| CONTATO 
              - Muitas versões diferentes têm aparecido na mídia 
              sobre o seu futuro profissional. Já falaram que você 
              iria para Band, SBT...Boris Casoy – A maioria destas notícias é 
              pura especulação. Mas é evidente que estou 
              conversando com as emissoras. Só não quero adiantar 
              nada por enquanto.
 CONTATO 
              - Fontes do alto escalão da Record afirmam que, no começo 
              do ano passado, encomendaram uma pesquisa onde o público 
              apontou diversos problemas no seu telejornal: lentidão, excesso 
              de opinião, overdose de manchetes de Brasília. Por 
              isso, decidiram promover uma mudança radical, mas você 
              não aceitou...Boris – Em primeiro lugar, eu coloco dúvidas 
              sobre a metodologia aplicada. Trata-se de uma pesquisa de mercado, 
              auxiliar, ligeira e que sofre contestações científicas. 
              De qualquer forma, nós combinamos um tipo de pesquisa e a 
              Record fez outra. E o resultado não apontou nada disso. Não 
              disse que havia comentários demais, nem excesso de notícias 
              de Brasília. É importante ressaltar que a pesquisa 
              não era sobre o nosso telejornal, mas comparativa entre o 
              "Jornal da Record" e o "Jornal Nacional". A 
              pesquisa, de fato, apontou várias falhas. Entre elas, que 
              o cenário novo, que já era parecido com o da Globo, 
              era muito ruim. E sugeriu, entre outras coisas, que se melhorasse 
              a reportagem e que faziam falta correspondentes internacionais.
 CONTATO 
              - Foi o resultado dessa pesquisa que levou a emissora a idealizar 
              um "clone" do "Jornal Nacional"?Boris - Antes da pesquisa, já haviam me pedido para 
              fazer alguma coisa parecida com o "Jornal Nacional". Essa 
              era a idéia e incluía dividir a bancada com uma moça 
              bonita e inteligente. Eu me recusei. Não faria com prazer 
              uma imitação do "Jornal Nacional", um clone. 
              Nem entro no mérito se a Record estava certa ou errada. Eu 
              simplesmente não faria. Minha proposta sempre foi de jornal 
              ancorado, com um âncora que é também o editor-chefe 
              e tem independência. Foi nessa época que a Record convidou 
              a Fátima e o William Bonner.
 "Eu não faria com prazer uma imitação 
              do Jornal Nacional"
 CONTATO - Como você se sentiu quando ficou sabendo 
              do convite?
 Boris - Eles, é claro, desmentiram. Mas acho que 
              é um direito da emissora. Tenho 50 anos de jornalismo. Já 
              subi e desci de diversos cavalos. Essa é mais uma história. 
              Claro que mexeu comigo, mas não foi nada profundo. Foi um 
              episódio da vida profissional. Faz parte.
 CONTATO 
              - Por que o "Jornal da Record" não conseguia decolar 
              na audiência?Boris - Porque sofria constantes mudanças de horário. 
              Quando estreou a novela ele chegou a mudar todo dia de horário.
 CONTATO 
              - Você sentia muita pressão por audiência? Boris - Não. Eu nunca modifiquei o jornal em função 
              de audiência. Não resvalei o mundo cão, nem 
              apelei. Um jornal sério não pode fazer isso.
 CONTATO 
              - Uma das teses que circularam na mídia sobre a sua saída 
              da Record foi de que houve pressão do Governo Federal pela 
              sua demissão, já que o bispo Marcelo Crivella e o 
              Lula teriam fechado um acordo político no Rio de Janeiro. 
              Boris - Essa pressão, como você relatou [no 
              Portal Imprensa], de fato existiu. Mas a Record nunca me pressionou. 
              Pelo contrário. Eles sempre me deixaram a par dos acontecimentos. 
              Agora, as pessoas e o meio político me dizem que as razões 
              da minha demissão foram políticas. Eu não posso 
              endossar essa opinião. Só tive um episódio 
              estranho. No dia em que se realizou, já no final do ano passado, 
              uma campanha publicitária para promover o "Jornal da 
              Record", um dos diretores sugeriu que a gente colocasse no 
              pé da página do anúncio a frase: "Brasil, 
              um país de todos". Eu, é claro, não topei. 
              Eu disse: "Você está brincando. Isso é 
              um slogan do governo". Foi um sinal estranho. Mas os outros 
              diretores também vetaram essa idéia.
 CONTATO 
              - Por que a negociação com a Record foi parar no tribunal?Boris – No dia 30 de dezembro, uma sexta-feira, de 
              maneira surpreendente, o Bispo [Honorilton] Gonçalves me 
              chamou e disse que a Record havia decidido rescindir o meu contrato. 
              Naquela noite, eu, a Salete [Lemos] e o Dácio Nitrini [diretor 
              do Jornal da Record] fomos impedidos de apresentar o jornal. Eu 
              e a Record, então, combinamos que faríamos um acordo 
              sobre a multa. Começaram as negociações. Só 
              que eu achei que aquilo estava parecendo mais uma compra e venda 
              da feira de Acari do que uma negociação séria. 
              Foi uma negociação humilhante e eu resolvi encerrar, 
              ir à justiça para cobrar o que meu contrato determina.
