Há quatro anos vereador Digão era da base do prefeito; hoje um adversário político

O tempo passa. As gerações mudam. Mas tem certos valores e costumes que parecem enraizados. Fazem parte do DNA. O caso mais recente é a pré-seleção de candidatos nessa terra de Lobato. Gabriel Pinelli distribuiu um post em que começa dizendo: “Levei uma facada. Fui apunhalado pelas costas.”

Pinelli seria o candidato a prefeito pelo partido Avante. Até onde eu sei, estava tudo certo. Tudo aponta para o Palácio do Bom Conselho e acordos misteriosos que fizeram a direção estadual do partido impedir que Pinelli fosse o candidato do Avante. O jovem funileiro do qual sou cliente é ou seria candidato a vereador. E tudo ocorreu aos 45 minutos do segundo tempo. Tudo indica que o motivo foi o bom desempenho de Pinelli nas pesquisas eleitorais.

Ortiz Júnior acabou com a candidatura de Pinelli pelo Avante

Não há mais condições de batalhar por uma outra legenda. É um repeteco de uma velha prática desenvolvida pelo patriarca que governou a terra de Lobato por 14 anos. E radicalizada quando se trata de um adversário, um inimigo.

Ortiz Júnior é o filho mais velho dos três varões que compõem a família. A prole ainda é enriquecida pela irmã Patrícia especializada em ensino a distância (EAD). Júnior foi treinado pelo pai, Bernardo. E como! E os irmãos comem em sua mão.

A primeira orientação que o pai deve ter transmitido para o filho foi não confiar naqueles que o cercam. E como exemplo ele tinha um arsenal preparados: todos os seus sucessores foram acusados de traição e chamados de Iscariotes, aquele que traiu Jesus. São eles: Salvador Khuriyhe, de 1989 a 1992; Antônio Mário Ortiz Mattos, de 1997 a 2000; e Roberto Peixoto, de 2005 a 2012.

Bernardo Ortiz, o Velho, é o orientador do filho, atual prefeito

Mais da metade de seus 46 anos Ortiz Júnior passou nos corredores da Prefeitura de Taubaté ou no seu entorno. Sempre incentivado por seu pai. Até o momento que sua presença ostensiva dentro da FDE – Fundação para o Desenvolvimento da Educação chamou a atenção. A relação da fundação – “comandada” por Ortiz Júnior – com fornecedores tinha se transformado em  um escândalo.

O Ministério Público entrou em ação. Feita a apuração dos fatos, no dia da eleição o promotor Antônio Carlos Ozório Nunes entrou com uma representação contra Ortiz Júnior cinco minutos após o encerramento das eleições. E aí começou o drama que só não foi concluído porque os principais personagens sãos os mesmos que continuam nas altas esferas jurídicas em Brasília (STF, STJ e TSE).

Um exemplo bastante didático, na minha opinião. Ortiz foi rejulgado em 2016 pelo TSE, quando já estava condenado em três instâncias. Presidente do corte eleitoral na época era o impoluto Gilmar Mendes. Antes disso, o processo permaneceu engavetado no STJ por mais de três anos, quando o relator erar João Noronha.

Lágrimas de crocodilo diante do “milagre” que o manteve na prefeitura

O escândalo foi tão chocante que o ministro Herman Benjamin, do STJ, que fazia parte do TSE, afirmou e consta em ata que aquela decisão (rejulgar) era uma “aberração jurídica”. Ortiz Júnior foi eleito e a única pessoa que poderia questionar na Justiça preferiu fazer um acordo com o então governador Geraldo Alckmin.

A grande escola para o atual prefeito foi a FDE, onde foi produzida a maior parte das provas utilizadas pelo promotor João Ozório. Por exemplo: Ortiz Jr não era funcionário da FDE, mas agia como se presidente fosse; participava das negociações com os fornecedores e por aí vai. É uma longa história.

Quando ouço o lamento/protesto do ex-quase candidato Gabriel Pinelli pelo Avante, fico a imaginar que a “facada pelas costas” deve provocar risos sarcásticos no Palácio do Bom Conselho e alegres e felizes brindes no sítio da estrada de Quiririm.

Mais triste, porém, é verificar que ainda tem gente pensante que enxerga essa barbaridade como uma coisa normal. E tentam reduzir a corajosa reação de um cidadão que, sentindo-se traído, torna público seu descontentamento que na verdade é uma gravíssima denúncia.

Para quem tem QI cima de zero e ainda consegue refletir sobre o mundo em que nos encontramos, o episódio que envolveu Pinelli e seus seguidores é extremamente revelador sobre o baixíssimo nível dos partidos políticos. Da vida política partidária..

Acredito que a política é o caminho mais civilizado para enfrentarmos os desafios que estão à nossa frente. Mas não deixa de ser um quadro desolador!