Funcionária é agredida
dentro da LG Eletronics

Jornalista que trabalha com notícias policiais, em geral, encontra as melhores histórias nos bairros mais pobres da cidade. Mas essa regra não vale para quem quiser ser um repórter policial em Taubaté. Na terra de Monteiro Lobato, as histórias mais truculentas e absurdas têm endereço certo: a unidade taubateana da empresa LG Eletronics, localizada às margens da Rodovia Presidente Dutra

Por Marcos Limão

    

       Uma funcionária da LG Eletronics foi agredida com um tapa nas costas pelo supervisor simplesmente porque estava conversando no horário de trabalho. O agressor é um coreano, que atende pelo nome de Mister Ahn.
       A vítima, que pediu para não ser identificada, disse que não agüenta mais trabalhar na empresa, e desabafa: "eu tô sentindo pavor de coreano".

Agressão

       No dia 6 de junho, Rebeca* trabalhou normalmente, das 7h30’ às 15h45’, no setor da fábrica onde são produzidos os monitores. Depois do expediente, ela foi recrutada para "quebrar um galho" no setor dos celulares com tecnologia GSM.
       A vítima disse que esperava o material chegar para começar o trabalho. Enquanto o material não chegava, Rebeca e outras funcionárias conversavam com o cipeiro Adriano de Calais Costa sobre uma reunião que acabara de acontecer sobre a PLR (Participação de Lucros e Resultados).
       Por volta das 16h15 , Rebeca conta que "entrou o Senhor Mister Han. Eu estava de costas para a porta. Ele entrou, deu um tapa nas minhas costas e começou a gritar em coreano. Nisso, eu já vi a maior correria entre as meninas. Todo mundo desesperado, porque viu que ele tinha dado um tapa. Ele começou a se alterar na voz, mas falava em coreano."
       Sem entender o motivo da agressão, a vítima ficou paralisada. Depois de gesticular e falar alto, Mister Ahn resolveu gritar em português: "Conversa é lá fora. Aqui é lugar de trabalho!", sem saber que a funcionária aguardava o material chegar para começar o trabalho.
       Em seguida, Rebeca desceu para o banheiro e chora. Pegou seus pertences e foi para a delegacia - fazer um Boletim de Ocorrência. Seguiu para o Instituto Médico Legal e passou por um exame de corpo e delito. Como o tapa não deixou seqüelas físicas, o caso foi classificado como "injúria e vias de fato".

Pressão

       Na segunda-feira após o acontecido, 11 de junho, o Departamento de Recurso Humanos da LG chamou a funcionária agredida "para fazer uma leve pressão", segundo o relato de Rebeca. A empresa redigiu um documento, onde contou a história de uma forma diferente, mais sutil para o lado do agressor, e pediu para ela assinar. "Eles colocavam palavras na minha boca", disse Rebeca, que não assinou o documento.
       O episódio foi presenciado e confirmado por Fábio de Godoy, funcionário e diretor de base da empresa pelo Sindicato dos Metalúrgicos de Taubaté.

Médico

       A agressão não deixou seqüelas físicas, mas o lado psicológico da vítima ficou abalado. Desde aquele dia, 6 de junho, ela não consegue trabalhar direito. Tem a sensação de que todos os funcionários comentam sobre ela. Sente-se perseguida na fábrica.
Na terça-feira, 24 de julho, Rebeca foi trabalhar. Como havia sentido dores de ouvido, levou um atestado médico para a assistente social da LG, que, entre conversas, relembrou o constrangimento sofrido no dia 06 de junho. A vítima começou a chorar. Imediatamente foi encaminhada para um psiquiatra, em Pindamonhangaba. Neste momento, está afastada da empresa.

"Senhor Mister Ahn"

       No bate-papo sobre as atitudes do supervisor dentro da fábrica, Rebeca chama o agressor de "Senhor Mister Ahn", numa clara alusão de respeito imposto pelo medo. E completa: "As meninas de lá [setor do celular, de responsabilidade da Ahn] morrem de medo dele".
       Um membro da CIPA (Comissão Interna de Prevenção de Acidentes) da LG, Adriano de Calais Costa, e o diretor do Sindicato dos Metalúrgicos de Taubaté, Fábio de Godoy, confirmaram a maneira desrespeitosa com que Mister Anh trata os funcionários. Segundo Costa, "ele [Miste Ahn] não respeita as pessoas". Já Godoy esclarece que Mister Ahn "não conseguiu assimilar a cultura brasileira e acaba agindo com truculência."

Reincidência

       Não é a primeira vez que a LG vira notícia digna de páginas policiais. Na edição nº 310, CONTATO denunciou a humilhação seguida de ameaça de morte que Júlio César André de Souza sofreu dentro da LG Eletronics. Na época, Souza era cipeiro na empresa e alegou que o motivo da humilhação foi por causa da sua atuação dentro da fábrica. O agressor da ocasião, Richard Moon, ameaçou demitir os funcionários que testemunhassem a favor do agredido.
       Nessa matéria, Souza declarou que o agressor berrou para quem quisesse ouvir: “Aqui no Brasil a lei que vale é a do dinheiro”. Trata-se de uma manifestação colonialista de quem quer reeditar aqui as relações trabalhistas mantidas em sua terra natal onde crianças e mulheres são submetidas a regimes humilhantes de trabalho. O mundo inteiro sabe que a Coréia do Sul é um péssimo exemplo de capitalismo selvagem praticado em pleno século 21.

Sindicato

       O Sindicato dos Metalúrgicos de Taubaté, por meio de Fábio de Godoy , diretor de base da LG, disse que "é mais um caso lamentável que nós estamos cuidando". O advogado do Sindicato dos Metalúrgicos, Breno Ferrari, está cuidando do caso. Procurado, ele alegou ter recebido "orientação" para ficar quieto.

Outro Lado

       A assessoria de imprensa da LG Eletronics não quis comentar o caso.


* Rebeca é um nome fictício