É a conclusão da condução e desfecho da audiência realizada na segunda, 17, quando a secretária da Educação, professora Edna Chamon, tinha sido convocada para prestar esclarecimentos e responder aos questionamentos dos vereadores a respeito dos livros do mal adquiridos pela Prefeitura para a rede municipal de ensino

 

O plenário da Câmara Municipal encontrava-se lotado. Houve gente que apostou na possibilidade de ocorrer algum tumulto durante a sessão. Porém, logo nos primeiros momentos foi possível constatar que o público presente era majoritariamente favorável às medidas implementadas pela secretaria da Educação. “A máquina da Prefeitura mobilizou mais gente do que as igrejas evangélicas”, comentou em voz alta um conhecido jornalista que pediu para não ser identificado.

 

Vaias e aplausos

Vereador Noilton Ramos (PSD), pastor evangélico, autor do requerimento que convocou a secretária da Educação, foi o primeiro a discursar. Começou indagando a secretária se ela havia feito alguma convocação para que professores e funcionários da rede municipal de ensino comparecessem àquela sessão. Recebeu uma sonora vaia da maioria dos presentes. Carlos Peixoto (PMDB), presidente daquela Casa, teve dificuldade para restabelecer a ordem.

Noilton continuou seu ataque. Classificou de tendencioso o kit distribuído nas escolas. Recebeu mais vaias que encobriram os poucos adeptos do vereador pastor. Nem mesmo a explicação de material adotado em escolas de mais de quarenta países. Mas Noilton insistia que adoção daqueles livros poderia fazer com que os alunos que os lessem poderiam sofrer pressão dos próprios  amiguinhos. Mais vaias que aumentaram ainda mais quando o vereador afirmou que os livros “eram religiosos”.

Peixoto interveio para reafirmar que os livros não poderiam ser classificados de religiosos e chamou a atenção de que o nosso Estado é laico.

Vereador Salvador Soares (PT) subiu à tribuna para informar que havia lido os livros durante o fim de semana e confessou que aprendeu muito. E rasgou elogios à secretária Edna Chamon pela qualidade dos mesmos.

Duas mães ocuparam tribuna com posições antagônicas. De um lado, uma jovem senhora discursou tal qual uma crente com os mesmos argumentos do vereador pastor. Do outro, uma mãe professora defendeu os livros argumentando que as crianças precisam conhecer diferentes versões para formar sua própria opinião.

 

Solução salomônica: parto da montanha

A secretária da Educação, Edna Chamon decidiu, ao final da audiência pública ocorrida na Câmara de Taubaté, na segunda-feira, 17, que os livros que compõem o kit distribuído aos alunos da rede municipal de ensino vão continuar no cronograma de estudo, porém, os quatro títulos que causaram polêmica sobre o seu conteúdo, considerados impróprios por algumas mães, não serão avaliados em prova. “As obras fazem parte de um programa de leitura aprovado pela equipe técnica da Prefeitura, fazem parte de uma proposta de ensino e possui títulos premiados – como o ABC Doido, que foi apontado como preocupante, por fazer apologia ao diabo – e comercializados em mais de 40 países”, defendeu a secretária.

O presidente da Câmara Municipal de Taubaté, Carlos Peixoto, concordou com o desfecho da sessão que respeitou a opinião dos pais descontentes sobre a obrigatoriedade da leitura dos livros criticados, pois outros quatro títulos serão sugeridos para serem cobrados em prova. “A discussão entre a secretária Edna Chamon, professores, pais de alunos e os profissionais da casa chegou a um consenso, levantou vários tópicos interessantes sobre a educação, tirou dúvidas, etc. e por isso foi muito produtiva”, esclareceu Peixoto.

Um final que pode ser classificado com um verdadeiro parto da montanha. Para quem não se recorda:

Parto da montanha, uma fábula de Esopo.

Há muitos e muitos anos uma montanha começou a fazer um barulhão. As pessoas acharam que era porque ela ia ter um filho. Veio gente de longe e de perto, e se formou uma grande multidão querendo ver o que ia nascer da montanha.

Bobos e sabidos, todos tinham seus palpites. Os dias foram passando, as semanas foram passando e no fim os meses foram passando, e o barulho da montanha aumentava cada vez mais.

Os palpites das pessoas foram ficando cada vez mais malucos. Alguns diziam que o mundo ia acabar.

Um belo dia o barulho ficou fortíssimo, a montanha tremeu toda e depois rachou num rugido de arrepiar os cabelos. As pessoas nem respiravam de medo. De repente, do meio do pó e do barulho, apareceu … um rato”.

 

Compra suspeita

Na sessão de quarta-feira, 19, Carlão retomou o processo de compra dos livros ao afirmar que se a secretária Edna Chamon reafirmar o que disse na sessão de audiência pública no dia anterior, ela estaria confessando que não houve processo de licitação.

Uma questão que ainda vai dar muito pano para as mangas.