“é possível concluir que, sendo realizado um planejamento das ações de segurança adequado, com o acionamento de valor de tropa suficiente, a execução das ações de segurança por parte das tropas do Comando Militar do Planalto teria melhores condições de êxito” trecho do inquérito militar

Relatório do Exército sobre 8 de janeiro, aquele dia que foi sem nunca ter sido, não importa o quê, concluiu que a “vítima” é a culpada. Fiquei com a impressão de não ter vivido e acompanhado o dia a dia dessa nossa tropicália. Que saudade de Rita Lee com seus Mutantes https://www.youtube.com/watch?v=mTFYMEPLjA0 acompanhando Gilberto Gil em Domingo no Parque nos idos dos anos dourados e dos festivais no Teatro Record. Que saudade da geração que se expôs em versos, músicas, pinturas, teatro e até com armas na mão para dizer em todas as plataformas da época suas críticas à ditadura vigente. Até os milicos que censuraram, prenderam, torturaram e até eliminaram seus desafetos pareciam mais inteligentes.

Rita Lee no Festival de MPB no Teatro Record em 1967

            Cala-te boca! Desliga a cabeça, pô! O mundo é outro. Caminhamos em ritmo acelerado para as IAs adquiridas em promoções virtuais. Não sabe o que é IA? Paciência, sugiro que mude de canal. Ou de plataforma. Ou nem queira saber o que vem a ser o que um dia será. É melhor nem saber.

Botei os neurônios para funcionar e, claro, fiz de conta que não li o que já tinha lido: o relatório do Exército sobre o dia que vai durar muitos e muitos dias ainda. Escarafunchei o relatório. O alvo era (é) o governo federal recém empossado poucos dias antes daquele dia.

Milico esperto, experrrto no bom carioquês, não costuma revelar seu alvo. Milico experrrto que passou pela academia, que deu um chapéu na Justiça Militar e impediu a expulsão de um capitão capenga de criatividade que desenhou um croqui que apontava os locais – unidades militares – onde as bombas seriam acionadas para provocar desastres como a destruição de barreiras de uma represa, e entregou o desenho para a repórter que o entrevistou. A jornalista foi a culpada, claro. Era o segundo registro de uma espécie militar resendense. O primeiro foi na véspera do show de 1º de maio de 1981 que seria realizado no Riocentro. Nesse caso, a bomba explodiu no colo do sargento que morreu e que estava ao lado de outro capitão, que sobreviveu. As outras operações nunca foram reveladas. Mas os culpados foram identificados: guerrilheiros de esquerda que já haviam sido eliminados.

           Atentado Riocentro 1981: bomba explodiu no colo do sargento

                Com o passar das décadas, os milicos experrrtos pareciam que tinha dado a volta por cima. Chegaram até o Palácio da Alvorada sem dar um único tiro, muito menos acender o pavio de alguma bomba. Mas o ditado popular é infalível: quem nunca comeu melado quando come se lambuza. Com raríssimas exceções, os resendenses se lambuzaram. E como!

Inebriados com o sucesso que abria porta para (quase) todos os desejos e fantasias, devidamente mordidos pela mosca azul do poder, a milicada (com raríssimas exceções) ficou presa no melado, tal qual as moscas do dia a dia. O melado não permite o bater de asas e aos poucos começa a tragar os mais gulosos.

O primeiro golpe mortal foi o resultado das eleições em 2022. Suficientemente forte para deixar claro que os milicos experrrtos haviam perdido a parada. Bateu o desespero. Tentar impedir a posse.

No dia 12 de dezembro, segunda-feira, carros e ônibus incendiados, botijões de gás, ataque a delegacia e sede da PF marcaram os atos de bolsonaristas radicais, seguido de série de atos de vandalismo em Brasília após a diplomação do novo (?) presidente.

Atentados terroristas de 12 de dezembro em Brasília

            Os seguidores radicais do presidente derrotado montaram acampamento em frente ao QG do Exército na capital federal. E dali traçaram táticas e estratégias “redentoras” que culminou no ataque desesperado de 8 de janeiro.

O embate ainda não terminou. O relatório Exército é a maior prova que ainda existem fortes resistências militares (salvo raríssimas exceções) ao regime democrático. Como bons milicos, tentam criar um outro alvo. Nada melhor que o ministro do STF e atual presidente do TSE Alexandre de Moraes.

O poder Executivo vai assistir de camarote embate anunciado pelos milicos entre o poder Judiciário e os militares que sonham em se transformar em poder da República, de preferência o Moderador. Alea jacta est