Por Paulo de Tarso Venceslau
e Jorge Fernandes
“A
maioria será sempre respeitada”
Transparência
e acatar a decisão da maioria são alguns dos compromissos
assumidos pelo vereador Carlos Peixoto (PMDB,) novo presidente da Câmara
de Taubaté. Carlão, como é conhecido, revela segredos
sobre a estratégia política para 2008, seu entusiasmo
pelo Parlamento Regional, assegura que Padre Marlon foi fundamental
para sua carreira política e é taxativo quanto a próxima
eleição. “Será polarizada entre Ortiz e Peixoto
e eu vou para o lado do Peixoto, mas sempre respeitando bastante o passado
de Bernardo Ortiz”. Confira os principais trechos da entrevista
exclusiva:
Carlos
Peixoto
CONTATO
– O que muda no comportamento do vereador ex-líder do governo
como presidente da Câmara Municipal?
Carlos Peixoto – A partir do momento em que eu ganhei
a presidência da Câmara abandonei a liderança do
governo. Pretendo ter um ano de bastante independência dentro
da Casa. Jamais poderia comandar esta Casa de Leis sendo líder
do prefeito. A liderança passou para o vereador Chico Saad (PMDB).
CONTATO
– Seu comportamento será bastante diferenciado do que tinha
quando líder?
Carlos Peixoto – Enquanto líder do governo, eu
tentava blindar o prefeito de tudo. Tentava ajudar o Executivo naquilo
que eu podia. Agora não. Temos que deixar os vereadores trabalharem
da maneira que eles acham que seja certo e eu, como presidente, apenas
dando aval do que a maioria decidir.
CONTATO
– Qual o balanço que o senhor faz de seus dois anos como
vereador?
Carlos Peixoto – Positivo. O número de requerimentos
do nosso gabinete foi realmente alto com projetos de lei, monções.
Como líder do prefeito, eu também não posso reclamar.
Conseguimos atingir nosso objetivo nesses dois anos e a prova disso
é que nenhuma CEI (Comissão Especial de Investigação)
foi implantada na Câmara contra o prefeito. Coloco a criação
do Parlamento Regional como a grande bandeira desses dois anos.
CONTATO
– O que vem a ser o Parlamento Regional?
Carlos Peixoto – São vereadores de todas as cidades
do Vale do Paraíba que participam desse congresso de vereadores.
Reúne-se a cada mês em uma cidade. Apenas um vereador de
cada Câmara tem poder de voto. Por exemplo, em Taubaté
temos 14 vereadores que podem participar, mas apenas um vota para que
as cidades maiores não tenham poder maior do que as menores.
A sugestão da criação do Parlamento partiu deste
vereador [Carlos Peixoto]. Tomei conhecimento do Parlamento criado na
região da Baixada Fluminense e na cidade de Sorocaba e me interessei.
CONTATO
– Qual é o foco do Parlamento Regional?
Carlos Peixoto – Discutir os problemas comuns regionais
e fazer apenas uma voz. Um exemplo de resultado do Parlamento ocorreu
na cidade de Salesópolis, que faz parte da grande São
Paulo, mas que veio participar do [nosso] Parlamento. 96% de sua área
é formada por mananciais. Não tinha cemitério na
cidade. Todas as Câmaras Municipais, através do Parlamento,
fizeram um documento e hoje já tem cemitério. Aqui na
região, por exemplo, o grande problema é da telefonia.
Fizemos um pedido para que na região 12 do Vale do Paraíba
não fosse cobrada o interurbano. Por meio do Parlamento, conseguimos
que sejam microrregiões. Exemplo: no Litoral Norte não
irá mais para interurbano, de Taubaté para São
José também não, o Vale histórico também
assim como na região Serrana. A intenção não
pagar interurbano em toda a região, mas consideramos isso uma
conquista. [Será implantado] a partir de março.
CONTATO
– O Parlamento não entra em conflito com o Codivap?
Carlos Peixoto – Não. Inclusive foi criado no
Codivap (Consórcio de Desenvolvimento do Vale do Paraíba).
