A escalada autoritária do governo tem estimulado comparações entre Jair Bolsonaro e Nicolás Maduro. É uma situação curiosa, porque o capitão passou toda a campanha atacando o regime chavista. Mas ele não parece se inspirar na Venezuela, e sim no Peru de Alberto Fujimori.

Em 1990, o escritor Mario Vargas Llosa entrou na sucessão peruana como favorito. Foi atropelado pelo azarão Fujimori, que seduziu o eleitorado com a imagem de homem simples e a promessa de combater a violência e a corrupção.

Vargas Llosa cortada

Mario Vargas Llosa foi tratorado por Fujimori nas eleições de 1990

O novo presidente assumiu sem maioria no Congresso, onde passou a sofrer sucessivas derrotas. Acuado, cercou-se de militares e iniciou uma ofensiva contra o Legislativo. Em abril de 1992, deu um autogolpe e passou a governar com plenos poderes.

Fujimori fechou o Congresso e ordenou a prisão dos presidentes da Câmara e do Senado. Ao justificar as medidas, acusou os parlamentares de sabotarem os interesses da nação e do “cidadão comum”.

O autogolpe instaurou um regime autoritário, que perseguiu opositores, censurou a imprensa e conduziu o Peru ao isolamento internacional. No ano seguinte, um deputado brasileiro saiu em defesa do ditador. “A fujimorização é a saída para o Brasil”, afirmou Bolsonaro ao “New York Times”.

Em 1996, o capitão repetiu os elogios na tribuna. Disse que Fujimori era um líder “honesto e patriota”, que fazia “um excelente governo”. Ele também exaltou a política de controle de natalidade do regime, que esterilizou mais de 300 mil mulheres à força.

Fujimori e Keiko

Keiko e Alberto Fujimori: a filha quase foi eleita

A ditadura fujimorista terminou mal. Depois de dez anos no poder, o peruano renunciou em meio a um escândalo de corrupção. Em 2009, ele foi condenado a 25 anos de prisão por crimes contra a humanidade. Sua filha Keiko quase chegou à presidência pelo voto, mas também acabou presa por lavagem de dinheiro.

Como todo autocrata, Fujimori fingia se guiar por valores patrióticos. Na noite em que anunciou o autogolpe, ele prometeu defender os “reais interesses do povo” e instaurar uma “democracia real” no Peru.