Por Por Bruno Monteiro

Terrorismo político

A intimidação e ironia de Peixoto contra Graça

Maria das Graças Gonçalves de Oliveira, a Graça, vereador apelo PD (ex-PFL), conta com exclusividade como o prefeito Roberto Peixoto reage às suas reivindicações, sobre seu projeto de lei que permite a prefeitura doar material didático para crianças carentes e sobre sua relação com o deputado estadual Marco Aurélio Bertaiolli, cacique regional do seu partido



Vereadora Graça

O que há de se esperar de um estadista? Coragem, ousadia e sabedoria, além de equilíbrio, e, porque não?, pulso firme. A resultante disso tudo são articulações políticas sólidas e abrangentes. No entanto, com base em algumas respostas que o prefeito Roberto Peixoto encaminhou à vereadora Maria das Graças Gonçalves de Oliveira, a Graça, do PD, essas qualidades passaram longe.


Roberto Peixoto manda “recadinhos” manuscritos para a vereadora em documentos oficiais onde responde os requerimentos encaminhados por Graça com as solicitações de moradores de bairros onde a vereadora desenvolve seus trabalhos. Permeados por tons infantis e irônicos, os recados do prefeito surpreenderam a vereadora.


O requerimento 71/2007, por exemplo, onde a vereadora solicita informações sobre a colocação de galeria de águas pluviais no bairro Chácara Ingrid. No ofício 219/2007 enviado como resposta, o prefeito manda o seguinte recado: “Vereadora, estamos trabalhando na região e muito, mesmo a senhora estando sempre contra”.


No requerimento o 63/2007, vereadora Graça solicita o escoamento da água que empoça em frente casas na Rua Adolfo Moreira Guedes, no Bairro Esplanada Independência. Como resposta, recebeu o ofício 211/2007, onde prefeito aproveita para mandar mais dois “recadinhos” e atacar as administrações municipais passadas: “Vamos ter que corrigir serviços mal feitos no passado, vereadora!” E ainda não contente, manda mais um recado no mesmo documento oficial. “Já está se tornando rotina corrigirmos serviços mal feitos, a senhora sabia vereadora?”


Diante disso e munido de uma informação de que Peixoto estaria perseguindo a vereadora em razão de não conseguir mantê-la sob o cabresto do Palácio do Bom Conselho, CONTATO foi esclarecer estes assuntos com a própria vereadora, que concedeu entrevista exclusiva. Confira.

 

CONTATO: Vereadora, nós recebemos a informação de que a srª estaria sendo perseguida pelo prefeito Roberto Peixoto, por causa de seus últimos posicionamentos na Câmara. O que há de verdade nesta informação?
Vereadora Maria das Graças:
Se é perseguição, não sei. Mas me surpreendeu as últimas respostas dos requerimentos que ele enviou hoje [6 de março] aqui para Câmara. A próprio punho, ele enviou recados pessoais para mim. Isso realmente me surpreendeu.

 

CONTATO: A srª acha que pode ser uma intimidação por parte do prefeito?
Graça:
Mas porque ele faria isso? Estes requerimentos não são de assuntos polêmicos. São simplesmente solicitações de moradores de bairros onde nós fazemos nosso trabalho. Agora, dizer que sempre sou do contra, isso não é verdade. O que acontece é que eu deixei bem claro pra ele que iria votar aqui na Câmara de acordo com a minha consciência.

 

CONTATO: Como começou tudo isso?
Graça:
Foi em novembro do ano passado, quando disse para ele que iria votar favorável a um projeto do vereador Prof. Jeferson Campos (PT), que visava modificar os requisitos para a abertura de uma CEI (Comissão Especial de Inquérito). Ele me ligou pessoalmente e me disse que a partir daquele momento me considerava inimiga dele.