Existe uma idéia de juntar essas duas forças. Nas reuniões
do Parlamento Regional há uma média de 50 a 60 vereadores
presentes enquanto que no Codivap o número gira em torno de 10
a 15 porque ali participam apenas os presidentes de Câmaras. [Além
disso], periodicamente deputados freqüentam as reuniões
do Parlamento [embora] ainda não exista um canal institucional
com o governo do Estado.
CONTATO
– Algum outro de destaque para esses dois anos?
Carlos Peixoto – Brigamos bastante aqui na Câmara
para resgatar a cultura de Taubaté. Fico muito chateado quando
pergunto para um aluno da rede de ensino se ele já assistiu um
filme de Mazzaropi e ele fala que não e quem nem sabe quem foi
Mazzaropi. É um briga minha que tenho inclusive com o prefeito
para que, ao menos nas aulas de história, 20% fossem direcionadas
à cultura taubateana. Infelizmente isso não acontece.
CONTATO
– Qual sua avaliação da atuação da
imprensa taubateana em geral?
Carlos Peixoto – Infelizmente, a imprensa em Taubaté
não se garante sozinha. Ela, infelizmente, depende dos órgãos
públicos para sobreviver. Isso acaba travando um pouco o anseio
do jornal de fazer as críticas que deveriam ser feitas. Como
jornalista, infelizmente essa profissão não é valorizada
na região até porque não apresenta condições
de pagar bem seus jornalistas. Hoje existe uma dependência muito
grande na imprensa pelos órgãos públicos.
CONTATO
– Houve algumas turbulências no relacionamento do vereador
com a Imprensa, especialmente com o Jornal CONTATO. Como avalia aqueles
acontecimentos?
Carlos Peixoto – Acho que a verdade tem que aparecer
sempre. As desavenças que tive na época com o Jornal CONTATO
foram [motivadas] por publicar denúncia sem prova. O jornal colocou
que eu estava fazendo tráfico de influência. Aonde foi
provado que fiz tráfico de influência? Foi publicado algo
mais ou menos nesse sentido: ‘hoje, graças ao tráfico
de influência, o Banco Votorantim está entrando na Prefeitura’.
Não entrou. Eu não tenho ligação nenhuma
com o Banco Votorantim. Foi feita uma acusação sem que
o fato tenha sido consumado.
CONTATO
– Mas havia outdoor pela cidade anunciando um programa de rádio
patrocinado pelo banco Votorantim...
Carlos Peixoto – Concordo plenamente. Até de ter
um outdoor na cidade com o Banco patrocinando é uma coisa. Agora,
o Banco ter entrado na prefeitura graças a um pedido meu existiu
e a acusação foi exatamente essa. A expressão “tráfico
de influência” foi o que me deixou bravo na época.
CONTATO
– O senhor ingressou no PMDB em 2006. O prefeito Roberto Peixoto
pode seguir o mesmo caminho?
Carlos Peixoto – Acho um caminho natural do prefeito.
Eu não entrei no PMDB porque ele viria mais tarde. Não
teve esse acordo. Eu acredito que esse seja um caminho natural dele.
Apesar de que no lugar dele eu não iria direto para o PMDB. Eu
entraria no PFL. Assim, ele teria dois grandes partidos junto com ele.
Se ele vier para o PMDB, o PFL fica livre para se coligar com o PSDB
na eleição de 2008.
CONTATO
– O PFL está de namoro com Peixoto e se comenta que o ex-prefeito
Antônio Mário, liderança do PFL em Taubaté,
iria assumir a chefia de gabinete de Peixoto. Isso está dentro
dessa estratégia?
Carlos Peixoto – Eu desconheço quanto à
chefia de gabinete. Mas posso garantir que está realmente existindo
uma conversa entre eles. Acredito que eles estão chegando a um
acordo quanto a 2008.
CONTATO
– O senhor acha viável desfazer uma aliança PFL-PSDB
e criar uma aliança aqui entre PFL-PMDB?
Carlos Peixoto – Totalmente natural. Na eleição
da Câmara, o PT se juntou com o PSDB.
CONTATO
– Quais suas prioridades para o Legislativo?
