O presidente Lula dá posse ao ministro das Comunicações, Juscelino Filho — Foto: Ricardo Stuckert/PR

O governo mal havia começado quando o ministro das Comunicações foi acusado de usar dinheiro público com fins privados. Questionado, Lula impôs uma condição para não demitir o auxiliar: “Se ele for inocente, ficará no governo. Se for culpado, sairá do governo”.

Os meses correram, as suspeitas se avolumaram, e a Polícia Federal concluiu que Juscelino Filho manteve “relações criminosas” com um empreiteiro. O presidente não tocou mais no assunto, e o ministro segue no cargo como se nada tivesse acontecido.

No primeiro capítulo do escândalo, Juscelino foi acusado de direcionar emendas parlamentares para beneficiar sua própria fazenda. A verba bancou a recuperação e o asfaltamento da estrada que liga a propriedade a Vitorino Freire. A prefeita da cidade, que tocou a obra suspeita, vem a ser irmã do ministro. Uma coincidência típica da velha política maranhense.

A imprensa encontrou outras curiosidades na ficha de Juscelino. Ele ocultou da Justiça Eleitoral um patrimônio de ao menos R$ 2,2 milhões, investido em cavalos de raça. Amante dos animais, usou jatinho da FAB para assistir a um leilão de equinos no interior de São Paulo.

Quando Lula garantiu a sobrevida do ministro, que é filiado ao União Brasil, as suspeitas ocupavam a gaveta do patrimonialismo. Agora foram promovidas à prateleira da corrupção.

A PF sustenta que Juscelino é o verdadeiro dono da Arco Construções, que recebeu R$ 2,5 milhões para recuperar a estrada que vai até a fazenda. Outros R$ 7,5 milhões foram destinados à Construservice, que teria um amigo do ministro como sócio oculto. Em mensagens de celular, os dois tratam de cifras com intimidade. “Resta cristalina a relação criminosa”, afirma a polícia.

A defesa diz que as suspeitas são “ilações absurdas”. Acrescenta que querem “criminalizar” as emendas parlamentares. Conclui que “não há absolutamente nada que desabone” a inocência de Juscelino. Nessa linha, só falta exigir que a PF peça desculpas por investigá-lo.

Em setembro, o Supremo afastou a prefeita do cargo. A fazenda, os cavalos e a estrada continuam no mesmo lugar. O ministro também, protegido pela vista grossa do chefe.