O desgoverno do capitão Jair Bolsonaro já incomodava os militares, em especial os altos oficiais do Exército, por uma razão bastante conhecida: a presença e a influência do astrólogo Olavo de Carvalho, junto à família presidencial. Sim, a família se encontra entronizada no Palácio do Planalto. Zero dois, o filho do meio do capitão, é quem produz e posta a opinião presidencial nas redes sociais. Com o apoio e o respaldo do paizão presidente.

Zero dois e zero três são os alunos mais fiéis do guru da Virginia, estado norte-americano onde vive Olavo de Carvalho há cerca de 14 anos. Carvalho é tratado como um grande guia espiritual e político pela família Bolsonaro.

Olavo de Carvalho

Olavo de Carvalho tem desmoralizado os militares

Para o capitão, o guru da Virgínia “(…) teve um papel considerável na exposição das ideias conservadoras que se contrapuseram à mensagem anacrônica cultuada pela esquerda e que tanto mal fizeram ao nosso País.”

De figura folclórica e estereotipada da campanha eleitoral, Carvalho assumiu protagonismo no governo federal ao ser responsável pela indicação de ministros e muitos seguidores na máquina federal. E passou a disputar espaço com o núcleo militar, um dos pilares que dão apoio e sustentação ao governo.

Passou a confrontar abertamente os generais de primeiro escalão, especialmente o vice-presidente Hamilton Mourão, um general quatro estrelas linha dura que enfrentou a então presidente Dilma Rousseff e por isso foi para a reserva. Foi eleito presidente do Clube Militar, um palanque usado no início de 2018 para pontuar opiniões como, por exemplo, um possível autogolpe caso a Justiça não apresentasse soluções para os impasses políticos.

Vitoriosos nas urnas, o general vice-presidente assumiu a ponderação como sua principal arma política. Fato que passou a incomodar profundamente o guru da família Bolsonaro que propõe abertamente uma política de terra arrasada antes de dar início à construção de um novo projeto que, pelo jeito, só ele conhece.

Os ataques pessoais ao vice-presidente atingiram limites que analistas e especialistas nunca imaginaram. Em vídeo postado pelo próprio presidente em sua página, Olavo de Carvalho diz que a única contribuição dos militares ao Brasil, depois de Euclides da Cunha, foi “cabelo pintado e voz empostada”, uma referência explícita ao general Mourão. A resposta do vice-presidente foi dura. Em entrevista coletiva em 22 de abril disse que o ideólogo Olavo de Carvalho deve se limitar à função de “astrólogo”. Segundo ele, Carvalho tem “total desconhecimento” sobre o ensino militar.

Diante da postura de Mourão (“quando um não quer dois não brigam”), Carvalho voltou suas baterias para o general Santos Cruz, ministro responsável pela Secretaria de Governo. Sob seu comando está a Secom, secretaria responsável pela comunicação social do governo, muito cobiçada pelo guru da Virgínia e sua turma.

Santos Cruz é um dos generais mais preparados. Profissional exemplar, é um legalista militante. Não vacilou, por exemplo, diante da decisão intempestiva do capitão de suspender a propaganda do Banco do Brasil na TV. Afirmou que o governo não podia interferir naquele assunto.

Olavo de Carvalho aumenta a carga

No sábado 4 postou: “Santos Cruz e Ciro Gomes são aqueles tipos de bandidinhos que não podem receber um elogio sem respondê-los com insultos, para mostrar que são gostosões. Gente sem caráter nem valor. Bostas em toda extensão do termo”.

Villas Boas e Bolsonaro

General Villas Bôas de cadeira de rodas, ao lado do presidente Jair Bolsonaro

A temperatura subiu. General Villas Bôas, principal liderança militar recentemente reformado, entrou em cena. “”Mais uma vez, o senhor Olavo de Carvalho, a partir de seu vazio existencial, derrama seus ataques aos militares e às FFAA, demonstrando total falta de princípios básicos de educação, respeito, humildade e modéstia”, escreveu o então comandante do Exército até janeiro desse ano.

E hoje, 07 de maio, Carvalho revelou todo seu caráter ao postar: “Há coisas que nunca esperei ver, mas estou vendo. A pior delas foi altos oficiais militares, acossados por afirmações minhas que não conseguem contestar, irem buscar proteção escondendo-se por trás de um doente preso a uma cadeira de rodas. Nem o Lula seria capaz de tamanha baixeza.”

Nem a bola de cristal da falecida Milu da novela O Sétimo Guardião é capaz de revelar o que acontecerá nos próximos capítulos dessa novela política.