“A Lava Jato tomou uma posição política (…) pegou o Executivo, o Legislativo e o poder econômico, preservando o Judiciário, para não enfraquecer esse Poder. Entendo que a Lava Jato pegará o Judiciário, mas só numa fase posterior, porque muita coisa virá à tona” (Eliana Calmon, ministra aposentada do Superior Tribunal de Justiça, ex-corregedora nacional de Justiça à Folha na quinta, 13)

 Ortiz Jr

Panfleto de campanha, apesar de condenado e cassado

            Arrogância, autoritarismo, nepotismo, aos amigos tudo aos inimigos a lei, são apenas uma pequena amostra das “qualidades” do prefeito Ortiz Jr (PSDB). Mas ele não perde por esperar.

O longo episódio que culminou com seu “rejulgamento” (expressão usada pelo ministro relator Herman Benjamin, do TSE) foi protagonizado por personagens comuns no mesmo Tribunal Superior Eleitoral, TSE e Superior Tribunal de Justiça, STJ. Vejamos.

1ª boia salva-vidas

Ortiz Jr sobreviveu às turbulências jurídicas graças a liminar concedida pelo ministro João Otávio de Noronha, do STJ, que fazia parte do TSE no início de 2015. A simpatia desse ministro pelo PSDB é bastante conhecida nos meios jurídicos.  No dia 12 de janeiro, ele concedeu uma liminar que garantiu ao prefeito Ortiz Jr, a permanência no cargo até o julgamento do recurso contra a decisão do TRE (Tribunal Regional Eleitoral) que manteve a cassação do mandato por abuso de poder econômico e político na eleição de 2012.

Joao otavio

Ministro João Otávio de Noronha, do STJ, engavetou processo de Jr no TSE

            Noronha concedeu a liminar e colocou o processo na gaveta até o final de 2016. Esse gesto permitiu que, mesmo condenado e cassado por um colegiado de segunda instância, Ortiz Jr afrontasse a justiça como candidato a prefeito, apesar de ter seu registro negado pelo próprio TRE. Veja a opinião de Eliana Calmon:

Do tempo em que eu fui corregedora para cá, as coisas [na Justiça] não melhoraram. Há aquela ideia de que não se deve punir o Poder Judiciário. Nas entrevistas, Noronha [o atual corregedor nacional, ministro João Otávio de Noronha] está mais preocupado em blindar os juízes. Ele diz que é preciso dar mais autoridade aos juízes, para que se sintam mais seguros. Caminha no sentido bem diferente do que caminharam os demais corregedores”.

Eliana Calmon

Eliana Calmon, ministra aposentada do STJ e ex-corregedora nacional da Justiça

2ª boia salva-vidas

A segunda intervenção salvadora foi a aberração jurídica patrocinada pelo presidente do TSE, ministro Gilmar Mendes, do STF. Permitiu que Ortiz Júnior fosse “rejulgado” pela mesma corte que já o havia condenado, depois que a ministra Maria Thereza Assis Moura foi substituída pelo ministro Napoleão Nunes Maia Filho, ambos oriundos do STJ. Não satisfeito, Mendes, que votaria apenas se houvesse empate na votação, tomou a palavra após a exposição do relator Benjamin e fez eloquente defesa de Ortiz Júnior. Uma vergonha!, como diria Bóris Casoy. E Ortiz Júnior foi absolvido.

Gilmar Mendes Herman

Ministros: o tucano Gilmar Mendes (STF e TSE) e o relator Herman Benjamin (STJ e TSE)

            Esses mesmos personagens estão presentes no julgamento de Dilma e Temer sobre o uso de recursos indevidos na campanha eleitoral de 2014, patrocinada em grande parte pela empreiteira Odebrecht, conforme declarações dos donos Emílio e Marcelo e uma renca de executivos e ex-executivos da empresa baiana,

Uma luz

A entrevista com Eliana Calmon, que como corregedora conheceu os meandros dos labirintos por onde circula a Justiça, traz uma esperança para os homens de bem desse país e da terra de Lobato. Perguntada se a Lava Jato alcançaria o Poder Judiciário, Calmon não vacilou: “A Lava Jato (…) pegou o Executivo, o Legislativo e o poder econômico, preservando o Judiciário, para não enfraquecer esse Poder. Entendo que a Lava Jato pegará o Judiciário, mas só numa fase posterior, porque muita coisa virá à tona”.

Se a ex-corregedora nacional da Justiça estiver certa, Gilmar Mendes e Ortiz Júnior poderão cair na malha fina que os espera à frente.