Ser corinthiano é para os fortes que mergulham fundo no mar da paixão e aceitam o risco das derrotas, que contagia milhões de “loucos” que têm o compromisso ilógico dos guerreiros que, se caem, se levantam para eternos recomeços
A semana prometia emoções intensas: na agenda, uma homenagem organizada por meus ex-alunos na USP. Preparei cuidadosamente meu discurso, mas, próximo da data, busquei distrações para lidar com a ansiedade. Então, meu filho sugeriu irmos ao estádio em Itaquera ver meu Corinthians enfrentar o Palmeiras. Minha taça de emoções transbordou. Já no primeiro dos dois gols, chorei, gritei, pulei, e saí leve. Leve, mas questionando o significado de ser “maloqueiro, corinthiano, sofredor”. Seria masoquismo?
Ser corinthiano é para os fortes, pessoas que mergulham fundo no mar da paixão e aceitam o risco das derrotas. Esse sentimento ultrapassa o pessoal; é uma experiência comunitária, que contagia milhões de “loucos”. Loucura é, aliás, uma palavra que ressignifica o compromisso ilógico dos guerreiros que, se caem, se levantam para eternos recomeços.
Vamos traduzir isso para o momento atual: à beira do rebaixamento, enfrentamos o poderoso Palmeiras. Contra qualquer adversário, a Fiel estaria fervendo, mas, dessa vez, os 46 mil torcedores pareciam reencarnar todos nossos antepassados, justificando o mote “eternamente em nossos corações”. E lá estava o Palmeiras, disputando a liderança e almejando o topo. Nem ligamos para isso. Olhamos o arquirrival e mostramos a língua. Vencer o Palmeiras não era só questão de tabela; era reafirmar nosso DNA de resistência. Não importa quantas estatísticas nos deem como desfavorecidos ou quantos críticos digam “não vai dar”. Deu!
Outros torcedores talvez nunca compreendam o que isso significa. Dispensamos essa compreensão porque, quando o time entra em campo com o apoio da Fiel, qualquer coisa pode acontecer. Por isso, somos o “time do povo” – operários, imigrantes, marginalizados e simpatizantes dos subalternos, um coletivo que sempre transforma dificuldades em força. Quando gritamos “Vai, Corinthians!”, estamos torcendo por nós mesmos, por essa gente que enfrenta tudo e não se deixa abater.
Mestre Sebe não vacilou e foi para a templo assistir seu time jogar
Sim, o rebaixamento é uma ameaça. Mas, como bons corinthianos, sabemos que, mesmo caindo, a torcida lota estádios, faz festa, como se fosse final de campeonato. Enquanto houver uma chance, nós acreditamos. Cada vitória é uma pequena revolução reafirmando nosso espírito de luta. E vencer o Palmeiras – ah, vencer o Palmeiras sem gol algum é música para dançar.
Não é apenas pelo resultado. Vencer um clássico, numa situação dessas, é uma lição de resiliência, um lembrete de que não estamos sozinhos. Há uma multidão que acredita junto, sofre junto e, ao final, comemora junto. Isso marca o Corinthians: a capacidade de transformar dor em festa, de ver o time balançar, mas nunca cair de verdade, porque, enquanto houver um corinthiano, haverá esperança, mesmo que seja no último instante.
Quando o juiz apita o fim do jogo e os jogadores vêm em direção à torcida, a emoção toma conta. Somos mais do que vencedores de um jogo; somos guerreiros que, por um momento, desafiaram as probabilidades e se ergueram acima delas. Não importa a tabela, não importa quantos pontos ainda precisemos para escapar do rebaixamento – por uma noite, fomos gigantes e vencemos.
Ser corinthiano é isso. É sentir uma alegria que não cabe em explicações lógicas, uma paixão que desafia a razão. Aconteça o que acontecer, sempre temos aquele gol redentor, aquela defesa salvadora, aquele momento em que tudo parece parar e só existe a alegria de ser Corinthians.
Ah, a homenagem dos alunos foi uma festa inesquecível… como a vitória sobre os sem mundial!