Bate
boca e ameacas na primeira votacao do Reluz
Circo
armado. Claque especialmente contratada para fazer papel de figurantes
na TV Câmara; discursos recheados de lugares comuns sobre
a redenção de Taubaté, obtida graças
ao Programa ReLuz; generosidade triunfante da maioria governista
(obtida sabe-se lá como), que teve na figura da vereadora
Pollyana (PPS) a face mais visível do fisiologismo; e uma
oposição acuada e assustada com a nova e aparente
correlação de forças no Legislativo. Tudo
pronto, Carlos Peixoto (PMDB), um presidente consciente do seu
papel na condução do trator a serviço do
Palácio Bom Conselho, dá início aos trabalhos.
ReLuz, câmera, AÇÃO.
Programa ReLuz
Segundo a Eletrobrás,
“o Programa Nacional de Iluminação Pública
Eficiente - ReLuz tem o objetivo de promover o desenvolvimento
de sistemas eficientes de iluminação pública,
bem como a valorização noturna dos espaços
públicos urbanos, contribuindo para melhorar as condições
de segurança pública e a qualidade de vida nas cidades
brasileiras”.
Através da conservação
de energia elétrica busca-se melhorar a eficiência
energética nos sistemas de iluminação pública
e ampliar os benefícios destes projetos a toda população
urbana através de novas tecnologias. Portanto, ninguém
pode ser contra um programa como esse, mesmo que seja, basicamente,
voltado para as concessionárias de energia elétrica,
responsáveis pela execução desse programa.
Segundo o governo federal, ele “será implementado
pelas concessionárias de energia elétrica através
de contratos com os municípios e, em complemento, a ELETROBRÁS
poderá aplicar ações do PROCEL nos municípios
que participarem do Programa, através de convênios
de cooperação”. A iniciativa cabe às
prefeituras. Os recursos a serem aportados para a implementação
dos convênios com os municípios “virão
da ELETROBRÁS com uma contrapartida das concessionárias,
dos municípios ou de outros agentes envolvidos. Por estes
convênios, a ELETROBRÁS/PROCEL colaborará
com os municípios na concretização de um
conjunto de medidas de estímulo ao uso eficiente e racional
da energia elétrica..”
Não há
registro de qualquer vereador manifestando-se contra o Programa
em si. Nem mesmo o petista Jéferson Campos, um dos mais
oposicionistas, que sonha em ver o governo Lula fazer alguma coisa
por Taubaté. Logo, o problema não é e nunca
foi o programa ReLuz.
Cartas escondidas
A grande questão
era e é o papel da Bandeirante Energia nesse imbróglio.
A Eletrobrás financia 75 % do custo total diretamente à
concessionária que juntamente com a prefeitura assumem
a responsabilidade pelo restante como “contrapartida [...]
que poderá ser feita por meio de serviços próprios
como: transporte, mão de obra e outros necessários
a execução do projeto”, segundo o manual do
ReLuz.
Porém, a Prefeitura não verá a cor desse
dinheiro. Trata-se apenas de uma operação contábil
porque a Eletrobrás pagará diretamente à
Bandeirante de acordo com a execução do cronograma
de obras. Obra realizada, dinheiro em caixa. Os 25 % restantes,
que poderiam ser pagos com serviços próprios, serão
transformados em dívida financeira da Prefeitura junto
a Bandeirante. Curiosamente, nenhum vereador da oposição
questionou esse fato.
Segundo o consultor
em energia René Vernice, a Bandeirante não costuma
trabalhar dessa forma. Vernice não sabe explicar a razão
que levou a concessionária a mudar seu padrão de
procedimento no caso do Programa ReLuz para Taubaté.
Os dados disponíveis
apontam para algumas hipóteses. A primeira e mais visível
é o fato que a Bandeirante, como intermediário financeiro,
transferiu para a Prefeitura as suas despesas previstas pelo Programa
Re Luz. Pelo menos é o que se deduz do item 3.2 das condições
financeiras da própria Eletrobrás que diz sobre
a comissão de reserva de crédito:
“a Concessionária pagará uma comissão
de reserva de crédito de 1% (um por cento) ao ano, com
vencimento mensal e paga no dia 30 (trinta) de cada mês,
até o encerramento do crédito, calculada sobre o
saldo não desembolsado do crédito, contada a partir
da liberação da parcela de assinatura”.
