Varejão era vice-prefeito de 
          Mario Carneiro Leão, eleito em 1996. Em 1999, Varejão 
          assumiu a prefeitura de Tremembé depois que Leão foi impedido 
          pela Câmara Municipal. Um ano depois, Varejão foi reeleito 
          chefe do Executivo local. 
          Em seis anos como prefeito de Tremembé, Lucio Varejão 
          teve, até agora, quatro das seis contas contestadas pelo Tribunal 
          de Contas do Estado -TCE. Apenas as contas 2002 foram aprovadas, enquanto 
          o relatório da prestação de contas de 2004 ainda 
          aguarda conclusão por parte dos conselheiros do Tribunal.
          Os motivos da rejeição são graves. A prefeitura, 
          por exemplo, deixou de investir o mínimo necessário estipulado 
          por lei em educação e saúde e, em alguns casos, 
          extrapolou o limite de déficit de gastos com pessoal.
          O parecer sobre as contas de 1999 (número 1986/026/99), divulgado 
          em 28 de agosto de 2001, contesta as contas da prefeitura. Segundo o 
          TCE-SP, o “município aplicou no ensino 12,99% da receita 
          de impostos, 12,55% no ensino fundamental; as despesas com o pessoal 
          corresponderam a 61,16% da receita corrente; o déficit orçamentário 
          foi de 3,31%”. A prefeitura recorreu do parecer. O Tribunal deu-lhe 
          provimento parcial para consignar 18,48% total de gasto no Ensino e 
          34,34% no setor fundamental, “mantendo-se os demais termos do 
          parecer desfavorável”. As despesas com pessoal orçaram 
          61,16% da receita do município, que fechou com déficit 
          orçamentário de 3,31%.
          No ano seguinte, a gestão de Varejão descumpriu obrigação 
          legal ao não repassar ao Tribunal de Contas do Estado “documentos 
          referentes ao primeiro trimestre do exercício de 2000”. 
          Após o entrave inicial, o TCE-SP emitiu o segundo parecer “desfavorável 
          à aprovação das contas da prefeitura”. O 
          relatório recomendou que Lucio Varejão adotasse “medidas 
          eficazes para a cobrança da dívida ativa; coíba 
          a realização de dispêndios que não se coadunem 
          com o interesse público e obedeça as instruções 
          do tribunal, no que concerne ao prazo para envio dos documentos afetos 
          ao controle interno”. 
          De acordo com parecer do processo 2742/026/00, a verba destinada a gastos 
          de pessoal consumiu 63,09% do erário municipal quando a Lei de 
          Responsabilidade Fiscal -LRF- estabelece limite de 54% para despesas 
          dessa natureza. Tratava-se de uma reincidência. O TCE-SP apontou 
          ainda indícios graves de clientelismo e empreguismo sem concurso 
          público na administração municipal. À decisão 
          definitiva de 28 de julho de 2005 não cabe mais recurso.
          Em 2001, as contas foram novamente rejeitadas pelo TCE, de acordo com 
          o processo 2042/026/01. Desta vez, o investimento na saúde ficou 
          quase 5% abaixo do estabelecido pela Constituição Federal. 
          Ao invés de aplicar o mínimo de 18%, a prefeitura disponibilizou 
          somente 13,15%. Mais uma vez, segundo o TCE-SP, as despesas com o pessoal 
          ficaram acima do estabelecido por Lei. Em 2001, o Executivo gastou “60,5% 
          da receita corrente líquida do município”. Todos 
          os pedidos de reexames solicitados pela prefeitura foram negados.
          As contas de Varejão na prefeitura somente foram aprovadas em 
          2002. O TCE-SP decidiu “emitir parecer favorável à 
          aprovação das contas do prefeito (...) no exercício 
          de 2002, exceção feita aos atos pendentes de apreciação 
          por este tribunal”. 
          O pesadelo dos pareceres desfavoráveis voltou a assombrar Lucio 
          Varejão em 2003. Pela quarta vez, o TCE-SP rejeitou as contas 
          da administração de Varejão. Tal qual nos casos 
          anteriores, o parecer desfavorável foi aprovado por unanimidade. 
