Os maiores partidos se uniram para derrotar a Lava Jato enquanto os brasileiros honestos fingem não ver o que esses políticos fazem à luz do dia, tal qual aconteceu na Itália depois da Operação Mãos Limpas

Paulo de Tarso Venceslau

O Estadão de hoje, 13 de fevereiro, informa mais um passo da operação desmonte da Operação Lava Jato: a Comissão da Reforma Política (CRP) vai colocar em pauta um projeto para anistiar as multas impostas pelo Tribunal Superior Eleitoral aos partidos políticos.

Para Lúcio Vieira Lima (PMDB-BA), presidente da CRP, trata-se de “um problema posto e a proposta tem lógica. Como não pode usar o recurso (do fundo para pagar multa), como o partido vai fazer?”.  Pobres partidos! Eles não sabiam que estavam desrespeitando a lei quando conscientemente deram o golpe. Só em 2016, o Tribunal Superior Eleitoral (TSE) aplicou R$ 81 milhões em multas.

O presidente da CRP é irmão daquele ministro baiano flagrado com a mão na cumbuca em defesa de um prédio construído irregularmente em Salvador. Além de contrariar pareceres técnicos, Gedel Vieira Lima era um dos proprietários do imóvel. Pressionado, Temer foi obrigado a demiti-lo.

O relator da CRP é o notório deputado Vicente Cândido (PT-SP), para quem o financiamento de campanha será o centro dos debates nos próximos meses. Cândido é um ex-funcionário do mafioso russo Boris Berezovsky, sócio de Marco Polo Del Nero. Ele foi acusado de ter oferecido propina para o conselheiro da ANATEL, Marcelo Bechara, “ajudar” a empresa de telefonia OI, umbilicalmente ligada ao ex-presidente Lula. A OI “investiu” R$ 5 milhões na obscura GameCorp, do agora milionário, Lulinha, filho do ex-presidente Lula. Rodrigo Janot, Procurador Geral da República, disse que, ao responder à PGR, Cândido mostrou “a explícita confissão” do uso de sua “condição de agente político” para defender “interesses pecuniários da empresa Oi Móvel S/A perante a Anatel” – o que indicaria a prática de crime de advocacia administrativa.

O presidente da Comissão Especial da Reforma Política, deputado Lúcio Vieira Lima, o presidente do Tribunal Superior Eleitoral (TSE), ministro Gilmar Mendes, e o relator, deputado Vicente Cândido, durante audiência pública na Câmara dos Deputados.(Marcelo Camargo/Agência Brasil)

O presidente da Comissão Especial da Reforma Política, deputado Lúcio Vieira Lima, o presidente do Tribunal Superior Eleitoral (TSE), ministro Gilmar Mendes, e o relator, deputado Vicente Cândido, durante audiência pública na Câmara dos Deputados.(Marcelo Camargo/Agência Brasil)

Gilmar Mendes rides again

O terceiro personagem nessa trama é o ministro Gilmar Mendes, do STF e presidente do TSE, que não esconde sua predileção tucana e nem seu desafeto pelo juiz Sérgio Moro, coordenador da Operação Lava Jato. Mendes, no final de 2016, defendeu o projeto de lei que define os crimes de abuso de autoridade e a derrubada, pela Câmara dos Deputados, de diversos tópicos das chamadas “10 Medidas de Combate à Corrupção”, projeto de iniciativa popular apresentada ao Congresso Nacional pelo Ministério Público. Assim agindo, ele se contrapôs publicamente ao juiz Sérgio Moro e aos procuradores da força-tarefa.

E ameaça: “ Temos um encontro marcado com essas alongadas prisões que se determinam em Curitiba. Temos de nos posicionar sobre esse tema que conflita com a jurisprudência que desenvolvemos”.

 

Velório à vista

Esses pequenos enormes detalhes reforçam o bote que está sendo dado pelos grandes partidos, com destaque para o PMDB, PSDB, PT. O presidente Michel Temer emite o ritmo com sua batuta ao nomear Alexandre de Moraes para o STF, Edison Lobão para CCJ que sabatinará Moraes, apoiar abertamente a candidaturas vitoriosas de Rodrigo Maia e Eunício de Oliveira para presidir a Câmara e o Senado respectivamente. No STF, os políticos envolvidos na Lava Jato serão julgados por Alexandre de Moraes.

Senador Aécio Neves aprova essa movimentação e se consolida como guarda pretoriana do governo Temer e do condomínio político coabitado pelo PMDB e PSDB, e apoiado por Lula e seu PT.

A Lava Jato está prestes a sucumbir.