Premonição? Pode ser. Mas Tony já batizou um de seus discos de Algoritmos do Rock

Foi um daqueles momentos irretocáveis, como se o destino sussurrasse ao ouvido. Cheguei em casa exausto depois de um Dia dos Pais intenso, liguei a TV quase por reflexo – e lá estava ele. Tony Campelo, aos 89 anos, brilhando no programa Persona da TV Cultura como um cometa riscando o céu. Não era só um ícone na tela; era um pedaço vivo da minha história, da nossa história. Taubaté, o rock, o sertanejo do Brasil modernizado pulsando em suas palavras.

Ali, naquele instante, percebi algo que há muito tempo deveria ter sido óbvio: Tony Campelo não é apenas um nome do passado – ele é uma lenda que ainda respira, ainda cria, ainda inspira. E, no entanto, quantos jovens hoje sabem quem foi esse homem? Quantos conhecem o taubateano que ajudou a moldar a música brasileira como poucos?

Nascido Sérgio Benelli Campello, ele adotou o nome Tony inspirado no galã Tony Curtis – e que nome adequado para um homem que, como o astro de Hollywood, viveu uma trajetória de estrelato. Mas sua fama não veio apenas dos palcos. Tony foi um reorganizador da música brasileira, um profeta que ajudou a esculpir o som de gerações.

Celly e Tony Campello marcaram  a juventude de muitas gerações

E tudo começou em Taubaté, nossa cidade, onde o violão e o piano se tornaram suas armas numa revolução sonora. Enquanto o Brasil dos anos 50 ainda se embalava em boleros e sambas-canção, Tony e sua irmã, a doce e talentosa Celly Campelo, já ouviam no rádio os ecos distantes de um novo ritmo que explodia nos EUA: o rock’n’roll.

Antes de Roberto Carlos, antes de Erasmo, antes mesmo que a palavra “Jovem Guarda” existisse, Taubaté já tinha seus reis do rock. Tony e Celly eram os “brotos legais” que incendiaram os bailes do Taubaté Country Club com a banda Ritmos OK, introduzindo o rock’n’roll em terras brasileiras quando ainda era um ritmo exótico, quase proibido.

Enquanto Nora Ney e Cauby Peixoto apenas experimentavam o novo estilo, Tony e Celly mergulharam de cabeça, criando clássicos como “Estúpido Cupido” e “Boogie do Bebê”. E as carinhas jovens rejuvenesciam nosso cancioneiro, até então dominado por lacrimejantes boleros e músicas de fossa.

Mas Tony não era só um músico — era um prodígio autodidata, um homem que enxergava além. Enquanto Celly brilhava como a princesinha do rock brasileiro, ele trabalhava nos bastidores, moldando o futuro da música. E foi essa dualidade que o tornou único: um artista no palco e um gênio na cabine de produção.

Bons tempos dos compactos de 33 RPM

Se Tony ajudou a fundar o rock no Brasil, também foi ele quem reinventou a música sertaneja. Com raízes fincadas no interior, ele tinha o ouvido perfeito para modernizar o gênero sem perder sua essência. Na RCA, sua mão de produtor transformou carreiras. Sérgio Reis, Deny & Dino, Léo Canhoto & Robertinho – todos beberam de sua genialidade. Ele não apenas produzia; ele traduzia. Pegava a alma caipira e a vestia com arranjos contemporâneos, levando o sertanejo para as rádios de todo o país.

Enquanto o rock o consagrou como pioneiro, foi no sertanejo que ele mostrou sua verdadeira maestria. Tony Campelo não era apenas um artista; era um visionário que entendia que a música brasileira precisava evoluir sem perder suas raízes.

O final da entrevista no Persona foi de cortar o coração. Renato Teixeira, outro filho do coração de Taubaté, apareceu para dizer o que todos nós sentimos: “Muito obrigado, Serginho. É uma honra ter você de volta ao lugar que é nosso.”

E é isso. Tony Campelo não é apenas um nome nos livros de música – é um pedaço da nossa identidade. Em 1996, ele e Celly receberam o título de Cidadãos Taubateanos, um reconhecimento justo para quem colocou nossa cidade no mapa cultural do Brasil. Mas depois disso… depois disso, reinou um silêncio que precisa ser quebrado.

Quantas cidades no mundo têm o privilégio de ter gerado um gênio como Tony Campelo? Pouquíssimas. E, no entanto, quantas vezes Taubaté já celebrou seu legado como deveria? Precisamos de um grande evento – um show-tributo, um documentário, uma exposição permanente no Museu Histórico. Algo que revigore sua memória e mostre às novas gerações que a história da música brasileira passa por Taubaté.

Tony Campello em evento da Prefeitura paulistana em 2017

Imagine: um festival anual “Tony & Celly Campelo”, reunindo rock, sertanejo e MPB, celebrando não apenas o passado, mas o futuro da música. Artistas locais e nacionais poderiam se apresentar, e Tony—nosso eterno mestre – seria coroado em vida, como merece.

Taubaté, está na hora de trazer nosso herói de volta. Vamos celebrar Tony Campelo não como uma lembrança distante, mas como o gênio vivo que ele ainda é. E sabe por quê? Porque sua história não acabou. Ela ainda está sendo escrita.