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                gota d’água foi a drástica redução 
                na quantidade e na qualidade da merenda escolar da rede pública. 
                Mães desesperadas começaram a procurar nossa reportagem. 
                Diretoras e professoras não escondiam sua decepção 
                diante da realidade imposta pelo Executivo naquela quarta-feira, 
                14. Naquele dia, o prefeito Roberto Peixoto e Benedito Prado, 
                diretor do departamento de Educação, reuniram-se 
                com as diretoras das escolas municipais para informar sobre os 
                cortes que seriam feitos na área de educação: 
                merenda, medicamento e material de limpeza.Na seqüência, foram cortados vários itens como 
                bolacha, biscoitos e componentes do almoço servido às 
                12 horas. O cardápio entregue às escolas na segunda-feira, 
                19, é revelador. Só a quarta-feira tem uma refeição 
                próxima do que era servido até então. O que 
                é servido nos outros dias não satisfaz as necessidades 
                das crianças em idade escolar.
 Dona Maria (nome fictício) com dois filhos no ensino fundamental 
                do Madre Cecília, perto da Imaculada, declarou à 
                nossa reportagem: “Eles estão diminuindo tudo. Agora 
                estão pedindo aos pais que ajudem a escola com material 
                de limpeza. Essa situação começou na semana 
                passada. Reduziram a merenda. Daqui a pouco, vão querer 
                que nossos filhos comam livro”. Uma frase que revela o desespero 
                das mães diante da situação criada pelo prefeito.
 No domingo, 18, o Valeparaibano publicou uma longa reportagem 
                do perdigueiro Max Ramon sobre a contratação de 
                cerca de 700 funcionários municipais sem qualquer processo 
                seletivo, pela administração de Peixoto. Essa é 
                conclusão de uma investigação realizada pelo 
                Ministério Público estadual. Infelizmente, a investigação 
                ficou limitada a esse aspecto. Não vai nem às causas 
                e nem à real dimensão dos seus efeitos.
 A reportagem despertou a ira dos inquilinos do Palácio 
                Bom Conselho. Na segunda-feira, 19, Peixoto e seus assessores 
                mais diretos – Luis Rodolfo Cabral (Jurídico), Simões 
                Berthoud (Segurança) e Gigli (Gabinete) decidiram pedir 
                a remoção do Promotor José Carlos Sampaio 
                de Taubaté. Informado por nossa reportagem, Sampaio riu 
                e respondeu que não podia levar a sério essa informação.
 Breve 
                HistóricoHá 
                meses que se anuncia a crise administrativa e financeira da gestão 
                do ainda tucano Roberto Peixoto. CONTATO já imprimiu centenas 
                de páginas com denúncias sobre a irresponsabilidade 
                dessa administração com os limitados recursos municipais. 
                Agora a crise é para valer. E quem anuncia não são 
                os chamados críticos de plantão. A própria 
                prefeitura foi obrigada a revelar sua dimensão quando, 
                obrigada por lei, fez publicar no Diário de Taubaté, 
                no dia 27 de maio, um sábado, seu Relatório de Gestão 
                Fiscal, de acordo com os artigos 54 e 55 da Lei Complementar 101 
                de 2000.
 LC 101/00 é nome burocrático da Lei de Responsabilidade 
                Fiscal criada justamente para aumentar o controle sobre os gastos 
                públicos em todas as esferas de governo: federal, estadual 
                e municipal. Basta o parágrafo primeiro do primeiro artigo 
                da Lei para tirar qualquer dúvida sobre seus objetivos.
 “A 
                responsabilidade na gestão fiscal pressupõe a ação 
                planejada e transparente, em que se previnem riscos e corrigem 
                desvios capazes de afetar o equilíbrio das contas públicas, 
                mediante o cumprimento de metas de resultados entre receitas e 
                despesas e a obediência a limites e condições 
                no que tange a renúncia de receita, geração 
                de despesas com pessoal, da seguridade social e outras, dívidas 
                consolidada e mobiliária, operações de crédito, 
                inclusive por antecipação de receita, concessão 
                de garantia e inscrição em Restos a Pagar.”  
