Por Paulo de Tarso Venceslau


Luis XVI: de Brasília ao Largo do Chafariz

O que fazer quando nem mesmo os vereadores de oposição tomam qualquer atitude diante de fatos inéditos em mais de um quarto de século da história de Taubaté? Será que o silêncio dos representantes do povo é sinal de que nosso povo está pouco se lixando para o que acontece na prefeitura de Taubaté? Luis XVI que o diga


As eleições de 2006 anistiaram políticos envolvidos com mensalões, sanguessugas, valeriodutos e outros escaninhos da corrupção que tomou conta de Brasília. Será que a terra de Lobato, Cesídio Ambrogi, Gentil de Camargo e outros seguirá o mesmo caminho em 2008?

É esse o sentimento que me assola diante da passividade com que se transcorreu a sessão da Câmara Municipal na terça-feira, 10. Os vereadores tinham conhecimento de que a prefeitura apresentou, em dezembro de 2006, uma carta consulta à COFIEX a respeito de um pedido de empréstimo de US$ 24 milhões junto ao FONPLATA. Essa sopa de letrinhas quer dizer que a prefeitura quer reforçar seu caixa com mais de R$ 50 milhões às vésperas das eleições municipais do ano que vem.

Não há qualquer indício de irregularidade. Pelo menos até o momento. A prefeitura tem todo o direito de buscar recursos para realizar seus projetos, embora não haja registro de que os mesmos, se é que existem, tenham sido divulgados na campanha eleitoral de 2004. O buraco é mais embaixo.

O que faz em Taubaté, quem trouxe, quem e como foi paga uma empresa como a MC Consulting, autora do projeto da prefeitura? Por que o Palácio Bom Conselho se nega a prestar qualquer informação? Por que a prefeitura acusou e demitiu funcionário acusado de ser responsável pelo vazamento de uma informação que deveria ter sido amplamente divulgada? Com se explica que a prefeitura tenha incluído no pedido de financiamento recursos para construir um túnel quando a Nova Dutra é a responsável direta pela obra? Por que a prefeitura tenta, às pressas, mudar os projetos apresentados à COFIEX? Diante de questões como essas, no mínimo espera-se que a Câmara Municipal cumpra seu papel. No mínimo!!

Alguns vereadores argumentam que o pedido de empréstimo ainda não foi apresentado ao Legislativo. Nesse caso, eles fingem não enxergar a total falta de respeito do poder Executivo para com a Câmara. Pior. Nem os vereadores da base aliada sequer tinham noção do fato. Isso mesmo. FATO. Os jornais CONTATO e Valeparaibano possuem cópia do projeto apresentado em Brasília e os vereadores nem mesmo se interessaram em tomar conhecimento do seu conteúdo.

A apatia e a passividade dos representantes do povo de Taubaté despolitiza a sociedade civil local quando contribui para desorganizá-la e torná-la pouco ativa, e a deixa a mercê de políticos medíocres que acreditam única e somente na memória curta dos eleitores. Se essa fórmula deu certo em Brasília, porque não daria certo em Taubaté?

Esse episódio trouxe para o centro do tabuleiro político local figuras como o ex-ministro Antônio Palocci e seu operador Rogério Buratti, apontado pela grande imprensa como o sócio oculto da MC Consulting de Rodrigo Cavallieri, o dono visível da empresa que elaborou o projeto da prefeitura de Roberto Peixoto. Como? Por quanto?

Na república petista, iniciativa como essa pode explicar o ambicionado Estado forte, demiurgo, oligárquico (Sarney, Maluf, ACM et caterva que o digam), autoritário e tirânico que está por trás de seus projetos.

Na prefeitura de Peixoto, a falta de criatividade e competência são, talvez, as maiores responsáveis por essa busca insana de reprisar aqui os piores momentos das vídeocassetadas políticas de Brasília. César Maia, prefeito do Rio de Janeiro, refere-se a Lula como Luis XVI, o último rei da França. Curiosamente, sua esposa, Maria Antonieta, foi decapitada pelo regime que o sucedeu.

Será que existe, nesse episódio, alguma semelhança com Taubaté? Otimista por natureza, ainda acredito que está para cair a ficha que produzirá mudanças marcantes, na Câmara e nos ainda pacíficos contribuintes, decisivas e necessárias para acabar com a mesmice que tomou conta do Palácio Bom Conselho.


 

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