| 
 CONTATO 
              – Como surgiu o Vai Quem Quer?Sbruzzi – Nasceu no Bar do Alemão, na rua 
              Duque de Caxias. O dia que foi fundado não sei, mas tenho 
              certeza que foi na segunda quinzena de novembro de 1972. E o primeiro 
              desfile do bloco foi dia 24 de fevereiro de 73. Teve como fundadores, 
              junto comigo, Carlos Clemensor Edeliger, Daniel Bartolomeu Sbruzzi, 
              Romeu Ladeira Miranda, nosso primeiro patrocinador, Dinei Pereira 
              da Silva e Wilson Miguel Mussi.
 CONTATO 
              – Foi o primeiro bloco da cidade...Sbruzzi – Foi. Não existia nada disso antes 
              do Vai Quem Quer. Tivemos como modelo a Banda de Ipanema, do Rio. 
              Oficialmente falando o Vai Quem Quer é o terceiro bloco no 
              Brasil a desfilar dias antes do carnaval. O primeiro bloco que tenho 
              notícias é o Bacalhau do Batata, de Olinda, surgido 
              em 1964 com um garçom chamado João Francisco Ferreira. 
              Ele trabalhava no carnaval e na Quarta-Feira de Cinzas colocava 
              o bloco na rua. Depois veio a Banda de Ipanema, fundada em 66, formada 
              por intelectuais de Ipanema como Albino Pinheiro, Hugo Bidê, 
              Carlinhos de Oliveira, Ziraldo, Jaguar, Tarso de Castro, Leila Diniz. 
              A banda surgiu quando o grupo foi ao casamento de um deles numa 
              cidade mineira chamada Ubá, onde tinha uma bandinha que saia 
              tocando pela cidade. Quando viram aquilo ficaram alucinados. Assim 
              surgiu o Vai Quem Quer: inspirado na Banda de Ipanema que teve como 
              modelo uma bandinha mineira sem fins carnavalescos.
 “O 
              Vai Quem Quer surgiu inspirado na Banda de Ipanema que teve como 
              modelo uma bandinha mineira sem fins carnavalescos”
 CONTATO – Havia algum contato com esse pessoal de 
              Ipanema?
 Sbruzzi – Víamos pela televisão. A 
              partir de 67 teve folião de Taubaté, como Wilson Bosi, 
              Ipojucam, Rafael Rossi e José Adilson de Moura, o “Michela”, 
              que ia na banda.
 CONTATO 
              – Como foi o primeiro desfile do Vai Quem Quer?Sbruzzi – Éramos nós seis [Edson, Carlos, 
              Daniel, Romeu, Dinei e Wilson] e a banda do maestro Quintino. O 
              Romeu ficou encarregado de receber a banda no Largo do Chafariz 
              de onde sairíamos depois das 20h no dia 24 de fevereiro de 
              73. E nós cinco saímos do Bar do Vasco, atrás 
              da Catedral, e fomos até a Praça Santa Terezinha. 
              Antes de irmos ao Chafariz fomos até a casa do meu tio Pedro, 
              pai do Daniel [Sbruzzi], para nos fantasiarmos. Eu saí de 
              romano. O Daniel, por incrível que pareça, não 
              me lembro como estava fantasiado. O Wilson Mussi foi de bermuda, 
              camisa regata e uma peruca de ráfia para sua esposa, dona 
              Isabel, não o reconhecesse. Dinei saiu de jogador de futebol, 
              com chuteira e tudo. Carlos Clemensor foi de mulher. Do Alto São 
              João, onde morava o tio Pedro, descemos a rua do Café 
              e fomos ao Chafariz onde a banda tocava marchinhas. Quando o bloco 
              saiu, as pessoas que esperavam na rua passaram a nos seguir. Isso, 
              uma semana antes do carnaval, era algo inusitado. Tínhamos 
              um roteiro pré-programado: saímos do Chafariz, descemos 
              a rua Capitão Geraldo, passamos pela Bica do Bugre, pegamos 
              o Largo do Mercado, subimos a rua Bispo Rodovalho, entramos pela 
              Duque de Caxias, onde tinha um monte de gente esperando, no Bar 
              do Alemão, a banda e os seis pioneiros fantasiados. Demos 
              três voltas na Praça Dom Epaminondas, chegamos na rua 
              Cel. Jordão e voltamos ao Chafariz. Fizemos esse trajeto 
              em duas horas e meia. Calculo que umas 40 pessoas acompanharam o 
              bloco.
 “Quando o bloco saiu, as pessoas que esperavam na rua passaram 
              a nos seguir. Isso, uma semana antes do carnaval, era algo inusitado”
 CONTATO 
              – Quer dizer que o bloco nasceu com a banda do Quintino e 
              seis foliões?Sbruzzi – Exatamente.
 CONTATO 
              – Qual o porquê do nome Vai Quem Quer?Sbruzzi – O nome surgiu espontaneamente. Foi uma 
              idéia minha. Fui incisivo e disse: o bloco vai se chamar 
              Vai Quem Quer e vamos sair do Chafariz uma semana antes do carnaval.