                Mais adiante, a Lei é muito clara quando afirma nos artigos 
                19 e 20 que para os fins do disposto no caput do art. 169 da Constituição, 
                a despesa total com pessoal, em cada período de apuração 
                e em cada ente da Federação, não poderá 
                exceder os percentuais da receita corrente líquida, em 
                60% (sessenta por cento), no caso dos municípios e que 
                esse total será repartido em 54% para o Executivo e 6 % 
                para o Legislativo. O Relatório de Gestão Fiscal quadrimestral publicado 
                pela prefeitura é uma exigência da LRF para que a 
                transparência das informações contribua para 
                aumentar a fiscalização sobre as autoridades. Basta 
                uma rápida leitura sobre o que foi publicado para se constatar 
                que o governo de Roberto Peixoto está sob as lupas do Tribunal 
                de Contas do Estado - TCE. O Relatório registra que as 
                despesas totais com pessoal atingiram 52,57 % da receita corrente 
                líquida, superior ao Limite Prudencial de 51,3 % estabelecido 
                pela LRF, que corresponde a 95 % do limite legal de 54 %.
 Traduzindo: as contas municipais foram pegas em flagrante delito 
                e por causa disso sofrerão uma série de restrições 
                e serão monitoradas mais rigorosamente pelo TCE.
 A própria lei em si mostra os próximos passos da 
                reportagem e do que poderá ocorrer com o governo de Roberto 
                Peixoto.
 Prefeitura 
                engessadaA 
                subseção II da LRF trata do controle da Despesa 
                Total com Pessoal, no parágrafo único do artigo 
                22 afirma que caso a despesa total com pessoal exceda a 95% do 
                limite, a prefeitura fica proibida de conceder vantagem, aumento, 
                reajuste ou adequação de remuneração 
                a qualquer título (...); criar cargo, emprego ou função; 
                alterar a estrutura de carreira que implique aumento de despesa; 
                prover cargo público, admitir ou contratar pessoal a qualquer 
                título. Fica também proibida a contratação 
                de hora extra.
 O artigo 23 da LRF prevê uma série de medidas que 
                poderão ser aplicadas para que o gasto com pessoal seja 
                reduzido aos parâmetros estabelecidos por Lei. A extinção 
                de cargos e funções quanto pela redução 
                dos valores a eles atribuídos; a redução 
                temporária da jornada de trabalho com adequação 
                dos vencimentos à nova carga horária são 
                as medidas mais significativas.
 Finalmente, caso não seja alcançada a redução 
                no prazo estabelecido, e enquanto perdurar o excesso, a prefeitura 
                não poderá receber transferências voluntárias; 
                obter garantia direta ou indireta e nem contratar operações 
                de crédito, ressalvadas as destinadas ao refinanciamento 
                da dívida mobiliária e as que visem à redução 
                das despesas com pessoal.
 Diante dessa situação, pode-se prever que o governo 
                de Roberto Peixoto entrou precocemente em fase terminal. Engessada 
                como se encontra a prefeitura e a volúpia de boa parte 
                dos inquilinos do Palácio Bom Conselho poderão conduzir 
                a uma inusitada situação: a falência pura 
                e simples do município.
 ReflexosUm 
                funcionário que prefere manter-se no anonimato por temer 
                represálias contou à nossa reportagem que um levantamento 
                realizado na área de Finanças da prefeitura revelou 
                a existência de R$ 30 milhões de dívida assumida 
                sem dotação orçamentária. Perguntado 
                sobre as causas, o funcionário apontou duas que considera 
                mais relevantes:
 1)reformas caríssimas nos prédios dos departamentos, 
                com destaque para o de Ação Social (DAS) pilotado 
                pela primeira-dama e o de Obras Públicas (DOP), sob o comando 
                do engenheiro Gerson de Araújo. Curiosamente, os nomes 
                mais recorrentes quando o assunto se refere às suspeitíssimas 
                licitações.
