Sinceramente, do fundo do meu coração: não tenho certeza se gosto ou não do andamento das novas tecnologias e do impacto na vida social moderna. Como professor, pesquisador, ou mesmo curioso, não há como desprezar os avanços permitidos pela eletrônica. Nossa!… O que o google facilita a vida! E os GPSs e o Face book? Os chamados telefônicos gratuitos e os efeitos do WhatsApp, então, nem se fala. Isso sem falar da internet e dos desdobramentos permitidos por ferramentas insondáveis que facilitam a vida, cortam caminhos. Tudo é fantástico e parece perfeitamente integrado aos hábitos modernos. Entre os jovens, um novo grupo surge e está circulando por todos os cantos se reconhecendo como “geração digital” e nem imaginam como era o mundo antes. Dia desses, visitava uma amiga que tem uma filhinha de dois anos de idade e que, frente a um super celular, já deslizava o dedinho pela tela como se buscasse contatos. Fiquei inquieto e assustado com o ato mecânico da fedelha. A realidade é que não há como deixar de lado essa parafernália toda, mas…

Mas, na altura de meus dias, não tenho como deixar de lado algumas inquietações que andam me enlouquecendo. Confesso que há momentos em que penso que estou fora do mundo, que sou ser de outro planeta ou pelo menos de outras eras. Explico-me: não troco os contatos humanos por facilidades maquinadas. Não mesmo. Gosto de gente, do tom de vozes audíveis, de troca de olhares expressivos, de gestos, ruídos familiares. Sinto falta de toques, de insinuações verbais, da oralidade expressa na navegação da fala livre.

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Mesmo aposentado, o prazer de dar aulas me é vital. Gostaria de morrer ensinando, ainda que saiba ser isso aterrador para os eventuais alunos, para a direção da escola e mesmo para familiares. Mas nada compensa o olhar atento dos estudantes, sentir efeitos de interações construídas em torno do conhecimento. Perceber os resultados de aulas preparadas é algo de dimensão inestimável, é como entrar no céu rodeado de anjos. Acontece que atualmente, tem doído muito entrar em sala com todo o script arrumadinho e… e deparar com alunos que trocam a dedicação do preparo pela telinha, fria e quase sempre convidativa de distâncias. Por lógico, sou daqueles professores que exercitam broncas. Não deixo de protestar e até negociei alguma abertura, permitindo que os alunos/digitadores saiam da aula, para resolver contatos fora da classe.

O pior, porém, é quando isso afeta o andamento familiar. Não suporto ver pessoas à mesa deixando o prazer do convívio e mesmo da comida em favor do desligamento exigido pela maquininha eletrizante. Nem menciono o que sinto ao ver crianças à mesa com tablets, vendo desenhos animados. Devo dizer que sou incontrolável quando me submeto a tais situações. Peço atenção, fecho a cara, chamo à realidade da experiência direta, enfim, aconteço até que se reestabeleça a base da pura e simples troca humana. É verdade que às vezes, de retorno, não consigo muito mais do que caras feias, mas elas são intensamente mais queridas do que as fugas virtuais.

Amor a distancia

Preocupa-me o futuro. Devo dizer que estou alerta para ver o que há de acontecer. Vejo-me ameaçado como professor pelos ameaçadores cursos ditos “à distância”, os tais EaD. Tomara que ainda em vida eu nunca perca a alegria presencial da relação aluno-professor- sala de aula. Tomara. Enquanto aguardo o futuro mediado pelas máquinas espero que saiam novos manuais de boas maneiras, algo que fale de ética do convívio nos dias atuais. Sim, acho que há de haver alguém mais que trate a mediação eletrônica como caso de educação ou mesmo de saúde pública, pois, afinal, quem será o doente? Os internautas ou eu?…

José Carlos Sebe Bom Meihy (meiconta63@hotmail.com)