Comecei o dia com uma nota do site de extrema direita O Antagonista. Conheci bem Mario Sabino, um dos três editores. Quando fui um dos editores da revista teórica do PT (o partido, sim), ele fazia o fechamento final. Um baita jornalista. Além disso, ele foi casado com a irmã do então marido de uma de minhas sobrinhas. Não tenho nenhum problema pessoal com ele. Pronto, chega!

A nota dO Antagonista diz, literalmente:

“Bolsonaro manda o Exército se preparar    

Jair Bolsonaro disse ter conversado com o general Fernando Azevedo e Silva sobre a necessidade de preparar o Exército para o caso de uma convulsão social: “Não podemos ser surpreendidos, temos que ter a capacidade de nos antecipar a problemas. Conversei com o ministro da Defesa sobre a possibilidade de ter movimentos como tivemos no passado, parecidos com o que está acontecendo no Chile, e a gente se prepara para usar o artigo 142, que é pela manutenção da lei e da ordem.””

oleo em Brasilia

Ativistas do Green Peace protestaram contra o pouco caso do governo federal

Curiosamente, no mesmo dia em que o Senado aprovou o projeto da Previdência e quase uma semana depois que começaram as manifestações no Chile. Afinal, o que isso tem a ver com as calças?

O governo teme que a situação chilena contamine o nosso cenário político. Por isso mesmo, a solução foi acionada: tropa na rua para combater os possíveis insurgentes. Afinal, a guerra fria ainda não acabou, segundo os milicos e civis seguidores de Olavo de Carvalho.

A fonte parece segura. Tem canal direto com a extrema direita.

Fico impressionado com a eficiência dos mesmos milicos quando se trata de problema social. Nesse caso, a ação é preventiva. Preparem as armas e a tropa, talkey?

Mas os mesmos milicos, inclusive o capitão que foi expulso do Exército por atos de terrorismo que planejou contra quartéis e bloqueio de um deles, simplesmente desprezaram as informações que chegaram desde o final de agosto sobre as manchas de óleo que haviam sido detectadas no oceano que banha o Norte e Nordeste do Brasil.

No dia 2 de setembro que apareceram as primeiras manchas de óleo nas praias do Nordeste. Só 50 dias depois o governo Bolsonaro começou a tratar a emergência ambiental no litoral da região com a gravidade que a situação, evidentemente, exigia semanas atrás quando o derramamento de óleo já havia se espalhado de Sergipe ao Maranhão.

O mundo real não existe para o governo federal.

Mancha de óleo

As praias do Nordeste foram as mais atingidas pelo óleo de origem desconhecida

O mundo real nos ensina que não se pode desprezar desastres anunciados. No caso das manchas de petróleo, o IBAMA no final de agosto comunicou a Marinha, Agência Nacional de Petróleo, Petrobrás e outros órgãos para tomar providências para minimizar o impacto do desastre que já estava à vista. Ninguém consegue avaliar a dimensão dos estragos que estão sendo provocados. Sequer colocaram os satélites disponíveis para fazer essa avaliação.

No dia 23 de outubro, o Senado aprovou o projeto da Previdência. A bola de cristal dos magos da economia aponta uma economia de R$ 800 bilhões em 10 anos como solução de todos os males.

Um observador atento concluiu que “infelizmente, a tragédia anunciada se confirmou. A reforma da Previdência foi aprovada. O caos só será percebido na hora da aposentadoria. Você, seu filho, netos e bisnetos pagarão a conta: mais desigualdade, maias pobreza, mais concentração de renda, menos direitos sociais. O exemplo do Chile está aí.”

— Camaradas, tropa na rua. O Chile não é aqui. Bala nesses comunistas, talkey? berrou o capitão.

Ainda não acordei desse pesadelo.