 

CONTATO: Como estão sendo encaminhadas suas reivindicações junto ao Poder Executivo?
Graça:
Complicado. Semana passada, por exemplo, tive que reunir uma comissão de moradores do bairro São Gonçalo para irmos direto ao gabinete dele [Peixoto], pois as obras na rede de esgoto e galerias de águas pluviais prometidas por ele, não foram realizadas. Fomos até o gabinete e ele não estava. Fomos então recebidos pelo sr. Fernando Gigli [chefe de gabinete de Peixoto] que informou que somente um membro da comunidade poderia se reunir com o pessoal da prefeitura. Houve até um comentário de um assessor do prefeito, o Nivaldo, que disse a este morador que o prefeito não atenderia mais nenhum pedido de vereadores da oposição.

 

CONTATO: E sobre seu projeto que visa fornecer material didático gratuitamente para crianças carentes do município?
Graça:
Eu tive conhecimento deste projeto na cidade de São Paulo. Lá, ele foi aprovado mesmo sendo apresentado por um vereador. A então prefeita Marta Suplicy viu que a iniciativa era boa e que ia beneficiar as crianças carentes e sancionou o projeto. Como realizamos trabalhos em bairros menos favorecidos, a gente viu a importância para famílias que às vezes não têm nem o que comer quanto mais comprar lápis, borracha e todo material escolar. A criança quando chega à sala de aula e não tem o material escolar, se sente excluída e essa ação irá proporcionar uma inclusão social destas crianças. O projeto foi aprovado e o prefeito vetou.


Acima as respostas "mal criadas" do Prefeito Peixoto à vereadora Graça.

 

CONTATO: Quais vereadores votaram favoráveis ao veto do prefeito e contra o projeto que visa fornecer material ditático de graça para as crianças carentes?
Graça:
Luizinho da Farmácia (PDT), Chico Saad (PMDB), Ary Filho (PTB) e Rodson Lima.

 

CONTATO: Qual foi a alegação do prefeito para vetar este projeto?
Graça:
[Alegou] que este tipo de projeto seria uma prerrogativa exclusiva do Executivo. Realmente compete ao Executivo, mas já que ele [Peixoto] não apresentou e eu tive este conhecimento na cidade de São Paulo, eu o apresentei. Lá, já há um atendimento de 1 milhão de crianças. Mais importante são as crianças carentes que vão receber o material gratuitamente. [O projeto] vai atender crianças da primeira a quarta série da rede municipal que comprovar a necessidade do benefício. Outra alegação do prefeito: ficaria muito oneroso para o município arcar com este material. Ora, para quem gastou 33,4 milhões em apostilas, este projeto poderia ser realizado até sem custo nenhum ao município [se contasse] com a parceria da iniciativa privada, que colocaria sua logomarca nos materiais distribuídos.


Vereadora Graça juntamente com seu marido Edson Oliveira, e o deputado estadual eleito Marco Aurélio Bertaiolli, cacique regional do PD, por ocasião da visita do governador José Serra

 

CONTATO: Quais serão os próximos passos?
Graça:
Bem, pelo que eu sei, o prefeito deve entrar com uma ADIN (Ação Direta de Inconstitucionalidade). É uma pena. Mas ele já está valendo, já que derrubamos o veto.

 

CONTATO: Qual foi a maior razão para o prefeito vetar este projeto? Por acaso ele queria ser o “pai da criança”, ou a srª acredita em perseguição política mesmo?
Graça:
Espero que não seja perseguição a mim. Não sou eu, são famílias que estão precisando deste projeto. Espero que a vaidade dele não chegue a tanto. Acredito que, como ele mencionou que é prerrogativa dele, acho que ele quer mesmo ser o pai da criança.

 

CONTATO: Há uma grande proximidade da senhora com o deputado Marco Bertaiolli, um dos caciques regionais do partido. Como está a sua relação dentro do PD (ex-PFL) e com o ex-prefeito Antonio Mário Ortiz, também do PD?
Graça:
O relacionamento com Marco Bertaiolli é extremamente favorável, é ótima, a gente se considera até amigos mesmo [que vai além] da própria política. Com Mário Ortiz a relação também é boa. Acho que ele fez uma boa administração. Com o Bertaiolli o vínculo é mais profundo. Trabalhamos bastante para ele nas últimas eleições e não é a toa que um candidato de outra cidade teve quase 3 mil votos aqui em Taubaté.


 

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