Artigo de hoje, quarta-feira, 09 de maio, do jornalista Elio Gaspari, veiculado nos jornais OGlobo e Folha de São Paulo aborda a corrupção e o assalto a recursos públicos praticados por partidos, autoridades, empresários e políticos de todos os naipes

            O assalto à Petrobras, aos fundos de pensão e outras fontes de recursos públicos não foi inventado por petistas. Quem conhece um pouco a origem e a composição de sua militância tem certeza. Pelo menos não fazia parte de suas propostas e programas que marcaram sua origem.

O assalto por empresários aos cofres da nação e a corrupção de seus agentes – funcionários e políticos – existem desde que a civilização superou a barbárie e deu um salto qualitativo na gestão do estado. Apesar da generalização dos maus costumes, a parte civilizada da sociedade insiste em combate-los. Haja fôlego!

O uso da violência se mostrou ineficaz como forma de combate. Exemplos podem ser encontrados na bíblia, na Coreia do Sul, na Europa, no Peru e por aí vai. Assim como o uso político da acusação por corrupção ou má gestão pública para denegrir os adversários. Apóstolo Paulo foi uma dessas vítimas.

paulo de tarso

Apóstolo Paulo, vítima de falta acusação de corrupção na Roma antiga

          Porém, ao contrário da antiga Roma, a imprensa mostrou que existe uma pletora de provas e testemunhos a respeito da petrorroubalheira e otras cositas mas. Basta um pequeno esforço da memória para colocar a história no seu devido lugar. E que cada um tire suas próprias conclusões.

Confira no texto abaixo Três cenas de ladroagens, sem PT, do jornalista Elio Gaspari.

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Três cenas de ladroagens, sem PT

          Desde 2014, quando uma pequena investigação bateu no doleiro Alberto Youssef e deu origem à Operação Lava-Jato, não se via coisa igual. Em menos de uma semana, explodiram três bombas no andar de cima. Diferentes entre si, deverão trazer consequências comparáveis às decisões do juiz Sergio Moro e ao povoamento das carceragens de Curitiba. Recapitulando-as:

Alberto Youssef

Doleiro Alberto Youssef foi quem abriu as portas para a Polícia Federal

          Na quarta-feira passada a polícia prendeu a nata dos operadores de câmbio paralelo nacional, encarcerando 33 doleiros. Mesmo sabendo-se que o maior deles, Dario Messer, está foragido, pode-se especular que pelo menos 20 eram muito maiores que Youssef. Se apenas cinco vierem a colaborar com a Justiça, caberão várias Lava-Jatos na Operação Câmbio, Desligo. Ela está na vara do juiz Marcelo Bretas, que já botou na cadeia o ex-governador Sérgio Cabral e a cúpula da sua “gestão modernizadora” do Rio.

Por precaução, papeleiros ilustres já estão se afastando do mercado. Alguns deles sobreviveram às operações Satiagraha e Castelo de Areia. Nos dois casos, a falta de cuidado de investigadores e procuradores permitiu que fossem atropelados pela cegueira da Justiça das cortes superiores. A equipe da Lava-Jato tirou a venda da Justiça, e deu no que deu.

Dario Messer

Doleiro dos doleiros Dario e seu falecido pai, o polonês Mordko Messer: negócio de pai para filho

          No domingo soube-se que, em março, o PM paulista Abel Queiroz, funcionário de uma empresa de carros-fortes, contou à Polícia Federal que foi pelo menos duas vezes entregar dinheiro no escritório do empresário José Yunes, bom amigo de Michel Temer, e seu assessor especial nos primeiros meses de governo. A PF acredita que esse ervanário valia R$ 1 milhão e saiu da Odebrecht.

No dia seguinte, outra novidade: autoridades suíças informaram que desde 2007 o engenheiro Paulo Vieira de Souza, o “Paulo Preto” do PSDB, transferiu US$ 34,4 milhões para bancos locais. O doutor abriu sua conta na Suíça 43 dias depois de ter sido nomeado diretor de engenharia da Dersa, a estatal de rodovias de São Paulo. Num episódio inusitado, a existência desse dinheiro foi revelada há meses pela própria defesa de “Paulo Preto”. Em 2010, quando seu nome foi associada a traficâncias no setor de transportes de São Paulo, ele disse que “não se larga um líder ferido na estrada a troco de nada, não cometam esse erro”. O estado é governado pelo tuca- nato desde 1995, e “Paulo Preto” está preso desde abril.

Uma eventual colaboração de doleiros ainda é matéria de especulação, mas os antecedentes permitem supor que algumas virão. Youssef foi uma peça vital para a Lava-Jato, e os irmãos Chebar fritaram Sérgio Cabral. O sinal mandado por “Paulo Preto” sugere que ele já não está a fim de ficar ferido na estrada.

A prisão dos doleiros terá efeitos multipartidários. De saída, ela bate em notáveis do PSDB e do PMDB. A revelação do PM que levava dinheiro ao escritório de Yunes flamba Temer e seu PMDB. Já a fortuna exportada por “Paulo Preto” vai ao coração do PSDB chique de São Paulo.

Dilma e Park Geun-hye

Dilma Roussef com Park Geun-hye, presidente da Coreia do Sul, em 2015, presa e condenada a 24 anos de prisão, em 2018

          Nessa sucessão de novidades ainda há mais: pela primeira vez desde que a Lava-Jato entrou nas petrorroubalheiras do PT, a rede caiu em cima de doutores que nada têm a ver com o comissariado. Pelo contrário, eram ilustres defensores da deposição de Dilma Rousseff em nome da moralidade pública. Quem foi para as ruas em 2016 deve se lembrar dessa esperança.

Em apenas cinco dias estouraram três denúncias, todas capazes de deixar a origem da Lava-Jato no chinelo

Elio Gaspari é jornalista