Bolsonaro faz salamaleques para Pazuello em Manaus na sexta-feira, 23: medo do que ele pode falar na CPI do Senado?

Se eu fosse chargista faria uma ilustração com o ministro Paulo Guedes usando a cabeleira e as ropitchas de Zélia Cardosos de Mello, a poderosa ministra da Economia do então presidente Fernando Collor de Mello de triste lembrança. Zélia teve, entre outras coisas, a ideia de confiscar a poupança de todos – isso mesmo, todos – os brasileiros nos idos de 1990.

Paulo Guedes cortou os recursos do ministério da Saúde em 2021, no auge da pandemia que caminha de forma acelerada para a marca de meio milhão de mortos. Não satisfeito com as iniciativas mórbidas, reduziu os recursos do IBGE a ponto de impedir a pesquisa realizada a cada 10 anos. Os R$ 2 bi previstos foram reduzidos a R$ 50 milhões. Inviabilizou o censo programado e ninguém sabe se um dia ele será realizado. Danem-se estados e municípios. Danem-se as políticas públicas. Dane-se quem esperava ansiosamente por um retrato atual do Brasil. Dane-se quem esperava dados básicos para um diagnóstico minimamente confiável para decidir se investirá ou não nesse sofrido Brasil.

A cada dia que passa aumenta a semelhança entre Zélia e Paulo Guedes

Zélia foi minha colega de classe ne FEA USP em 1975 quando retornei à vida depois de mais de cinco vivendo às custas Justiça do Estado. A coleguinha não tinha qualquer expressão em uma turma que abrigava nomes como Pérsio Arida, Aloísio Mercadante, Leda Paulani entre muitos outros. Ninguém teria coragem de apostar que Zélia, 5 anos depois, comandaria a Economia. Seria chamado de louco quem o fizesse. A ex-ministra gostava de homens mais velhos. Em 1975 namorava um médico 20 e tantos anos mais velho. No governo Collor, viveu um tórrido romance com ministro da Justiça, Bernardo Cabral, bem mais velho. Finalmente, se enrabichou com Chico Anyzio, pai de seus filhos Victoria e Rodrigo de Paula.

Zélia Cardoso de Mello quando era a poderosa ministra da Economia

            Paulo Guedes é um alpinista social. Um Chicago old man com um currículo recheado de temperos que nunca fizeram parte da administração pública. Quando Bolsonaro o apresentou como seu Posto Ipiranga surgiu um vespeiro de críticas: ninguém do ramo conhecia texto, artigo ou tese do novo ministro da Economia. Livros? Nem pensar. Mas Guedes afirmava que tinha lido, entre muitos outros autores, quatro vezes JM Keynes no original, cuja teoria receita a intervenção do Estado na economia, como no período pós II Guerra. Os liberais o odeiam. Os nacionais estatistas o usam como Bíblia. Assim, Guedes conseguiu agradar o então candidato a presidente que precisava posar de liberal.

Zélia virou uma triste história e torce para ser esquecida no seu refúgio norte-americano. Está mais para folclore.

Alpinista liberal apelidado por Bolsonaro de Posto Ipiranga que resolve tudo

Guedes ainda é o liberal que sabe tudo. Só conjuga os verbos no tempo futuro. Todas suas promessas são construídas com números que usa como alicerce do que um dia será. Não importa se restam apenas 20 meses de governo, uma eleição daqui 17 meses e uma campanha eleitoral que já começou. Ele faz parte do mundo paralelo por onde circula seu chefe Bolsonaro. Pouco importa a realidade.

O presidente parou de repetir o mantra: “E conhecerão a verdade, e a verdade os libertará…” (João 8:32). Mentiu descaradamente para o mundo na Cúpula do Clima e nem ficou vermelho. Decidiu lançar o general seu ajudante de ordens às feras por ser o responsável pelas barbaridades cometidas no ministério da Saúde que capitão desconhecia. Mas a mentira foi oficialmente gravada e mostrada ao Brasil no cirquinho do Hospital Militar quando Pazuello afirmou ao vivo ao lado do presidente que “é simples assim: um manda e o outro obedece”. Na véspera, Bolsonaro desautorizou o então ministro, ao mandar cancelar o protocolo de intenções de compra de 46 milhões de doses da vacina CoronaVac, em uma reunião com governadores.

O ministro liberal usado como pelo presidente como cartão de visita

Até quando Pazuello resistirá? Permanecerá em silêncio? Para não correr riscos como esse, Bolsonaro faz salamaleques para o ex-ministro como prestigiá-lo em Manaus, sua cidade. Tal qual fez com Moro antes de defenestrá-lo do ministério da Justiça.

Será que Guedes suportará as humilhações e o ostracismo que o esperam na esquina do velório desse desgoverno? Como reagirá quando o presidente começar a prestigiá-lo mesmo sem motivo?

De tédio a gente não morre!