São abissais as diferenças entre as três diferentes versões de Lula como presidente

No início desse século quando assumiu a versão Lula 1.0 mais conhecida como Lulinha Paz a Amor, o presidente era bem mais modesto. Na época, reconhecia suas limitações de ser humano e descartava qualquer vínculo com divindades. Enfim, um desempenho natural.

A versão Lula 3.0 tem um piloto desgovernado que acredita ser um gênio recém-saído de uma lâmpada mágica. Não tem mais nada a aprender. Sabe tudo. Logo, só sabe ensinar. Foi a Washington ensinar Biden que “temos de criar uma governança global sobre o meio ambiente”. E reafirmou que está disposto a colaborar. O que não lhe falta é generosidade. Muito menos humildade.

Revista Veja traz entrevista com o novo chanceler Mauro Vieira, diplomata de carreira muito competente que afirma “Saímos de cima do muro” e que “o Brasil defende claramente a Ucrânia no conflito com a Rússia”. Nos EUA, porém, Lula 3.0 afirmou ao vivo que a Rússia errou ao invadir a Ucrânia (que Biden queria ouvir), mas o Brasil não vai entrar nessa guerra e se colocou à disposição para intermediar acordos de paz. Ele já havia dito que “quando um não quer dois não brigam”. Ou seja, o chanceler Mauro Vieira tem muito a aprender com essa nova versão do presidente.

O profissional Chanceler Mauro Vieira deveria ouvir Lula para a política externa

Saindo da estratosfera e voltando à terrinha onde as questões são mais palpáveis, o conhecimento presidencial não tem limites. Politicamente, assumiu posições que foram negadas ao longo de toda a campanha eleitoral quando atacou frontalmente o presidente da “Câmara formada por parlamentares submissos no pior Congresso da história”. De repente, quem diria, apoiou a reeleição de Lira com o apoio do Planalto e do PT. Sinal da evolução política da versão 3.0.

A maior evolução, porém, foi em economia. Hoje ele sabe absolutamente tudo. Depois de pintar velhos projetos com novas cores, investiu contra as regras estabelecidas, por exemplo, em pelo menos dois pontos: a independência do Banco Central e a recém-eleita diretoria do Sebrae. As duas instituições, uma pública e a outra privada, possuem diretorias com mandatos pré-definidos.

No caso do Sebrae, o presidente escalou ninguém menos que Paulo Okamotto para tentar expulsar Carlos Melles da presidência. Okamotto é um velho conhecido bate-pau de Lula desde o Sindicato dos Metalúrgicos que sente saudade do poder (orçamento de R$ 4,5 bi) e das mordomias (salário de 6 dígitos) do Sebrae de outras versões do governo Lula. Por isso mesmo, Okamotto tem usado a truculência que sempre fez parte de seu perfil (eu quase fui uma das vítimas) para pressionar a CNI (Confederação Nacional da Indústria) para alterar as regras e escantear Carlos Melles que tem mandato até 2026.

Paulo Okamotto não consegue conter sua truculência

No Banco Central, Lula 3.0 entra direta e pessoalmente em cena para ensinar seu presidente Roberto Campos Neto como se faz política monetária. Por ser um tema árido para os menos entendidos, a versão 3.0 tenta impor na marra a redução das taxas de juro. Fala tanto besteirol, e às vezes até lê as bobagens redigidas por sua assessoria, que um simples cidadão fica convencido. Um novo tipo de cercadinho. Interpreta irresponsavelmente as recomendações do Conselho Monetário Nacional como fossem produzidas por uma única pessoa. Fala das taxas de juros (política monetária) mas não faz qualquer referência aos gastos (política fiscal) que constam da ata.

Lula confunde Campos Neto, presidente do BC, com o COPOM

Resumindo, a versão 3.0 é uma cópia piorada da versão 1.0. Economicamente, a definição da economista Elena Landau é pertinente: “Simone Tebet e Fernando Haddad são uma ilha de racionalidade em meio ao ‘terraplanismo econômico’ que domina os assessores de Lula”.

Politicamente, sua versão 3.0 nada mudou. Depois de prometer mundos e fundos aos aliados que o ajudaram a vencer as eleições, a presidente do PT anuncia que o partido não vai ceder mais espaço no governo, defende a reeleição de Lula e que não há como atrair novos aliados sem negociação de ministérios.

Nenhuma novidade. Nenhuma palavra sobre corrupção.

É a versão Lula 3.0