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              1990, conheci Soraya em Campinas. Era foca do Correio Popular, um 
              diário daquela cidade. Ficamos amigos. Em 1997, já 
              como repórter, veio à Taubaté para conversar 
              comigo a respeito do Partido dos Trabalhadores e de minha experiência 
              em duas grandes prefeituras: Campinas e São José dos 
              Campos. Da conversa descompromissada, saiu uma longa entrevista. Dias depois, antes mesmo de a entrevista ter sido publicada, fui 
              procurado pelo jornalista Luiz Maklouf de Carvalho, do Jornal da 
              Tarde. Como havia dado uma entrevista não publicada pelo 
              Estadão, do mesmo grupo do JT, fiquei com um pé atrás. 
              Condicionei a entrevista ao compromisso de que a mesma seria publicada 
              na íntegra. Maklouf concordou. Veiculada alguns dias após 
              a publicação no jornal de Campinas, a entrevista para 
              o JT marcou o início de uma longa história que ainda 
              não se encerrou. O último episódio foi minha 
              acareação com Paulo Okamoto, coletor de recursos não 
              contabilizados para o PT, conhecido como doador universal, presidente 
              do Sebrae, amigão e pagador das contas pessoais do presidente 
              Lula.
 Quando descobri que Soraya Aggege era autora da bombástica 
              reportagem com Silvinho “Land Rover” Pereira, ex-secretário 
              nacional do Partido dos Trabalhadores, procurei-a para lhe pedir 
              uma entrevista exclusiva para o Jornal CONTATO. Depois de muitas 
              peripécias, localizei-a, por celular, na sala de embarque 
              do aeroporto de Guarulhos. Estava a caminho de Viena para fazer 
              a cobertura da participação do presidente Lula na 
              reunião de cúpula dos líderes da Comunidade 
              Européia com os da América Latina e Caribe.
 Diante da precariedade da situação, Soraya sugeriu 
              que eu usasse seu depoimento publicado naquele dia, em O Globo. 
              Abusei de minha amizade e pedi-lhe uma foto. Terminei minha conversa 
              com o telefone do namorado Renato que gentilmente enviou as fotos 
              aqui publicadas.
 Soraya conta que começou quase por acaso a reportagem que 
              reanimou o escândalo do mensalão. A idéia era 
              fazer um perfil de Silvio Pereira, o Silvinho, o ex-secretário-geral 
              do PT, no aniversário de um ano da crise. Sabendo que ele 
              não estava atendendo o telefone, a repórter foi ao 
              seu apartamento.
 A repórter conhecia Silvinho porque “cobriu” 
              durante anos o Partido dos Tabalhadores. Sua matéria desencadeou 
              pânico no PT, a CPI dos Bingos convocou o ex-secretário 
              para depor na quarta-feira, 10. Abaixo, o relato de Soraya, perdigueira 
              da notícia, publicado em O Globo de terça-feira, 9.
  A 
              história de uma manchete
 “Como 
              Silvinho andava sumido, procurei petistas que pudessem me contar 
              um pouco mais sobre ele. Muitos desconversaram, outros falaram mal 
              de Silvio. Era como se ele fosse uma doença que foi extirpada 
              do partido, que agora só quer esquecê-lo. Na quarta-feira 
              passada, fui ao seu apartamento e fiquei surpresa ao ser autorizada 
              a subir. Silvio me recebeu muito bem e, depois de pensar um pouco, 
              aceitou conversar. Após uma hora, disse que esperava uma 
              visita e pediu que eu saísse. Deixei o número de meu 
              celular e argumentei que seria importante uma matéria com 
              a versão dele sobre o mensalão. Dez minutos depois 
              ele me telefonou e disse que seu compromisso fora adiado e que iria 
              falar. Eu fazia perguntas pontuais sobre a crise e ele respondia. 
              Quando não queria falar, fazia silêncio e mudava de 
              assunto. Após longa conversa, recebeu uma ligação 
              e me disse que voltaria a me procurar. Silvio me telefonou pela 
              segunda vez na quinta-feira. Levei uma cópia do material 
              que tinha reproduzido. ‘Você captou tudo muito bem, 
              está muito preciso. Essa é a mais absoluta verdade. 
              Vai ser um escândalo.’ Mas pensou um pouco, ponderou 
              que a crise estava quase resolvida e que não era um bom momento 
              para publicação da entrevista. E me propôs fazermos 
              um livro. Eu concordei, mas disse que, como repórter, não 
              poderia omitir aquelas informações (a maior parte 
              já estava na Redação). Telefonei para o chefe 
              da Sucursal, Germano Oliveira.Avaliamos 
              que era inegociável. Então, Silvio começou 
              a passar mal: ficou pálido, implorou para que a entrevista 
              não fosse publicada, disse que prometera à família 
              não falar mais com a imprensa, que temia enlouquecer, porque 
              a CPI e a PF voltariam a abordá-lo e que ele não suportaria 
              novas pressões. Disse que havia gente muito poderosa envolvida 
              em tudo e que poderiam matá-lo. Não sei se para me 
              impressionar, mas disse em seguida que o melhor era se matar. E 
              ficou descontrolado. Jogou a mesa no chão, quebrou objetos 
              e pediu várias vezes que eu o desculpasse, que não 
              era nada comigo, que entendia muito bem o papel da imprensa. Pediu 
              que eu buscasse ajuda, que estava passando muito mal. Saí 
              atrás do porteiro e, no caminho, encontrei uma moradora que 
              me ajudou a chamar uma ambulância. Voltei com o porteiro: 
              mais uma vez o Silvio me pediu desculpas e disse que tudo ficaria 
              bem. O porteiro me ajudou a pegar minha bolsa e pediu que fosse 
              embora. Mais tarde, ele telefonou para que não me preocupasse, 
              pois Silvio estava com amigos e se sentia melhor. Devolveria meu 
              material no dia seguinte. Só devolveu os cigarros e o aparelho 
              celular. Documentos que ele mesmo havia me dado e um caderno de 
              anotações ficaram por lá.”
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