          
          Segundo o processo 3122/026/03, Varejão não cumpriu a 
          Lei de Licitações e Contratos (Lei 8.666/93) causando 
          favorecimentos e contratando por preços superiores aos praticados 
          no mercado. E por ter se omitido na cobrança da dívida 
          ativa do município o relatório é incisivo: “Recomendando-se 
          ao atual chefe do Executivo que agilize a cobrança da dívida 
          ativa; cumpra fielmente os ditames da Lei número 8.666/93 nas 
          futuras licitações”. Além disso, o TCE lembra 
          que a prefeitura aplicou 24,39 % na educação e 12,46 % 
          na saúde, índices abaixo dos limites mínimos estabelecidos 
          pela Lei. E conclui apontando que aquela administração 
          causou déficit orçamentário de 8,44% (R$ 2.039.663,30) 
          aos cofres do município.
        Conclusão
          O ex-prefeito de Tremembé quando ouvido por CONTATO (ver entrevista) 
          afirma que as irregularidades de sua prestação de contas 
          e o fato de a Câmara Municipal ter rejeitado as contas de 1999, 
          2000 e 2001 estão sendo contestados na Justiça. O principal 
          argumento para essa contestação é que Varejão 
          não teria tido a oportunidade de defender-se. No caso da Câmara, 
          segundo ele, sequer teria sido avisado da sessão ou sessões 
          que recusaram suas contas.
          Nossa reportagem apurou que o argumento de Varejão não 
          se sustenta. Advogados informaram que a prefeitura apresentou defesa 
          em todos os estágios, o que pode ser perfeitamente comprovado 
          no texto das sentenças exaradas pelo TCE. E com relação 
          à Câmara, os mesmo advogados informam que não cabia 
          mias defesa naquele momento. Afinal, quem analisou e julgou as contas 
          da prefeitura de Tremembé foi o TCE. À Câmara, portanto, 
          cabia apenas acatar ou não as conclusões daquele Tribunal. 
          
          De qualquer forma, existe o risco real de Orozimbo Lúcio, pré-candidato 
          a deputado estadual pelo PSDB, ter seus direitos políticos cassados. 
          Se isso vier acontecer, com certeza haverá muita alegria no ninho 
          tucano de Taubaté que não se conforma com sua candidatura 
          e muito menos com a intimidade com que Varejão circula no Palácio 
          Bom Conselho.
          Durante três dias, foi impossível localizar o prefeito 
          José Antônio de Barros Neto (PV). A decisão do Tribunal 
          de Contas do Estado estão disponíveis no site www.tce.sp.gov.br 
          .
        
        Lúcio 
          Varejão rebate as decisões do Tribunal de Contas do Estado 
          –TCE– que rejeitaram a prestação de contas 
          da prefeitura à época em que foi prefeito de Tremembé. 
          Diz que não se arrepende de nada e afirma categoricamente que 
          será apoiado pelo prefeito Roberto Peixoto nas eleições 
          desse ano. Confira detalhes nessa entrevista exclusiva para CONTATO
        CONTATO 
          – O TCE rejeitou quatro contas da Prefeitura à época 
          em que o senhor era prefeito. O que aconteceu de fato?
          Lúcio Varejão – As contas de 2003 ainda 
          não estão julgadas definitivas. Estão em grau de 
          recurso no próprio TCE. [Pareceres] definitivos [só] as 
          contas de 1999 a 2001. Eu assumi o governo em setembro de 1999. As contas 
          desse ano não são todas minhas. Uma parte é minha 
          a outra é do Leão [ex-prefeito cassado em 1999]. Nós 
          encontramos a prefeitura de Tremembé em 1999 com seis folhas 
          de pagamento em atraso, além de déficit orçamentário 
          e gasto com pessoal acima do permitido pela Lei de Responsabilidade 
          Fiscal [LRF]. 
        CONTATO 
          – O que foi feito?
