Eduardo Bolsonaro, deputado federal e filho do presidente, é amigo de Jorge Garanho, agente penitenciário federal e assassino de Marcelo Arruda, guarda municipal

             Foi assustador ver e ouvir ao vivo um general quatro estrelas, embora de pijama, que ocupa a vice-presidência da República, afirmar que o crime cometido em Foz do Iguaçu faça parte da paisagem todo fim de semana é caso de polícia: “as pessoas bebem um pouco mais e acabam brigando”. Naninanão general Mourão. Parecia que o senhor tinha uma cabeça diferenciada da do seu chefe. Ledo engano!

O posicionamento dos militares de pijama – mas com forte influência no comando da tropa – é apenas mais um movimento no tabuleiro de xadrez. Não se trata de perder ou vencer. Mas decidir o momento de anunciar o golpe que já ocorreu.

O golpe não está condicionado a eleições. Muito menos reproduzir o esquema de colocar tanques nas ruas. A radicalização tem outra cara, mas mesmo assim ainda faz parte de nossa realidade. Ninguém está livre. Ainda.

Sou testemunha de 1964. Assisti militares e técnicos do CTA, em São José dos Campos, fugindo do golpe em dois aviões e da violência e perseguição desencadeada por oficiais da Aeronáutica contra colegas e amigos que defendiam um governo eleito democraticamente. Assisti meu pai com outras autoridades e lideranças religiosas locais participando de eventos para a campanha “Doe ouro para o bem do Brasil”. Um golpe normalizado.

           Marcelo e sua esposa conversam com o criminoso que voltaria para assassinar o aniversariante

               Mas o principal ator continua sendo o Exército que hoje reforça a desconfiança contra a Justiça Eleitoral e contra o sistema que endossa os mandatos políticos. A linguagem e os meios mudaram. Há tempos passamos a admitir e conjugar o campo da política como de guerra. Isso nos afastou do razoável e normalizou a ascensão do populismo autocrático. Ninguém precisa pegar em armas — e nunca foi tão fácil fazê-lo — para apertar o gatilho dos autoritarismos.

Exagero? Faça um balanço sobre quantos de nós esvaziaram ou romperam relações afetivas pautados pelo filtro das escolhas político ideológicas? Não reagimos à depressão política imposta. Fingimos não ver o rito de confronto e colisão de que se alimenta o facciosismo dogmático. Isso pode resultar numa família que não se senta mais à mesa tanto quanto no fanatizado para quem o outro, divergente, pode ser eliminado.

Dois exemplos singelos, porém, assustadores.

Recebi recentemente de um velho e querido amigo: “Peço encarecidamente! Não associem o nome desse verme a Pindamonhangaba! O cidadão de Pinda não merece esse lixo!!” Ilustrou sua opinião com a imagem anexa. O verme é um médico ex-prefeito de Pinda e ex-governador do estado. Trata-se do pacífico Geraldo Alckmin, hoje demonizado por amigos e conhecidos, embora ainda livre de acusações que comprometam sua integridade moral.

Bolsonaristas tentam destruir a imagem do político ético e honesto

           Outro exemplo, também recente, foi a tentativa de Bolsonaro se aproximar da família de Marcelo Arruda, o tesoureiro do PT de Foz de Iguaçu assassinado por um bolsonarista na festa de seu aniversário de 50 anos. Os irmãos da vítima seriam apoiadores do presidente e criticavam o possível uso político da morte do irmão por parte do PT. Exatamente o que a campanha de Bolsonaro vai fazer com eles.

Os militares não precisam dar um único tiro. Tem quem faça por eles. O crime de Foz do Iguaçu precisa ser examinado à luz de uma compreensão de mundo que não contempla a mediação da política, que não acredita em filtros institucionais. Exatamente o chão de descrença que o Exército brasileiro hoje ajuda a ampliar.

O cidadão que não se reconhece na política, jamais agirá politicamente. O resultado é a barbárie promovida por fanáticos que passam a ocupar todos os espaços. Reagir é preciso!!