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Ou
seja, além de transferir para os cofres públicos
uma responsabilidade sua, a Bandeirante acrescentou mais alguns
juros para garantir um lucro financeiro que nada tem a ver com
seu papel de concessionária de energia elétrica.
Outro mistério.
A concessionária receberá diretamente da Eletrobrás
o pagamento pela execução de obras e serviços,
de acordo com a execução do cronograma. A Prefeitura
pagará à concessionária em 60 suaves prestações
os recursos da Eletrobrás colocados à sua disposição
para executar as obras. E os 25% restante a Prefeitura poderá
pagar com “serviços próprios”. Já
que perguntar não ofende, porque então a concessionária
foi apresentada como intermediária para receber uma vultosa
comissão por um “trabalho” que não tem
nada a ver com energia elétrica e muito menos com iluminação
pública? Haveria, por acaso, acordos não revelados
para garantir apoio material para candidatos nas eleições
de 2008?
Existem muitas cartas
que não foram e nem serão trazidas à tona
espontaneamente. Isso só acontecerá se despertar
interesse por parte do Ministério Público Federal,
uma vez que se trata de um projeto promovido por Brasília,
com recursos federais. Aliás, o acompanhamento das contas
dos candidatos em 2008 poderá ser uma boa pista.
Uma coisa é certa:
a Bandeirante jamais fará qualquer depósito na conta
de quem quer que seja. Além de ser uma pratica proibida,
ela sabe muito bem que existem muitos petistas em Brasília
que querem cassar sua concessão. Mas nada impede que seus
fornecedores o façam. Só esse pequeno tempero já
é suficiente para sentir a temperatura do prato que está
no forno. E talvez até explique a visita recente do senador
Aloísio Mercadante ao Palácio Bom Conselho.
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Será
ingenuidade?
Vereadora
Pollyana muda de lado
O debate sobre o Programa
ReLuz revelou algumas mudanças na correlação
de forças da Câmara Municipal. A que mais chamou
a atenção foi a firmeza da vereadora Pollyana Gama
na defesa do Palácio Bom Conselho. Uma atitude que mereceu
rasgados elogios de Felipe Peixoto, filho do prefeito, em programa
da TV Cidade (ver mais em Temperos da Tia Anastácia, pág
3).
A vereadora apresentou
um texto feito por sua assessoria. CONTATO apurou, porém,
que o autor desse trabalho é um engenheiro, assessor do
prefeito Roberto Peixoto. A vereadora usou esse “estudo”
para “provar” que o “Projeto Reluz é
viável (...) [porque] não possui superveniência
financeira, ou seja, ganho financeiro acima da inflação”,
ela afirma em release enviado à imprensa.
A professora perdeu
uma ótima oportunidade de ficar calada. O problema, como
pode ser visto na reportagem, não está na viabilidade
ou não, mas na estranha mudança de conduta por parte
da Bandeirante. Questionar a passividade da Prefeitura diante
episódio, além de saudável, é uma
obrigação do Poder Legislativo.
Vereador Carlos Peixoto
(PMDB) foi muito mais transparente e explícito do que a
vereadora na sessão que aprovou o financiamento. Ele não
vacilou em determinar que a maioria exigida para a aprovação
era de 8 vereadores e não de 9 e mandou que os insatisfeitos
procurassem seus direitos na Justiça. Não precisou
se esconder atrás de nenhum “estudo” para assumir
seu alinhamento com o Palácio Bom Conselho.
Já o comportamento de vereadora Pollyana tem sido muito
criticado por seus colegas que trabalham na área de educação.
O desgaste junto às suas bases talvez explique sua nova
postura política quando afirma que “não voto
no partido, eu voto no projeto”. Projeto de quem cara-pálida,
da prefeitura ou da Bandeirante? O Programa é bem vindo,
porém, o mau uso de recursos públicos é inadmissível.


Pollyana com seus assessores
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