Por Paulo de Tarso Venceslau
                      1.300 
                        funcionários da empresa coreana cruzaram os braços 
                        por tempo indeterminado para exigir negociações 
                        sobre reivindicações que se arrastam há 
                        quase um ano. 
                      
                      Biro Biro, presidente do Sindicato dos Metalúrgicos, 
                      tenta convencer um gerente da LG a não entrar na 
                      fábrica 
                      Sete 
                        horas da manhã de terça-feira, 18. Começam 
                        a chegar os ônibus carregados de funcionários 
                        da LG Eletronics, a poderosa indústria coreana, 
                        localizada a margem da via Dutra, que tem cerca de 2 mil 
                        funcionários e produz monitores e aparelhos de 
                        telefone celular. Soldados da tropa de choque da Polícia 
                        Militar, comandadas pelo Tenente PM Cobbo, encontram-se 
                        concentrados no portão principal da LG. Apesar 
                        da tensão reinante, não se observou qualquer 
                        entrevero entre sindicalistas e a força policial.
                        O carro de som do Sindicato dos Metalúrgicos de 
                        Taubaté transmite pedido de Valmir Marques da Silva, 
                        Biro-Biro, presidente da entidade sindical, para que os 
                        funcionários não entrem antes de encerrar 
                        a assembléia que seria realizada ali mesmo.
                        O clima reinante era de apoio à iniciativa da direção 
                        sindical. Afinal, desde 2005, portanto há um ano, 
                        a empresa não dava resposta às duas reivindicações 
                        consideradas fundamentais: estabelecer um estrutura salarial 
                        que abrangesse todos os funcionários da empresa 
                        e acabar com a jornada de trabalho de 6 X 1 (trabalha-se 
                        6 dias e descansa 1) que seria substituída pela 
                        jornada de 6 X 2. Segundo Biro-Biro, o Sindicato já 
                        havia sinalizado que aceitaria uma solução 
                        mista: durante uma semana prevaleceria a jornada 6 X 1 
                        e na outra seria 5 X 2, e assim sucessivamente.
                        Diante da intransigência da empresa, segundo o dirigente 
                        sindical, tudo indicava que seria inevitável a 
                        aprovação de greve. O resultado, porém, 
                        surpreendeu até mesmo os dirigentes sindicais: 
                        foi aprovada por unanimidade a greve por tempo indeterminado 
                        que sereia iniciada naquele exato momento.
                        Segundo apurou nossa reportagem, o sindicato pretendia 
                        cumprir o ritual previsto na legislação 
                        trabalhista: depois de aprovada em assembléia da 
                        categoria, o sindicato informaria oficialmente a empresa 
                        para que tomasse as providências necessárias 
                        para enfrentar a paralização que só 
                        começaria 48 horas depois de sua aprovação. 
                        Pegos de surpresos, aos dirigentes sindicais não 
                        restou outra alternativa senão fazer cumprir a 
                        decisão tomada de iniciar imediatamente uma greve 
                        por tempo indeterminado. 
                      Causas
                        Nossa 
                        reportagem apurou que teria pesado na decisão de 
                        partir para o confronto, além das reivindicações 
                        bastante conhecidas pela empresa, a recente demissão 
                        de Sidney Barros, dirigente de Recursos Humanos, que mantinha 
                        excelentes condições de diálogo com 
                        os dirigentes sindicais.
                        O advogado Renato Liberali, que substituiu Barros nas 
                        negociações, não dispõe do 
                        mesmo trânsito junto ao Sindicato. Muito pelo contrário. 
                        Acusado de ser um dos responsáveis pelo afastamento 
                        do ex-gerente de RH, Liberali é visto como um burocrata 
                        insensível que não consegue enxergar as 
                        questões sociais e políticas que estão 
                        sempre por trás dos embates trabalhistas. 
                        A direção do Sindicato dos Metalúrgicos 
                        de Taubaté, por sua vez, é completamente 
                        diferente de sua congênere de São José 
                        dos Campos. Enquanto na vizinha cidade o Sindicato é 
                        dirigido por militantes do PSTU – Partido Socialista 
                        dos Trabalhadores Unificado -, em Taubaté a direção 
                        é identificada com a Articulação, 
                        uma corrente mais light da CUT e do Partidos dos Trabalhadores. 
                        Portanto, não há como classificar de radical 
                        a postura dos sindicalistas locais.
                        Porém, apesar desse quadro, um outro fator sazonal 
                        pode ter influenciado a decisão de partir para 
                        o enfrentamento com a LG. Biro-Biro, presidente do Sindicato, 
                        é candidato a deputado estadual pelo PT, com o 
                        respaldo de sindicalistas e dirigentes petistas identificados 
                        com o presidente Luis Inácio Lula da Silva, candidatíssimo 
                        à reeleição.
                        Momentos antes do fechamento desta edição, 
                        Biro-Biro informou, por telefone, que a reunião 
                        com dirigentes da LG ainda não havia terminado. 
                        O presidente do sindicato dos Metalúrgicos adiantou 
                        que estava prestes a ocorrer um acordo com a empresa coreana.