“O Brasil não é para principiantes” foi cunhada pelo saudoso e insuspeito Tom Jobim, o mestre dos mestres. Em Nova York ele cunhou também a antológica definição de nossa terra: “Viver no exterior é bom, mas é uma merda, o Brasil é uma merda, mas é bom”.

A ignorância é a inimiga número um de autoridades despreparadas. Vou me prender apenas aos fatos dessa semana que ainda não terminou.

O presidente agendou visita à Rússia, já estava em pé de guerra com as chamadas democracias ocidentais que gravitam em torno da OTAN (Organização do Tratado do Atlântico Norte). No centro da confusão, está a Ucrânia, um ex-satélite soviético acossado por forças militares russas. Em seus luxuosos gabinetes, Biden e Putin trocam ameaças. Tipo coisa de criança que estende o braço antes de uma briga e fala: “quem for macho cospe primeiro”.

Hoje, ninguém mais brinca com fogo e muito menos com armas atômicas. Os russos não querem militares da OTAN em suas fronteiras e os ocidentais querem impedir que os russos invadam e anexem novamente a Ucrânia

Bozo teve tratamento VIP na Rússia de Putin

Diplomatas e especialistas brasileiros recomendaram ao Bozo que não fosse para não correr esse risco. Mas o brilhante capitão estrategista apostava em seu desempenho como estadista, que seria superior às “fracassadas” visitas que o presidente francês e o primeiro-ministro alemão fizeram ao presidente Putin.

A chegada foi a primeira prova. Enquanto Emmanuel Macron e Olaf Scholz tiveram recepção fria, o Bozo teve recepção militar e desfile. Os bolsominiuns deliraram.

No momento seguinte, receberam um balde água gelada em pleno inverno: o Bozo prestou homenagem formal aos soldados comunistas que morreram na Segunda Guerra na luta contra os nazistas. Olavo de Carvalho deve ter se remexido em sua tumba. Ao contrário do tratamento dispensado ao francês e ao alemão recebidos em uma mesa de aproximadamente 5 metros de comprimento, Bozo se encontrou com Putin de forma quase descontraída e quando afirmou que é “solidário à Rússia”.

A homenagem que prestou aos soldados comunistas chocou sua base

Os diplomatas brasileiros de carreira quase arrancaram os próprios cabelos por uma razão simples: criou-se uma indisposição com os países ocidentais. “Como um país importante parece ignorar uma agressão armada de uma grande potência contra um país vizinho menor, uma postura inconsistente com a ênfase histórica do Brasil na paz e na diplomacia”, diz a declaração americana sobre o que disse o Bozo. Além disso, a Rússia importa menos de 1 % de nossas exportações.

A Ucrânia está no meio de uma briga de cachorro grande que está longe de terminar. O Bozo, em vez de se mancar, começou a fazer declarações que viraram piadas prontas, como a de quarta-feira (16), após reunião com Vladimir Putin: “por coincidência ou não, parte das tropas deixaram a fronteira” da Ucrânia durante sua visita à Rússia.

No dia anterior, Ricardo Salles, ex-ministro do Meio Ambiente, postou fake news com montagem sobre uma chamada da CNN “Putin sinaliza recuo da Ucrânia. Presidente do Brasil evita 3ª Guerra Mundial”.

Bozou trocou afagos fascistas com Viktor Orbán, da Hungria

Esse besteirol todo foi comemorado por apoiadores bolsonaristas que replicam nas redes sociais qualquer mentira criada e produzida pelo Gabinete do Ódio que funciona no mesmo andar onde o Bozo despacha no Palácio da Alvorada.

Finalmente, foi à Hungria encontrar-se com primeiro-ministro Viktor Orbán, líder da extrema direita. Na primeira oportunidade tascou o slogan do movimento fascista brasileiro Ação Integralista Brasileira (AIB) “Deus, pátria, família e liberdade”. A última palavra foi incluída ao lema usado pelos integralistas na década de 1930. E não perdeu a chance de chamar Orbán de irmão, “dadas as afinidades” em “praticamente todos os aspectos”.

Ninguém entendeu a estratégia do capitão. Mas sabemos que tudo pode mudar nesses sete meses que antecedem as eleições de 2022. Tom Jobim que o diga!