O cartunista Aroeira diz que a Secretaria de Comunicação Social da Presidência deveria mudar de nome. “Transformaram a Secom na Secen, a Secretaria de Censura e Assuntos Afinas”, ironiza

Aroeira entrou na mira do governo após publicar uma charge crítica a Jair Bolsonaro. O presidente havia incentivado seguidores a invadir hospitais com pacientes infectados pelo coronavírus. No desenho, ele aparece com um balde de tinta e um pincel nas mãos, após transformar uma cruz vermelha numa suástica.

 Na segunda-feira, a Secom usou seus canais oficiais para atacar o cartunista e o jornalista Ricardo Noblat, que replicou a charge no Twitter. O ministro da Justiça, André Mendonça, ordenou que a Polícia Federal investigue os dois com base na Lei de Segurança Nacional.

O novo arroubo autoritário foi condenado por entidades como a Associação Brasileira de Imprensa (ABI) e a Associação Nacional de Jornais (ANJ).

“Acho que isso não vai prosperar, mas estou preocupado. Eu já havia sido processado por pessoas, inclusive o próprio Bolsonaro. Agora estão usando toda a força do Estado para me intimidar”, diz Aroeira.

A ofensiva já produziu um efeito indesejado. Ontem a peça de humor foi reproduzida em dezenas de veículos do Brasil e do exterior. “Sou um chargista de alcance médio, e eles me transformaram em referência mundial. Estou quase abrindo um canal no YouTube!”, brinca Aroeira, que trabalhou no GLOBO entre 1986 e 1992. Hoje ele publica suas charges no site Brasil 247.

Antes de se eleger presidente, Bolsonaro já havia processado o cartunista por outro desenho que o associava ao nazismo. Foi derrotado em duas instâncias judiciais. Ao julgar o caso, a desembargadora Cristina Tereza Gaulia exaltou a liberdade de expressão e afirmou que a charge é um meio tradicional de crítica a políticos.

Ela também lembrou que Bolsonaro não pareceu constrangido ao tirar foto com um candidato fantasiado de nazista nas eleições municipais de 2016. “E não há notícia de que tenha apresentado qualquer irresignação, seja pela via extrajudicial, seja pela judicial”, observou a desembargadora.