          Lúcio Varejão – Priorizamos o trabalhador. 
          Não se pode pensar em gastar um montante em educação 
          se você tem seis folhas de pagamento em atraso. Em 1999, fizemos 
          esforço para colocar em dia os salários do trabalhador. 
          Com isso, acabamos prejudicados com gasto com pessoal. Já em 
          2000, que é ainda um mandato que não me pertencia, pois 
          estava terminando o mandato do Leão, tratamos de equacionar todas 
          as despesas da prefeitura para enquadrá-la dentro da LRF. Mas, 
          tivemos de assumir dívidas de INSS e FGTS que estavam fora de 
          planejamento. A prefeitura não recolhia FGTS desde 1987. Todos 
          esses gastos desequilibraram a prefeitura. Em 2000, as contas foram 
          rejeitadas por déficit orçamentário. Em 1999, foi 
          por gasto com pessoal. As de 2001 foram rejeitadas por diferença 
          de 0,38 % na educação. Em 1999, tínhamos 585 alunos 
          na rede municipal de ensino. Municipalizamos 18 escolas em um ano só, 
          em 2001. Assumimos mais responsabilidade na educação do 
          que tínhamos de recurso.
        CONTATO 
          – Mas se houve aumento absoluto no gasto da educação, 
          deveria aumentar a participação relativa?
          Lúcio Varejão – Realmente aumentou. Só 
          que aumentamos a arrecadação na mesma proporção. 
          Esse foi o desequilíbrio. Em 1999, o orçamento de 11 milhões. 
          Em 2001, o orçamento foi de 25 milhões. E entreguei com 
          36 milhões. Eu tripliquei o orçamento da prefeitura. Não 
          existe problema insanável com relação às 
          contas [da prefeitura de Tremembé]. Entramos com a defesa na 
          justiça [pedindo] revisão das contas porque o TCE é 
          [apenas um órgão] consultor. Está em julgamento 
          [na Justiça] e até [que não seja julgado] não 
          existe nenhuma conta rejeitada.
        CONTATO 
          – E politicamente?
          Lúcio Varejão – Não me arrependo 
          de nada. Não me preocupei com o montante que tinha que ser gasto 
          na educação quando eu peguei 585 alunos na rede municipal 
          de ensino e municipalizei 18 escolas. Foram para 5.800 [alunos]. São 
          tipos de preocupação que teria caso [eu] fosse político 
          profissional, demagogo. Não houve nenhum desvio de recurso, nem 
          obra superfaturada. Não houve nada do que eu possa me envergonhar 
          com minhas contas.
        CONTATO 
          – Mas a Câmara Municipal poderá pedir seu impedimento 
          político?
          Lúcio Varejão – Todas as três contas 
          foram rejeitadas pela Câmara. Acontece que a Câmara não 
          me comunicou para eu ter direito de defesa. E com base nisso, entramos 
          na Justiça. Está tramitando. E entrei também contra 
          o TCE. Nunca tentei fazer com que aprovassem minhas contas. O meu projeto 
          de governo acabou enquadrando a prefeitura em 2002 no que era necessário. 
          Tanto que as contas foram aprovadas.
        CONTATO 
          – Em Tremembé, há um prefeito do Partido Verde (PV) 
          e o sr. é tucano. Em Taubaté, há um prefeito tucano 
          que diz que vai apoiar um candidato do PV. Como se explica isso?
          Lúcio Varejão – Eu não me preocupo 
          com isso. Eu tenho vôo próprio. Tenho 22 anos como empresário 
          em Taubaté. Não vou me preocupar com esse tipo de coisa. 
          Eu acredito que o prefeito Peixoto vai me apoiar. Não vi e não 
          li nenhuma declaração que ele fosse apoiar o padre Afonso. 
          Ele [Peixoto] mantém firme apoio a mim. O que se tem de concreto 
          é o que o padre Afonso disse e não o que o prefeito disse. 
          Estou confiante no apoio do [prefeito] Peixoto.
        
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          Jornal CONTATO 2006