Invasão do Congresso Nacional em 08 de outubro

A investigação da Polícia Federal sobre os atos de 8 de janeiro avançou na coleta de evidências de que os chamados kids pretos, agentes das Forças Especiais do Exército que ocuparam dezenas de postos importantes no governo de Jair Bolsonaro, tinham agentes infiltrados entre os golpistas e aplicaram seus métodos para incentivar e facilitar a invasão das sedes dos Três Poderes (CONTATO reproduz três matérias a respeito veiculadas pelo site da revista piauí em maio, pelo site G1 em 30 de setembro e hoje pelo blog da jornalista Malu Gaspar d’OGlobo)

As Forças Especiais são a tropa de elite do Exército, formada para atuar em missões confidenciais de alto risco e nas chamadas “operações de guerra irregular” – como guerrilha urbana, insurgência e movimentos de resistência. O apelido de kid preto tem a ver com a cor do gorro usado por esses militares.

De acordo com fontes ligadas à apuração, imagens das câmeras de segurança da Esplanada e depoimentos dos vândalos que estavam no meio do tumulto naquele dia indicam que havia kids pretos em vários pontos estratégicos da Praça dos Três Poderes.

A suspeita de que essa tropa tivesse participação nos atos foi levantada pela primeira vez em uma reportagem da revista Piauí de junho passado, em que o repórter Allan de Abreu identificava nas imagens daquele dia várias táticas características das forças especiais.

Ao longo da investigação, porém, a PF colheu mais depoimentos e analisou novas evidências.

Elas sugerem, por exemplo, que esses militares foram os primeiros a invadir o Congresso Nacional e facilitar a entrada dos outros manifestantes.

Nas imagens em poder da PF, é possível ver que homens usando balaclavas (o gorro preto que caracteriza essas tropas) e luvas abriram escotilhas de passagens no teto do Congresso. Depois, entraram no salão verde da Câmara dos Deputados por uma escada improvisada com os gradis normalmente usados para cercar o parlamento.

Nos depoimentos, vários dos golpistas presos por determinação do Supremo Tribunal Federal (STF) mencionaram a presença desses indivíduos no meio da multidão e disseram ter sido orientados sobre o rumo a tomar.

O mesmo método foi usado na invasão do Palácio do Planalto. Nesse caso, os gradis ajudaram os golpistas a alçar a entrada principal do palácio, que só pode ser acessada da rua por uma rampa.

O desafio da PF agora é identificar com precisão quem eram esses militares e qual a participação de cada um nas invasões, o que está sendo feito via imagens e depoimentos.

Alguns dos kids pretos na mira das investigações são conhecidos – como por exemplo o general da reserva Ridauto Fernandes, alvo de ordens de busca e apreensão na semana passada.

O general, que comandou a área de logística do Ministério da Saúde no governo Bolsonaro, se notabilizou por suas manifestações em redes sociais a favor de uma intervenção militar e defendendo a ditadura militar.

Ele publicou vídeos em suas redes sociais durante as invasões em que aparecia falando do meio da multidão, enrolado em uma bandeira do Brasil em frente à sede do STF. “Quero dizer que eu tô arrepiado aqui”, afirmava no vídeo.

Ao depor na PF, na semana passada, o general afirmou que foi à Esplanada dos Ministérios no dia 8 de janeiro para se manifestar contra o resultado das eleições e que, quando a confusão começou, deixou o local e foi para casa.

Além dele, vários outros kids pretos ocuparam cargos importantes no governo Bolsonaro – de acordo com a revista Piauí foram pelo menos 26.

General Luiz Eduardo Ramos, um dos kid preto no governo Bolsonaro 

O ex-presidente da República tinha admiração pelas forças especiais e, quando estava na ativa, tentou integrar essa tropa de elite. Chegou a fazer a primeira etapa da formação, como paraquedista, mas não foi aprovado nas fases seguintes.

Um deles foi o general Luiz Eduardo Ramos, que comandou a Casa Civil e a Secretaria-Geral da Presidência, além da de Governo, e por Eduardo Pazuello, que comandou a Saúde durante o período mais crítico da pandemia.

O próprio ajudante de ordens de Bolsonaro, o tenente-coronel Mauro Cid, era um desses militares.

Em delação, Mauro Cid disse à Polícia Federal que Bolsonaro fez reuniões no Alvorada para consultar os chefes das Forças Armadas sobre minutas de intervenção militar, entre o primeiro e o segundo turno das eleições de 2022.

Cid afirmou ainda que o comandante da Marinha se colocou à disposição do presidente. No relato, Cid teria dito que o comandante do Exército foi contra a tentativa de golpe.