Ministro da Educação afirma que a proclamação da República foi uma infâmia, ganhou um editorial do Estadão intitulado de Linha Vermelha diante da diatribes incompatíveis com o cargo

O ministro da Educação, Abraham Weintraub, é um fanfarrão em tempo integral. Não dá trégua nem nos feriados. Na semana passada, ele tirou o 15 de Novembro para praguejar contra a República. “O que diabos estamos comemorando hoje? Há 130 anos foi cometida uma infâmia”, escreveu, nas redes sociais.

Uma seguidora respondeu que, em caso de volta da monarquia, o ministro seria nomeado bobo da corte. Ele se destemperou e reagiu como um menino enfezado: “Eu prefiro cuidar dos estábulos. Ficaria mais perto da égua sarnenta e desdentada da sua mãe”.

Falta de decoro à parte, a fala de Weintraub mostrou que a monarquia está em alta no bolsonarismo. As bandeiras do Império reapareceram nas manifestações a favor do impeachment de Dilma Rousseff. Eram empunhadas por grupos pequenos, que depois se incorporaram à campanha pelo atual presidente.

O chefe da turma é dom Bertrand de Orleans e Bragança, bisneto da princesa Isabel. Ligado à velha TFP (Tradição Família e Propriedade), ele defende a restauração da Coroa em causa própria. Em outubro, participou de uma conferência organizada pelo clã Bolsonaro.

Ministro fanfarrao

Para o ministro despreparado, “a Globo já era”

O monarquismo de Weintraub faz parte de um movimento de revisionismo histórico. Reescrever o passado virou hobby da ultradireita brasileira. Em outra frente, o presidente e seus filhos exaltam a ditadura militar e tratam torturadores como heróis.

A ideia de que a proclamação foi uma “infâmia” não se sustenta em fatos. O novo “Dicionário da República” (Companhia das Letras), organizado pelas historiadoras Lilia M. Schwarcz e Heloisa M. Starling, oferece um bom antídoto contra a mistificação.

Num dos ensaios, a socióloga Ângela Alonso reconstitui o 15 de Novembro. “Embora a imagem póstera seja de golpe da caserna, sem povo e de escravistas ressentidos, a República se inaugurou com mobilização civil-militar e gente nas ruas”, escreve.

Ela lembra que o movimento nasceu bem antes de 1889, com demandas como o fim da escravidão e o combate a privilégios. Não cumpriu todas as promessas, mas “derrubou um regime arcaico, excludente e desigual”.