No próximo ano tem eleição para prefeitos e vereadores. Falta muito tempo, mas me lembrei de um vereador do passado que eu votaria com gosto, o jornalista e humorista Aparício Torelly, que usava o pseudônimo Barão de Itararé. Era gaúcho, mas morava no Rio de Janeiro quando resolveu se candidatar a vereador pelo Partido Comunista, em 1947.

Era um tempo que tinha muita falta d’água e de leite no Rio, e diziam que os vendedores misturavam água no leite. Como grande gozador, o Barão tinha um lema: “Mais água e mais leite, mas menos água no leite”.

Foi eleito com uma boa votação e se revelou um vereador dos mais combativos, defensor de causas populares, como o voto para os analfabetos; e denunciou a situação dos índios, que eram roubados, usurpados de suas terras.

Mas não era careta. Seus discursos eram sempre cheios de humor.

As sessões da Câmara Municipal eram transmitidas ao vivo por uma emissora de rádio. E quando o Barão discursava, todo mundo parava para ouvir. Lavadeiras paravam seu trabalho, pedreiros também…

Segundo Luiz Carlos Prestes, até moradoras de favelas paravam de ouvir novelas de rádio para ouvir o Barão. Era uma diversão ouvir os discursos dele, que gozavam os vereadores ruins, como muitos direitistas bestas que vemos não só nas câmaras municipais. Até hoje tem muitos vereadores assim, e até mais. E também deputados estaduais e federais e senadores bestas mais graduados.

Numa discussão da Câmara de Vereadores sobre a política econômica, um dos parlamentares perguntou se alguém sabia qual era a posição do senador governista Filinto Müller, que foi chefe de polícia dos mais sangrentos na ditadura getulista, e era muito influente no governo Dutra. O Barão lhe informou:

“Eu sei, é três dedos abaixo do rabo do cachorro”.

Acontece que o presidente Dutra era submisso aos Estados Unidos e, com uma base parlamentar direitista, cancelou o registro do Partido Comunista. Assim, todos os parlamentares desse partido foram cassados, perderam seus mandatos. Entre eles, o Barão de Itararé, que discursou pela última vez na tribuna da Câmara:

“Saio da vida pública para entrar na privada”.

Segundo consta, ele fez isso mesmo: saiu da tribuna e foi direto para o banheiro. Depois, saiu gritando frases gozadoras e pegou três meses de cadeia.