 CONTATO 
              - Você já passou por grandes redações 
              - como SBT e Folha de S. Paulo - e cobriu vários governos. 
              Esse tipo de pressão já havia acontecido antes? Boris – Que eu tenha tomado conhecimento, não. 
              Só o governo Lula agiu dessa maneira. Sempre tive discordâncias 
              ideológicas com o PT, mas sempre respeitei a democracia no 
              partido, a ética e o cuidado que eles pareciam ter com os 
              negócios públicos. Isso tudo se desvaneceu.
 CONTATO 
              - Qual o grande legado do governo Lula?Boris – O grande legado é que o Brasil virou 
              a rabeira do mundo. Tem um desenvolvimento pífio, só 
              superior ao Haiti. O Lula tem um carisma muito grande e até 
              pode vencer as eleições em função disso. 
              Mas ele derrotou o sonho de muita gente. Fui acusado, muitas vezes, 
              de ser lulista devido à intensidade da presença dele 
              nos meus programas, antes dele ser eleito. Lula sabe disso e me 
              agradeceu pessoalmente em duas campanhas. Uma vez no poder, o PT 
              revelou seu verdadeiro caráter. Não todo mundo, mas 
              a maioria.
 CONTATO 
              - Você acha que existiu, durante a crise, um clima de perseguição 
              da mídia às esquerdas, como insistem os dirigentes 
              do governo?Boris - Não é verdade. Para começar, 
              o PT não é a única esquerda. Os outros partidos 
              estão aí. Pergunta isso para o pessoal do PSOL, que 
              é uma dissidência do PT e tem muito caráter 
              ético e ideológico. Tudo isso que aconteceu foi dentro 
              da base governamental.
 CONTATO 
              - Recentemente, o William Bonner comparou, diante de uma platéia 
              de professores de jornalismo, o espectador médio do Jornal 
              Nacional ao personagem Hommer Simpson. Esse comentário gerou 
              uma enorme polêmica. Boris - O termo usado pelo Bonner foi infeliz, uma simplificação. 
              Mas ele foi correto e honesto dentro de uma certa visão. 
              Essa comparação representa uma das correntes predominantes 
              na televisão, que imagina o telespectador médio menos 
              dotado de inteligência do que ele realmente é. Essa 
              corrente pensa no público como uma massa disforme, com vocabulário 
              reduzido, que não consegue entender os fatos da política 
              e da economia.
 CONTATO 
              - Você faz parte dessa corrente?Boris – Não. Eu faço parte da outra, 
              da corrente que acha que a grande maioria da população 
              entende as notícias e os fatos da economia e da política. 
              O jornalismo que explica, mostra e comenta, provoca o exercício 
              do debate político. É a busca pela audiência 
              a qualquer preço que leva a essa visão de que espectador 
              médio é um estúpido.
 CONTATO 
              - Você pensou em se aposentar depois da saída da Record?Boris – Eu decidi voltar a trabalhar, mas não 
              sabia que a vida de vagabundo era assim tão gostosa (risos). 
              Eu estava cansado, tanto física como emocionalmente. Estou 
              me recuperando.
 CONTATO 
              - Como foi sua experiência como assessor de imprensa?Boris – Fui assessor de quatro políticos: 
              Herbert Levy, secretário da agricultura, em 1968; Antônio 
              Rodrigues Filho (pai do atual ministro da agricultura, Roberto Rodrigues), 
              que substituiu Herbert; Luis Fernando Lima, ministro da agricultura, 
              em 1970; e Figueiredo Ferraz, prefeito de São Paulo, em 1971. 
              Foi uma experiência muito boa. Provei para mim mesmo que era 
              possível fazer assessoria de imprensa, representando a imprensa 
              dentro do seu gabinete. Eu era um instrumento de garimpagem de informação 
              dentro do poder público. Foi na secretaria e no Ministério 
              da Agricultura que eu conheci o Brasil.
 CONTATO 
              - Você voltaria a trabalhar com assessoria de imprensa hoje?Boris – Hoje não. Estou em outro estágio 
              da minha carreira de jornalista.
 CONTATO 
              - Silvio Santos e Igreja Universal: com qual dos dois patrões 
              você se sentiu mais à vontade? Boris – Me senti muito à vontade tanto com 
              Silvio quanto com a Igreja Universal. Acho, inclusive, que a visão 
              que as pessoas têm da Universal é equivocada. Nunca 
              fui pressionado e sempre tive independência nos dois canais.
 CONTATO 
              - Como surgiu essa história de que você fazia parte, 
              nos anos 60, do CCC (Comando de Caça aos Comunistas)?Boris - Foi uma acusação mentirosa da revista 
              O Cruzeiro. Nesta publicação, também foram 
              acusados de pertencer ao CCC dois estudantes que estavam treinando 
              guerrilha em Cuba e quase foram condenados à morte. Só 
              não morreram por interferência do Miguel Arraes. Existem 
              livros na boca do forno onde o próprio pessoal que participou 
              da guerrilha me defende. Esse episódio mostra como a imprensa 
              pode matar a honra das pessoas. Essa história, que foi extremamente 
              negativa na minha vida, serviu para eu aprender a tomar muito cuidado 
              com a honra alheia. Eu senti na carne, eu sei como é. Acabei 
              entrando até em lista de morte.
 
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