Por Paulo de Tarso Venceslau


Poder e lança-perfume

Todos os políticos que chegam ao poder se esquecem que se trata de uma situação passageira. Passada a euforia provocada pela rodo-metálica do poder, mais cedo ou mais tarde eles caem na real. E aí...


Carlos Peixoto, vereador e presidente da Câmara Municipal, fez revelações inéditas na entrevista que concedeu a CONTATO, edição 302, como: “Infelizmente, a imprensa em Taubaté não se garante sozinha. Ela, infelizmente, depende dos órgãos públicos para sobreviver”. Essa regra local é extensiva para todo o país, quiçá para todo o planetinha Terra. E como toda regra, ela tem exceções. Felizmente.


Na terra de Lobato, o Jornal CONTATO tem lutado para garantir aos seus leitores notícias e análises que os demais órgãos de imprensa, sem exceção, muitas vezes fingem que não vêm. Afinal, a veiculação de editais, “noticiários” em rádios e TVs sobre as realizações de nossas autoridades são apenas pontas de imensos icebergs que escondem relações impublicáveis (desculpem a redundância do óbvio!). Agora, é o chefe do poder Legislativo quem afirma com conhecimento de causa de quem até ontem exercia o papel de líder do poder Executivo.


No mesmo exemplar, na matéria com Maykel Justo recém-chegado do Rali Paris-Dakar, CONTATO apurou as estranhas ordens emitidas pela poderosa Rede Globo para seus repórteres no exterior: não fazer imagens das logomarcas da Petrobras e Lubrax porque não quiseram aceitar as condições exigidas pela poderosa Globo. Coube a Band nacional informar o que Globo não considerou “notícia”.


Voltando a Taubaté, nossas autoridades municipais ainda não aprenderam a conviver com a democracia sem adjetivos. Esquecem-se, por exemplo, que são pessoas públicas responsáveis pela administração de recursos oriundos do meu, do seu, do nosso dinheirinho pago na boca do caixa da prefeitura.


Diante de tanta amnésia, fazem questão de perseguir e ameaçar a imprensa que não se alimenta das migalhas do Palácio Bom Conselho. E aí a situação se torna patética. Isso mesmo. Aquele sentimento provocado por piedade, compassiva, um mix entre tristeza, terror e tragédia. Na verdade, amnésia, não querendo fazer mas já fazendo um trocadilho, é a expressão mais visível da miséria desse governo. Miséria em todos os sentidos: de espírito, de idéias, de realizações, de ética e de valores elementares como a honestidade que se aprende em casa quando criança.


A miséria da amnésia provoca, também, a falsa euforia, tal qual aquela provocada pelo jato de rodo metálico de velhos carnavais, onde os auto-elogios em matéria pagas ou em espaços e tempos adquiridos e divulgados como se notícias fossem tivessem alguma coisa com a realidade. Esquecem, de novo, que a ressaca e suas conseqüências são partes integrantes e indissociáveis da falsa euforia.


Aos poucos, os sinais começam a aparecer. Só os embriagados pelo poder não vêem. Todo drogado se julga sempre com razão enquanto se mantêm drogado. O poder é uma droga que embriaga e, aos inquilinos transitórios de palácios, causa a sensação de que os mesmos ali permanecerão eternamente. Há sinais que já mostram que, lentamente, tribunais e ministérios públicos, em especial o federal que não se enamorou de Peixoto, juntam as peças de um quebra-cabeça. E como todo quebra-cabeça, as peças se encaixam, uma a uma, sempre que colocadas corretamente.


O Executivo conseguiu, até hoje, impedir que a Câmara cumprisse seu papel, Outra revelação feita por Carlos Peixoto: “Enquanto líder do governo, eu tentava blindar o prefeito de tudo”. E mais adiante afirma: “… a prova disso é que nenhuma CEI (Comissão Especial de Investigação) foi implantada na Câmara contra o prefeito [enquanto fui seu líder]”. Nem mesmo as impressões digitais de Fernando Gigli no imbróglio da campanha do Iluminatau, em dezembro de 2005, foram suficientes para a oposição reunir votos necessários para a instalação de uma CEI para apurar a existência comprovada de caixa 2 na prefeitura.


A imprensa local, com exceção de CONTATO, ignorou a gravidade do episódio. Um semanário chegou a publicar matéria feita no Palácio Bom Conselho, como se fosse reportagem, tentando provar que Papai Noel existe. A Vanguarda (Globo), com participação direta no episódio, agiu como no último rali Paris-Dakar.


Mas a Justiça, embora lenta, aos poucos vai emitindo sinais e dão um alento para quem cultiva a esperança de ver os crimes desvendados e seus autores devidamente punidos.




 

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