Perdido e sem rumo, o governo precisa definir se manterá ou não as diretrizes impostas por Olavo de Carvalho através dos filhos do presidente

          “Ele (Olavo) passou do ponto, agindo com total desrespeito aos militares e às Forças Armadas”, disse o general Villas Bôas ao Estadão. “Às vezes, ele me dá a impressão de ser uma pessoa doente, que se arvora com mandato para querer tutelar o País.” Antes, nas redes sociais, chamou Olavo de Carvalho de “verdadeiro Trotski de direita”, sob o argumento de que ele age para “acentuar as divergências nacionais”.

O ex-comandante do Exército e atual assessor especial do Gabinete de Segurança Institucional (GSI), entrou em campo na segunda-feira, 6, para acalmar a tropa, incomodada com as críticas do escritor Olavo de Carvalho aos militares, especialmente o ministro-chefe da Secretaria de Governo, general Carlos Alberto dos Santos Cruz, xingado por Olavo nas redes sociais.

Gal Villas Boas

General Villas Bôas saiu em defesa do colega Santos Cruz

          Diante da reação negativa aos seus recentes pronunciamentos, o guru da Virgínia postou uma desculpa esfarrapada, alegando que não foi bem aquilo que ele disse, que nunca ofendeu Villas Bôas e que suas palavras haviam sido destorcidas. Os filhotes 02 e 03 tiveram trabalho para tentar contornar as baboseiras ditas pelo guru da família.

Gal Santos Cruz
General Santos Cruz tem procurado conter os excessos do presidente

Estratégia de alto risco

Desde o ano passado, o guru vem se reunindo com Steve Bannon, considerado o mentor do plano, ex-estrategista do presidente Donald Trump e um dos responsáveis pela retórica nacionalista que fez o republicano chegar à Casa Branca.

Segundo informações que o Estadão teria tido acesso, militares dizem que Olavo tem “planos bem concretos” para uma mudança do cenário político. “Os ataques sistemáticos e coordenados sobre os militares do governo Bolsonaro vão ao encontro deste objetivo, que é dividir a direita para criar a extrema-direita”. Eis sua estratégia a la Steve Bannon. O jornal continua: “Nos bastidores, militares com assento no primeiro escalão já se mostram apreensivos com o que definem como “falta de pulso” de Bolsonaro para enquadrar os filhos e seu amigo escritor, que vive nos Estados Unidos. A portas fechadas, muitos dizem que a situação chegou “no limite” e só não deixam o governo com receio do que pode acontecer no País”.

O guru com seu guru

Olavo de Carvalho com seu guru Steve Bannon

No domingo, 5, o presidente teria extrapolado os limites quando postou que, em seu governo, “a chama da democracia será mantida sem qualquer regulamentação da mídia, aí incluídas as sociais”. A postagem foi interpretada como uma estocada contra Santos Cruz, que prega cautela no uso das redes sociais para evitar distorções e a melhoria da lei que disciplina o tema.

Incontrolável, Olavo foi mais agressivo: “Controlar a internet, Santos Cruz? Controlar a sua boca, seu merda (sic)”. Santos Cruz foi conversar com Bolsonaro que, segundo o Estadão, teria expressado sua indignação e teria garantido de que isso não continuará assim.

Na segunda-feira, 06, Villas Bôas postou que “o senhor Olavo de Carvalho” tem um “vazio existencial” e demonstra total falta de respeito e modéstia. “A escolha dos militares como alvo é compreensível por sua impotência diante da solidez dessas instituições e a incapacidade de compreender os valores e princípios que as sustentam.” Uma defesa elegante do general Cruz, liderança militar muito respeitado por seus pares.

O guru sentiu o golpe e respondeu postando um vídeo no qual Villas Bôas elogia a escolha de Aldo Rebelo (ex-PCdoB e hoje no Solidariedade) para ministro da Defesa do governo Dilma Rousseff, em 2015, insinuando que o general estaria alinhado ao comunismo. Ele entende como comunismo, tal qual Bannon, uma conspiração internacional para dominar a política, que controla a política, que teria como ideólogo o italiano Antonio Gramsci. Filósofo marxista e deputado por Vêneto, Gramsci morreu logo que saiu da prisão após mais dez anos encarcerado pelo líder fascista Benito Mussolini. O filósofo italiano é reconhecido, principalmente, pela sua teoria da hegemonia cultural que descreve como o Estado usa, nas sociedades ocidentais, as instituições culturais para conservar o poder.

Bannon será objeto de outro artigo onde tentarei apontar suas semelhanças com Olavo de Carvalho. Por exemplo: o ex-estrategista de Trump considerou-se um “leninista”, no sentido em que “Lenin queria destruir o Estado e é também o meu objetivo”, disse em 2013. Ou ainda: “Quero deitar tudo abaixo e destruir o atual ‘establishment'”.