Depois que escrevi sobre os sapos, recebi 
                      comentários de amigos reclamando detalhes complementares 
                      que poderiam enriquecer a reflexão. Foi o suficiente 
                      para me ver desafiado a me manifestar mais sobre o tema. 
                      Na verdade, uma pequena coleção de detalhes 
                      envolvendo a mitologia dos sapos desperta uma curiosidade 
                      que também é histórica. Sim os sapos 
                      repontam em todas as culturas desde as iconografias hierógrifas 
                      até as decorações de catedrais medievais 
                      (onde os monstros sempre ficavam do lado de fora). A presença 
                      universal dos sapos, por exemplo, me fez lembrar de registros 
                      dessas imagens na cultura asteca, inca e maia. Logicamente, 
                      o rico ornamentalismo oriental não poderia prescindir 
                      dos sapos que em algumas culturas é tido como sagrado. 
                      
                      Com um comentário amigo, alguém informou que 
                      existem mais de 3.000 espécies, que o nome científico 
                      deles é Bufonidae e que se dividem em salamandras, 
                      perereca, rãs, cobras-cegas entre outros. 
                      O Brasil possui 89% das variedades de sapos e isto nos coloca 
                      como responsáveis pela manutenção de 
                      algumas espécies que estão ameaçadas. 
                      Poucos daqueles tipos são venenosos, aliás, 
                      estas variedades tornam-se colorida quando estão 
                      para morder e assim dão um aviso aos possíveis 
                      agressores. Sim, aos agressores, pois naturalmente os sapos 
                      não atacam. 
                      No mais, esses anfíbios são de utilidade inestimável, 
                      pois, comem insetos perniciosos como o mosquito da dengue, 
                      gafanhotos e pernilongos. Talvez a mais importante ajuda 
                      dos sapos à natureza esteja na capacidade que têm 
                      de despoluir a água contaminada de rios. Os sapos 
                      bebem pela pele e ao fazê-lo filtram o lixo químico 
                      depositado nos rios. E, finalmente, avisam dos riscos quando 
                      morrem por intoxicação.
                      De toda forma, além das notas científicas, 
                      fui lembrado também que os sapos alimentam o vocábulo 
                      com expressões no mínimo curiosas. “Sapear 
                      a vida alheia” ou “entrar de sapo em festa” 
                      sugerem impertinências da vida social nas quais a 
                      figura do simpático bicho é tomada como metáfora 
                      depreciativa. A expressão “sapo de fora não 
                      chia”, sempre usada para isolar pessoas de círculos 
                      aos quais não são chamadas, é uma manifestação 
                      ambígua porque neutraliza a todos, mostrando que 
                      há “sapos de dentro” e alguns excluídos. 
                      
                      Outras tradições convocam à meditação 
                      sobre sua positividade. Uma dessas expressões, aliás, 
                      sempre me fez pensar “engolir sapos”. “Engolir 
                      sapos” como atestado de ter que agüentar tudo 
                      é uma forma engraçada de mostrar a capacidade 
                      de resistência de quantos a eles se assemelham. 
                      E o medo que os sapos despertam? Talvez pelo pulo indiscreto, 
                      pelo mito de que soltam leite peçonhento ou mesmo 
                      de que tragam presságios de novidades que podem ser 
                      boas ou ruins, eles, ao vivo, são sempre evitados. 
                      Não sei bem porque uma tradição africana 
                      mostra o sapo como depositário de pragas. O velho 
                      costume quimbandeiro de colocar o nome de alguém 
                      “na boca do sapo” sempre me amedrontou. 
                      Pensando nisto, acho que toda a mitologia que cerca esta 
                      crendice é aterrorizante, pois sua prática 
                      consiste também em costurar os lábios do pobre 
                      anfíbio. Mas, há um outro vocábulo 
                      que também merece consideração: “sapinho”, 
                      e este até vale como fecho para esta crônica 
                      meio perereca, pois sapinho é atribuído às 
                      bactérias que se acumulam nos cantos dos lábios 
                      de quem muito beija. 
                      Neste caso, caro leitores, espero que o beijo dado por estas 
                      tolas reflexões não deixe marcas outras que 
                      não as do encantamento positivo de quem canta os 
                      sapos como quem faz uma homenagem à natureza em seus 
                      mistérios.