ontem o capitão.

Discípulo de Olavo de Carvalho, o secretário prega abertamente o uso do Estado como arma de guerra ideológica. Em processo que corre na Justiça do Rio, disse estar formando “um exército de grandes artistas espiritualmente comprometidos com nosso presidente e seus ideais”. Agora ele terá arsenal renovado para venerar o chefe.