Carlos Peixoto – Transparência. Tenho colocado
isso para os vereadores. O que a gente puder divulgar e facilitar para
que tenham liberdade de trabalhar bem, a gente vai fazer. Vamos construir
um anexo de três andares ao lado da Câmara. O primeiro andar
será para frota de carros da Câmara, o segundo para o CAT
(Centro de Apoio ao Taubateano) e o terceiro para a área de comunicação
da Casa.
CONTATO
– Como pretende assegurar independência frente ao Executivo?
Carlos Peixoto – Sempre a maioria vai vencer. Eu não
vou me intrometer no trabalho político dos vereadores da situação
ou da oposição. Vou fazer meu trabalho de presidente.
Vou ser o voto Minerva. Não vamos travar projetos nem CEIs. Eu
acho importantíssimo a oposição ter se fortalecido.
A maioria [tranqüila] dentro da Casa acaba com a discussão
política.
CONTATO
– Mas em questões mais delicadas a pressão do Executivo
será maior.
Carlos Peixoto – Não tenho dúvida. Mas,
haverá muita discussão no plenário. Os vereadores
vão se aprofundar mais no assunto para convencer seus pares.
Por isso, acho importante o fortalecimento da oposição
é positivo.
CONTATO
– Já definiu os nomes de sua assessoria?
Carlos Peixoto – O Itamar de Jesus é o chefe de
gabinete. Ele é meu fiel escudeiro aqui na presidência.
Os demais cargos da presidência a gente manteve e trouxe a minha
assessoria.
CONTATO
– Quais os próximos passos políticos do vereador
Carlos Peixoto?
Carlos Peixoto – Gosto muito de rádio. Tenho um
programa semanal na Difusora e pretendo voltar ao rádio um dia.
Todo o político que fala que só quer ficar como vereador
é uma falsa modéstia. Na última eleição
houve uma cobrança para que eu saísse candidato. Mas eu
não me sentia preparada para assumir esse cargo. Quero cumprir
meu mandato primeiro e depois tentar uma reeleição.
CONTATO
– Na sua primeira eleição houve dois fatores importantes:
sua relação com o prefeito eleito e a outra com o Padre
Marlon. Pretende manter essa base?
Carlos Peixoto – Com certeza. [Mas] eu não coloco
a relação com o prefeito como uma grande força
na minha campanha. Já fui candidato antes quando ele foi candidato
a vice, quando a popularidade dele, na minha opinião, era a mesma,
e não fui eleito. Não sei nem se fui candidato dele para
falar a verdade porque seria meu único voto em sua casa. Agora,
com o Padre Marlon pretendo estreitar minhas relações,
sem dúvida. [Foi] uma grande força e inclusive foi ele
quem me incentivou e sua força foi fundamental para minha eleição.
CONTATO
– Ortiz está em franca campanha para si ou para o filho
dele. O senhor acha que sua ida para o PMDB já é um indício
de um confronto inevitável contra a família Ortiz?
Carlos Peixoto – Eu não tenho nada, absolutamente
nada, contra a família Ortiz. O Bernardo Ortiz foi uma pessoa
que eu sempre admirei. Eu não tenho dúvida de que ele
transformou Taubaté em seu primeiro mandato. Depois, acho que
deixou a desejar, mas seu primeiro mandato talvez tenha sido o melhor
de um prefeito de Taubaté. Tenho amizade grande com os filhos
do Bernardo e não vou ficar jamais batendo por causa de suas
desavenças políticas com meu tio [prefeito Roberto Peixoto].
A eleição [de 2008] será polarizada entre Ortiz
e Peixoto e eu vou para o lado do Peixoto na disputa política,
mas sempre respeitando bastante o passado de Bernardo Ortiz.
“Enquanto
líder do governo,
eu tentava blindar o prefeito de tudo”
“No
lugar de Peixoto, eu não iria direto para o PMDB.
Entraria no PFL e teria [apoio de] dois grandes partidos [em 2008]”

Carlos Peixoto ao lado de Itamar de Jesus (esq), seu chefe de gabinete,
e Luiz Carlos (dir), assessor de comunicação da CMT.