Eu e Chico, meu filho, desde sempre estivemos unidos pela música. Mesmo antes de compreender qual era o meu papel na cena musical brasileira, ele já havia se envolvido irremediavelmente com o violão.

Nunca coloquei impedimentos na sua vocação, mesmo porque para mim essa é uma das mais generosas profissões da humanidade. Principalmente depois que os artistas da música ganharam o respeito do mercado. Somos profundamente agregadores e isso para qualquer comércio é um ingrediente poderoso e eficiente.

Primeiro, o Chico começou a viajar comigo para ser uma espécie de assistente de palco. Afinava meu violão e me ajudava nas pequenas coisas. Quando fez dezoito anos e tirou carta, começou a guiar o carro nas viagens. Tudo como parte de um aprendizado essencial para quem quer andar por essa estrada.

Filho de peixe, Chico é Burro desde que nasceu

Da minha parte, desde que me envolvi com a música ainda em Taubaté, tive a sorte de estar sempre acompanhado de grandes músicos. Nossa cidade, até hoje, tem uma linda tradição de produzir instrumentistas de alto calibre. Comecei cantando no Skema 1, um trio formado por Mário e Murilo Mendes e Agostinho Arid. Nunca mais deixei de estar ao lado de músicos de alto nível.

Agora na estrada, com o Chico crescendo e se envolvendo cada vez mais com o assunto, a presença dos bons músicos à nossa volta influenciou sua formação. Pra aumentar o poder de fogo da sua vocação, ele começou a ler poesias portuguesas arcaicas, difíceis de entender, as que precederam o nosso jeito de falar e capazes de revelar as mais significativas maneiras de se dizer poeticamente o que sentirmos.

Quando começou a compor pra valer, todas essas circunstâncias afloraram em sua obra. Mas era preciso um pouco mais de chão nesse caminho. Mesmo porque nunca fui de dizer como ele deveria fazer. Minha intervenção sempre foi mínima, apenas para dar algumas dicas de comportamento.

Aprendeu a viajar e a enfrentar as condições. Conheceu o Brasil inteiro e descobriu, por exemplo, que, às vezes, o som é ruim e as acomodações precárias. Mas aprendeu principalmente o valor da qualidade quando tudo corre como devia como um som muito bem servido e a hospedagem de primeiro mundo. Aprendeu os sotaques, os costumes e o comportamento dos brasileiros de todos os cantos.

Chico Teixeira está pronto para seu voo solo

Assim, um dia, ele estava pronto e começou a voar. Em seu primeiro disco, ele mesmo fez tudo. Compôs, fez os arranjos, marcou estúdio pra gravar, mixou (equilibrar o som dos instrumentos) e desenrolou a complexa parte burocrática do trabalho. Tudo sozinho e do jeito que ele queria.

Qualquer artista precisa saber que o caminho do sucesso passa por um árduo aprendizado. O almejado “estouro” quando o sucesso chega durante os primeiros passos, inexoravelmente é uma faca de dois gumes porque pega o sujeito no contra pé. O artista precisa aprender a conviver com as condições do sucesso que requerem, sim, muita maturidade e equilíbrio. Quando chega muito cedo, o lado artístico colhe frutos definitivos e animadores, mas a personalidade da pessoa sofre sequelas irreversíveis. É comum o lado intelectual se afastar da base e o camarada meio que emburrece.

Quando o sucesso vem numa sequência lógica, o intelecto absorve melhor as consequências da popularidade que talvez seja o lado menos  importante na formação emocional de uma pessoa. Andar na rua e ser reconhecido por gente que jamais vimos na vida pode provocar um viés perigoso e gerar equívocos irreversíveis.

O Chico vem crescendo no caminho. Conhece seus direitos e a história da música popular. Agora eu e ele criamos um espetáculo chamado “Pai e Filho” onde contamos e cantamos a história musical da nossa família. Compomos juntos e cantamos juntos. Tudo em prefeita harmonia com nossa historia já que somos a quinta e sexta geração de músicos dos Teixeira.

Ele é meu filho e eu sou seu pai até que o espetáculo comece. A partir daí, somos profissionais radicais dispostos a dar o melhor de nós mesmos pelo bem da nossa arte, a música popular brasileira.