Marcelo Eloi, Marcelo China, Marcio Costa e Fernando Regis são o Toque de Arte. Além de tocarem samba, gênero que os lançou e até hoje é reverenciado por eles, os caras cantam o fino! Conheci-os ao ouvir seu segundo CD lançado em 2008. À época, não escondi a minha satisfação pelo fato de terem buscado a experiência do saudoso diretor musical no MPB4, Magro Waghabi, que criou quase todos os arranjos vocais do disco e ajudou a inoculá-los com o vírus do vocal – esse que, após contraído, não há remédio que cure: é para a vida toda. Sob suas bênçãos, o Toque de Arte chegou, cantou, tornou-se um bamba do samba, deu asas às suas vozes e cresceu – e aí é que está a grande sacada que os diferencia.

E agora os rapazes estão novamente na área, com Toque de Arte – 20 anos – ao vivo (Fina Flor), gravado no Citibank Hall, no Rio de Janeiro. Amadurecidos, conhecedores dos segredos do palco e do que faz seus admiradores vibrar, o repertório selecionado é poderoso – só sucessos; os arranjos vocais seguem a trilha aberta pelo Magro. O Toque apresenta um aprimoramento vocal que, apesar de não o impedir de ser popular, o torna único na cena do samba.
Interpretando músicas já gravadas por eles e outras escolhidas a dedo para seduzir seus fãs, ganha destaque uma banda de apoio com onze instrumentistas, cujo arranjador do naipe de sopros, o trombonista Fabiano Segalote, fez um belo trabalho. Somada às percussões do quarteto, a sessão rítmica é fundamental para que os arranjos de base, criados pelo Toque, ganhem sustança.

A abertura é uma sequência instrumental: Hino Nacional Brasileiro (Osório Duque Estrada e Francisco Manoel da Silva), cantado em ritmo de samba, “Aquarela do Brasil” (Ary Barroso) e “Brasileirinho” (Waldir Azevedo). Sax, trompete e trombone somam-se a bateria, baixo, teclado e ritmo, este a cargo de quatro músicos. Um esquenta de primeira.
E na sequência, a regravação de “Aquarela Brasileira” (Silas de Oliveira), com arranjo vocal do Magro: início vocalizado e a capella. A seguir, cantos, contracantos e coros. Solo vocal a cargo da voz grave de Marcio Costa. Um divertimento com alguns versos e um ralentando conduzem ao final.
Após introdução do sax, “Retalhos de Cetim” (Benito de Paula), também gravada no trabalho anterior. Nando Regis e seu cavaquinho iniciam o canto. O arranjo conduz a música arritmo, reinicia a melodia e finaliza.
Um medley que começa com um rap, cuja letra é do próprio Toque, tem também “Isso Aqui o que É” (Ary Barroso), solada por Marcelo Eloi, “Maracangalha” (Dorival Caymmi) destacando a flauta e “Kid Cavaquinho” (João Bosco e Aldir Blanc), solo vocal de Nando Regis. Com o refrão (re)quebrado, finalizam.
Com total domínio do palco, o Toque de Arte cativa o público, que se esbalda de tanto gostar. Peralá… garrei a pensar: o Magro tinha que estar aqui agora, para ver o quanto ele colaborou, e ainda colabora, com a trajetória vitoriosa dos quatro meninos vocalistas e sambistas.

 

Aquiles Rique Reis, vocalista do MPB4