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Tudo começou com uma garrafa
de whisky que apareceu na minha mesa da redação.
Grande mimo. “Famous Pedro” dizia o rótulo.
Junto da garrafa, um convite irrecusável: “Aguardamos
você às 21hs no Fasano para degustar um típico
Fasan Ur – gastronomia Fashion em gaélico –
com harmonização dos whiskies The Famous Grouse,
pelo drammolier Richard Prendiville e gastronomia de Slavatore
Loo, com consultoria de Manoel Beato”.
Não entendi nada, mas adorei.
Como diria Bebel, de Paraíso Tropical: “Deve ser
um evento de catiguria”. Ainda mais para quem está
acostumado a harmonizar X – Egg com Fanta na esquina da
Major Sertório com Amaral Gurgel.
Nove horas em ponto eu estava no
Fasano. Sempre quis conhecer a Meca da granfinagem paulista. Um
luxo só. Ao todo, dez jornalistas foram convidados para
o rega bofe. Todos de revistas e jornais especializados em luxo,
gastronomia ou afins: Vogue, Taste, Gula, Valor... Não
sei como me enfiaram nessa, nem quero saber.
Além dos dez colegas, estava
presente um legítimo escocês da Escócia, o
tal “dromelier”, ou o “sommelier” de Wisky.
Para os não iniciados: sommelier é o cara que ganha
a vida experimentando vinho, mas não é alcoólatra.
Geralmente eles cheiram, fazem gargarejo e depois cospem de volta.
É chic, mas é um nojo. No caso do Whisky não
tem essa história. Ainda bem.
Além do “drommelier”,
um degustador profissional e um representante da “Famous
Grouse” no Brasil participaram da farra. “Famous é
o whisky mais popular e mais vendido na Escócia, mas pouca
gente sabe disso no Brasil. Não fazemos grandes campanhas,
como o Jack Daniels”, explica o assessor. Finalmente entendi
a idéia daquele jantar: a marca centenária está
se expandido. Ok, legal. Mas quando chega a primeira dose?
Mais conversa: “Temos o melhor
puro malte do mundo nos nossos blends. Nosso whisky é envelhecido
em barris de carvalho espanhol. Temos a mesma receita desde de
1896, quando nasceu Famous Grouse. Aliás, até hoje
é a mesma família que comanda os negócios”.
Mas o que é um blend? Uma composição de malte
com grãos, alguém responde. “Ás vezes
usam 50 whiskies para chegar a um blend”, comenta outro
jornalista.
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Eu já estava perdendo a
paciência quando chegou o primeiro copo da noite. O “welcome
drink” foi um 12 anos com características cítricas,
harmonizado com uma lasca de casca de laranja. “No Finest,
o limão harmoniza melhor”, diz o degustador profissional.
“Brindemos essa whisky experience”, conclama o dramollier
gringo. Que maravilha. Desceu suave. Na mesa, salmão e
outros quitutes. Algumas doses de 12 anos depois e finalmente
fomos para mesa, curtir uma “gastronomia de autor”
para harmonizar com o goró.
Começamos com uma “insalata
di arancie e nocciole” harmonizada com um Highland Park
Spirit misturado com suco de laranja. “É a água
da vida”, sussurra o dromellier. De boca cheia, eu concordo
balançando positivamente a cabeça. Chega o segundo
prato: “Zuppa di Lenticchie e Baccala” (a popular
sopa de lentilha e bacalhau, mas com um toque de gengibre). Na
seqüência é servido um “Artic Grouse”,
um Famous Grouse Finest resfriado por 24 horas. “Isso resfria
o paladar e combina com o calor da sopa”. “Mas isso
não trinca o dente?”, pergunto. O drommelier apenas
ri, pensando que se tratava de uma brincadeira. Terceiro prato:
“fileto de mazo allá rossini com lascas de trufas
de negras”. Para beber, um legítimo 18 anos “old
malt”, mas com uma peculiaridade: diminuíram a graduação
alcoólica para 15,2%. A idéia é aproximar
o whisky do vinho. Não gostei. Mas mandei para dentro.
Puxo uma conversa, me fazendo de
entendido: “Nunca comi, mas adoro trufa”. “Custa
U$ 6 mil o quilo na feira de Alba. São como cogumelos.
Surgem na temporada chuvosa e são caçadas por porcos,
que sentem o cheiro. O primeiro aroma é de gás de
cozinha”, explica Ênio, editor da revista Taste. “Quanto
valem essas lasquinhas?”, penso, em silêncio. Chega
a sobremesa: “torta de pistachio com sorbet di frutta di
Bosco”. Para beber, “Crimson Crush” –
um Famous Grouse Finest com framboesas, licor de framboesa, mel,
suco de limão e ginger ale. Supimpa.
Terminada a comilança, passamos
para a sala ao lado, de estar, para harmonizar charutos com a
pérola da noite: “The Famous Grouse 30 anos old malt”.
Puro. Sem gelo. Em pequenas doses. A conversa flui como nunca.
Pergunto qual é o whisky mais caro do mundo: “O rolls
royce dos whiskies é o The Macallan, safra 1926, envelhecido
60 anos nos melhores barris e vendido por U$ 23 mil libras”.
Deu água na boca. “Tens uma dosezinha desse aí?”.
Infelizmente, não foi dessa vez. “Quando degustamos
comida, usamos todos os nossos sentidos. Com whisky é a
mesma coisa. Tudo começa com a apresentação.
O copo, o gelo”, declama o apaixonado dromellier beberrão.
Maltes, grãos, blends.
No dia seguinte, chega a conta (que
maldade). Um email perguntando minhas "impressões"
e sondando quando sai a matéria, nota ou coisa que o valha.
Robson Monteiro, jornalista e professor da gloriosa Unitau, costuma
dizer que “a imprensa em Taubaté é movida
a rango". Eu que o diga... 
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