Estou no avião e a aeromoça solicita que todos fiquem sentados com seus cintos de segurança afivelados porque estamos passando por uma região de turbulência.

É realmente uma coisa meio constrangedora a viagem de avião porque a gente fica dentro da cápsula e sem nenhuma opção, a não ser olhar pela janela. E quando a região é de turbulência, o que se vê lá fora é a densidade branca acinzentada das nuvens.

Tudo na vida é um pouco assim. No trajeto, turbulências intercaladas com momentos de conforto.

O Brasil está nitidamente passando por uma região de desconforto que faz com que o camarada se afivele ao cinto de segurança com a energia de quem teme um horroroso solavanco. Em grandes altitudes os números impressionam.

Certa vez, a bordo de um desses bem grandes, caímos num vácuo impressionante. Na saída perguntei ao comandante de quantos metros tinha sido o tombo e ele me disse sorrindo:

— Duzentos metros… apenas!

Vamos sim passar por um período de grandes turbulências e vácuos, mas logo à frente as nuvens se dispersam e o pessoal recomeça com o serviço de bordo que, por sinal, nos vôos domésticos são bastante desinteressantes.

Viver a expectativa do pouso adiante excita o viajante que vai ficando ansioso para chegar. Tudo na vida é assim; a eterna expectativa da chegada, da conclusão, do desfecho…

O poeta Capinã tem uma frase linda que ele plantou num poema chamado “Clarisse” que Caetano Veloso musicou que diz:

“eu não tô indo m’imbora

tô preparando a hora

de voltar”…

Desejo sinceramente que o nosso País saia da turbulência e faça um bom pouso para que nós possamos novamente nos preocuparmos apenas com a lógica da existência que é ir andando firme e forte, enfrentando as tempestades às vezes e, outras vezes, só curtindo os prazeres da vida que, sim, existem e estão sempre tentando nos seduzir.

Vou reclinar a poltrona e tentar dar uma cochilada. Acabamos de entrar num céu de brigadeiro…

O único problema agora é uma mosquita que fica fazendo zum zumzum na minha orelha…

 

Renato Teixeira