Pensando bem, talvez seja melhor o deputado Eduardo Bolsonaro sair de Brasília e sentar praça em Washington. O Brasil vai perder tendo o Zero Três como embaixador nos Estados Unidos, nenhuma dúvida, mas alguém acha que nossa relação com Trump seria diferente caso um diplomata de carreira assumisse o posto? Ora, o chanceler Ernesto Araújo cuidaria de escolher um que fizesse exatamente o que Eduardo fará caso seja aprovado pelo Senado. Isso é, alinhamento automático e bajulação explícita. Este é o nome do jogo com os Estados Unidos.

Com Eduardo ou com um embaixador de carreira, o quadro será o mesmo. Se o Zero Três for o nomeado, poupa-se o Itamaraty de mais um vexame, o de trazer à luz outro Ernesto Araújo. Embora muitos diplomatas não se submetam de boa vontade ao “faça o que eu estou mandando”, é da natureza da profissão atender às orientações e obedecer à política externa determinada pelo presidente. Em que pese a carreira ser a que mais requer conhecimento técnico e habilidade política no serviço público, não seria tão difícil encontrar um nome que a imagem curvada do chefe.

Trump

Nos Estados Unidos, além de dar uns tiros no quintal de Olavo de Carvalho, Eduardo vai fazer exatamente tudo o que se espera dele. Ou seja, nada, nada de mais. Ou nada além do que um embaixador de carreira faria. Vai participar de algumas solenidades oficiais, frequentar e oferecer recepções e coquetéis, receber autoridades brasileiras e bater continência para Trump e sua tropa. Em todos os assuntos. Sobre a sua colaboração com Steve Bannon, o ultradireitista que ajudou a eleger o presidente americano, não se deve esperar muita coisa. Ou alguém imagina que Eduardo vai manter agenda permanente para trocar ideias e ajudar Bannon a formular políticas? Não, o Zero Três tampouco é qualificado para isso.

Aliás, se lhe fosse perguntado, Bannon diria que, para os seus propósitos, Eduardo seria mais útil no Brasil do que nos Estados Unidos. Aqui, o deputado é um dos filhos do presidente. Tem poder. Nos Estados Unidos, será apenas mais um embaixador. Um novato. Ninguém se impressionará por ele ter a confiança do presidente do país que representa. Por definição, todos os embaixadores têm o aval do chefe de Estado. Sua experiência nos Estados Unidos talvez seja a única coisa que o destacará dos demais. Duvido que outro embaixador estrangeiro em Washington tenha fritado hambúrguer no Maine.

Olavo e Bannon

Olavo de Carvalho e seu  chefe Steve Bannon, que foi estrategista de Donald Trump

Em razão desse poder que detém no Brasil, talvez seja melhor Eduardo fora de Brasília. O presidente perderá uma das pontas do seu tripé familiar, o que será bom para ele e para o país. Para ele, porque um pouco de insegurança e medo pode ser útil. A insegurança obriga uma reflexão mais calma e cuidadosa. O medo impede aventuras, passos maiores que as pernas, decisões atabalhoadas tomadas sem ter todas as consequências bem medidas. Para a nação, a ausência do Zero Três significará menos ruído. O problema é que Zero Um e Zero Dois saberão muito bem fazer barulho sozinhos.