Tá lá um corpo estendido na ponte

Levei um choque na manhã dessa sexta-feira, 24. O dia anunciava um Natal tranquilo, apesar do caos reinante. Mas a manchete do jornal desmontou meu dia. Um cinegrafista foi morto em Paraty durante um assalto, na madrugada de quinta-feira.

Vitor da Silva Lins atinha apenas 31 anos. Estava com a mulher no final da ponte que liga a praça da Matriz com o Pontal. Coração daquela cidade histórica.

Dois menores tentaram assaltar o casal. Vitor reagiu diante dos dois moleques. Um erro que lhe custou a vida. Um dos garotos que empunhava um revólver 38 disparou à queima roupa.

Câmeras de segurança registraram o crime e permitiram a identificação dos garotos bandidos, que foram presos, e a participação de um terceiro homem não identificado.

Em Paraty, tudo se sabe. Pelo menos no mundo do crime. Momentos depois a polícia já sabia que o terceiro elemento fora executado pelo tráfico de drogas. Talvez o mesmo destino dos dois moleques que se encontram detidos. É a lei da selva imposta pelas facções que controlam o comércio de drogas que vive e locupleta com o fluxo de turistas, nacionais e estrangeiros, atraído por aquele patrimônio histórico.

Aprendi a conviver com aquele pacífico e generoso povo. Fui a Paraty pela primeira vez no começo de 1964 com o saudoso Robertinho Dias e Afonso Gonçalves, casado com Heloísa Querido. Era a primeira viagem do Nenê, apelido do Robertinho, com o primeiro carro que acabara de ganhar quando fez 18 anos.

Paulo, Afonso, Vanja Orico e Robertinho em Paraty, março de 1964

Acampamos na praia do Jabaquara. Não havia uma única casa, além de uma bela mansão incrustrada à beira do rio que hospedava a linda Vanja Orico, cantora, atriz e cineasta brasileira, desde o filme “O Cangaceiro”, de Lima Barreto.

Foi um amor à primeira vista com a cidade história que passei frequentar inicialmente na casa do francês Jacques Breyton, herói da Resistência Francesa em Lyon, sua cidade natal durante da II Guerra. Nos anos 1990, adquiri, com minha companheira Eliana, um sítio na Várzea do Corumbê, onde me escondo a cada 15 dias.

Assisti, ao longo dessas décadas, a descoberta da região pelo turismo predador desde que a BR 101 foi inaugurada em 1975. O surgimento de bairros proletários expulsaram antigos moradores caiçaras para abrigar a mão de obra barata usada no tráfico de drogas consumidas pelos novos turistas.

Testemunhei a surgimento das novas leis impostas pelo tráfico. A primeira, curta e grossa, diz: é terminantemente proibido molestar o turista que abastece nosso negócio e quem o fizer pagará com a vida.

O terceiro assaltante já pagou com a vida. Os dois garotos poderão ser executados dentro ou fora da prisão onde se encontram.

2021 nunca mais!

Feliz 2022!!