 2)No final de 2005, foram suspensos todos os empenhos e ao mesmo 
                tempo foram transferidos para 2006. Essa seria outra causa do 
                déficit orçamentário em 2006. Peixoto não 
                se conformou com o orçamento herdado do ex-prefeito Bernardo 
                Ortiz e gastou o que não tinha. E para completar, concedeu 
                um demagógico aumento salarial que acelerou a quebradeira.
 Diante desse quadro, o funcionário de carreira conclui 
                que não existem mais recursos disponíveis para o 
                orçamento de 2006. A folha de pagamento da prefeitura, 
                em maio, atingiu 52,57 % (o limite é de 51,30 %) e a previsão 
                é que no próximo quadrimestre atinja 60 % se não 
                houver cortes drásticos com pessoal. Em janeiro de 2005, 
                por ocasião da posse do novo prefeito, a folha estava em 
                44 %. Em junho, não existem recursos suficientes para que 
                a folha de pagamento seja empenhada. Por causa disso, o TCE já 
                emitiu alertas. Os primeiros foram desconsiderados pelo Executivo.
 MerendaNossa 
                reportagem foi pesquisar como era a situação da 
                merenda nas gestões anteriores. Descobriu que além 
                de garantir por quatro anos uma merenda balanceada e aprovada 
                por nutricionistas, as crianças que apresentavam sintomas 
                de desnutrição tinham um tratamento diferenciado: 
                as famílias recebiam um reforço alimentar com leite 
                vitaminado. Esse reforço deixou de existir no governo de 
                Roberto Peixoto.
 Apesar da pressão exercida pelo Palácio Bom Conselho 
                para que a notícia ficasse restrita aos corredores palacianos, 
                a vereadora e professora Pollyana rompeu a barreira com o Requerimento 
                1.041 no qual pede informações nas mudanças 
                ocorridas no cardápio das merendas oferecidas nas creches 
                e escolas de ensino fundamental da rede municipal de ensino.
 Por outro lado, desde sexta-feira, 16, Associações 
                de Pais e Mestres e diretores de escolas pressionam o professor 
                Benedito Prado exigindo que fosse anulada a decisão de 
                cortar parte substancial do cardápio escolar. A pressão 
                foi tão forte que Prado foi obrigado a recuar, mas teve 
                não sequer a dignidade de assinar o comunicado reproduzido 
                ao lado.
 Uma professora que havia se oferecido a relatar à nossa 
                reportagem o que estava acontecendo foi pressionada e mudou o 
                discurso porque teria recebido a confirmação de 
                que a situação voltaria ao normal a partir de quarta-feira, 
                21. Ou seja, Peixoto só admitiu recuar sob intenso fogo 
                cruzado.
 Se o prefeito cumprir sua promessa, tomara que o faça, 
                a saúde de nossas crianças estará menos ameaçada. 
                Em compensação, muitos inquilinos do Palácio 
                Bom Conselho devem estar se remoendo diante da redução 
                da margem de manobra para realizar mais negociatas com cartas 
                devidamente marcadas.
 
                
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                      ASSUNTO: 
                        MERENDA ESCOLAR Senhores 
                        Diretores, o Departamento de Educação, por 
                        meio do Solar da Educação, comunica que 
                        a partir do dia 21 de junho a merenda escolar, servida 
                        pela empresa SISTAL, voltará a ser servida conforme 
                        cardápio usado desde o início deste ano 
                        letivo de 2006. As mudanças ocorridas nos últimos 
                        dias devem ser desconsideradas. 
 Obs: A normalização da situação 
                        dos cardápios ocorre nesta quarta-feira, porém 
                        é possível que em algumas escolas o estoque 
                        de alimentos apresente a falta de algum item. Informamos 
                        que está sendo providenciado, o mais rápido 
                        possível, a reposição dos mesmos.
 
 Profª Maria Consuelo F.C.Castilho
 Coordenadora do Ens. Fund. e Médio
 
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