ACM,
José Dirceu e as gavetas de Fernando
Morais
A morte de Antônio
Carlos Magalhães, o último do coronéis, segunda
boa parte de grande mídia, pode trazer à tona um livro
já pronto do escritor Fernando Morais sobre o babalaorixá
baiano, o que não deverá acontecer com a biografia
do ex-ministro José Dirceu, convenientemente esquecida
Por
Pedro Venceslau
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Entre
idas e vindas, a biografia de ACM está ha onze anos na
lista de espera do jornalista e escritor Fernando Morais. O projeto
de contar a história do senador existe desde 1996, mesmo
ano de lançamento do livro Chatô.
A idéia surgiu durante
uma entrevista no programa Jô Soares, que perguntou quais
seriam os nomes de personagens vivos que Morais gostaria de biografar.
“Apolônio de Carvalho, Geisel e ACM”, respondeu,
de pronto, o entrevistado. O convite repercutiu imediatamente.
Através de um amigo em comum, o empresário Felipe
Reichtul, o então senador recém eleito fez chegar
em Morais um convite para um almoço em Brasília.
A conversa fluiu bem. O cacique baiano aceitou a única
exigência feita pelo biógrafo: independência
total.
Desde então, o livro
esteve perto de ir para gráfica diversas vezes, mas sempre
que isso acontecia ACM protagonizava mais um capítulo:
a morte do filho, Luís Eduardo Magalhães, o caso
dos grampos, a renúncia, o retorno ao Senado como quadro
do governo Lula, a derrota na Bahia.
O livro ainda não existe,
mas já tem título ‘As sete mortes de ACM’.
Com a morte do senador, é grande a expectativa no mercado
editorial pelo lançamento da obra, que deve chegar as livrarias
até o fim do ano.
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Outra
biografia de Morais que repousa nas gavetas de Morais é
a do ex-ministro José Dirceu. Esse livro, aliás,
já virou novela. A história dos 30 meses do ex-guerrilheiro
no poder já foi anunciada diversas vezes. No último
recuo, Morais disse que o livro havia sido roubado junto com um
computador em sua casa no Guarujá.
Na última FLIP (Festa
Literária Internacional de Paraty), entretanto, o biógrafo
mudou de versão. Em uma das mesas de debate disse textualmente
que o livro foi finalizado e está com o ex-ministro. “Estive
com ele por 15 vezes, gravamos dezenas de horas e depois ouvi
e escrevi. Mas o livro é dele, não meu. [É]
Ele que conta a sua história. Eu servi como condutor e
talvez como um tipo de gosht writer”, revelou.
Morais ainda acrescentou que
nas entrevistas ele apenas dava uma direcionada nos depoimentos.
“Quando o Zé perdia muito tempo falando dos projetos
estratégicos que ele coordenou, [eu] chamava a atenção
para coisas mais interessantes. Perguntava, por exemplo, em que
momento ele percebeu que a coisa dele com o Lula estava desandando,
se perdendo”.
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O
coronel e a mídia
“Há
três tipos de repórteres: o quer dinheiro, o que
quer notícia e o que quer emprego. O correto é não
dar dinheiro a quem quer notícia; notícia a quem
quer emprego; e emprego a quem quer dinheiro. O político
não pode é errar”. Essa frase,
de autoria do senador Antonio Carlos Magalhães, foi publicada
no livro “Política e paixão”, da editora
Revan.
Em poucas linhas, ACM resume
bem seu modus operandi com a mídia. Aos amigos,
gracejos, afeto e afagos. Aos críticos (ou inimigos) truculência.
O que pouca gente sabe é que, antes da política,
ACM foi repórter. Desde que foi eleito pela primeira vez
deputado estadual na Bahia, a opinião pública sempre
foi alvo preferencial de sua “diplomacia”. Nesse livro,
que nasceu de uma longa entrevista exclusiva que o senador concedeu
a Ancelmo Góis, Miriam Leitão, Marcelo Pontes, Mauricio
Dias e Rui Xavier, em janeiro de 1995, ACM conta que costumava
“fornecer” três ou quatro entrevistas exclusivas
a colunistas. Que fique bem claro: não falava com todos,
apenas com aqueles que gostava. O senador gostava daqueles que
gostavam dele. E ponto final.
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