 CONTATO 
              – Houve problema para colocar o bloco na rua?Sbruzzi – Na época foi tirado alvará 
              na delegacia. Quem tirou foi o Daniel [Sbruzzi], mas durante o desfile, 
              quem ficou responsável pelo documento foi um amigo chamado 
              Ary Maloca.
 CONTATO 
              – E o sr. foi o primeiro vice-presidente...Sbruzzi – Isso. Achava que o Romeu [Ladeira Miranda] 
              deveria ser o presidente. Ele era gerente-geral da Indústria 
              de Óculos Vision. Queríamos o Romeu como presidente 
              porque ele simplesmente tocava tudo. Toda dificuldade para arrumarmos 
              dinheiro, enfim. Todos os gastos que tivemos ele pagou do bolso 
              dele.
 CONTATO 
              – Quanto tempo esteve ligado ao Vai Quem Quer?Sbruzzi – Fiquei ligado até 2002. Depois pedi 
              demissão por causa de problemas, brigas. Infelizmente fui 
              injustiçado. Entreguei minha carta de demissão ao 
              Guido Moreira por causa de intrigas. Disseram para o presidente 
              da época, o João Guaru, que eu queria que ele morresse, 
              o que não é verdade. Ele acreditou nessa história 
              e eu preferi me retirar.
 CONTATO 
              – Depois que se afastou, voltou a acompanhar o bloco?Sbruzzi – Diretamente, não.
 CONTATO 
              – Esse ano o bloco faz 34 anos. Isso significa algo?Sbruzzi – O bloco foi fundado em 72. São 34 
              anos de existência e 33 anos de desfile, porque o primeiro 
              desfile foi em 73. O bloco caiu nas graças da cidade. Em 
              Taubaté, só tem um bloco: o Vai Quem Quer. São 
              mais de 6 mil foliões.
 CONTATO 
              – E agora, qual o sentimento em relação ao bloco?Sbruzzi – Ainda é uma sensação 
              indescritível. Pensar que de uma brincadeira surgiu tudo 
              isso. Fico tão emocionado quando vejo aquele monte de gente 
              na rua se divertindo. Lembro-me de um desfile na Avenida do Povo 
              em que eu estava abraçado a Daniel [Sbruzzi] e Loiola falei: 
              “primos, olhem esse bloco. Isso é obra nossa”.
 CONTATO 
              – Esperava que o Vai Quem Quer alcançasse tanta fama?Sbruzzi – Sinceramente, sim. O bloco caiu no gosto 
              do povo. Tem gente das classes A, B, C, D e E. Várias pessoas 
              representativas de Taubaté vieram participar. O Augusto Ambrogi 
              (ex-vice prefeito), Valter Celso Teixeira Pinto (conselheiro do 
              Palmeiras) e Mário Conceição (funcionário 
              da secretaria estadual da Fazenda). Vieram porque era uma brincadeira 
              gostosa. O núcleo do bloco sempre foi formado por gente com 
              a cabeça no lugar. Não participo hoje do Vai Quem 
              Quer, mas fico contente de ver que o pessoal está tocando 
              o bloco, para não deixá-lo morrer. Fico satisfeitíssimo.
 “O bloco caiu no gosto do povo.
 Tem gente das classes A, B, C, D e E”
 CONTATO – O que ocorreu em 78 quando a Globo veio acompanhar 
              o desfile?
 Sbruzzi – Foi uma desgraça. Estava tudo certo 
              para fazermos uma matéria com a Globo. O Michela [José 
              Adilson de Moura] fez o intercâmbio para trazer a Banda de 
              Ipanema para Taubaté. A banda que foi recebida com um grande 
              churrasco na Chácara das Flores. Mas rolou tanta cerveja 
              e tanto uísque que o resultado foi terrível. Três 
              caminhões iam sair da Praça Santa Terezinha, levando 
              as mulatas da Banda de Ipanema e o Vai Quem Quer. O Rei Momo era 
              o Roberto Marques que sairia num jipe. Naquela bagunça, o 
              motorista deu uma arrancada e o Rei Momo despencou. Era o anúncio 
              de que as coisas iam se complicar. Em seguida, uns moleques começaram 
              a atirar mamonas, com estilingue, nas mulatas. O desfile continuou 
              até que aconteceu o pior: viraram o caminhão da Globo. 
              Os aparelhos foram todos destruídos. Com muito custo terminamos 
              o desfile na Praça do Electro, felizes por não sermos 
              processados. No dia seguinte, o Romeu decidiu se afastar. Não 
              quis mais ser presidente e encerrou sua participação.
 “O desfile continuou até que aconteceu o pior: viraram 
              o caminhão da Globo. Os aparelhos foram todos destruídos”
 CONTATO – Há outras histórias ainda 
              desconhecidas?
 Sbruzzi – Às vezes leio certas inverdades 
              em determinados jornais dizendo que o Vai Quem Quer foi fundado 
              no Chafariz. Isso nunca. O Vai Quem Quer não foi fundado 
              no Chafariz, nós apenas saíamos de lá. O Vai 
              Quem Quer foi fundado na segunda quinzena de novembro de 1972, no 
              Bar do Alemão, na rua Duque de Caxias, onde hoje é 
              o calçadão, em frente ao Teatro Metrópole. 
              É bom que os carnavalescos se conscientizem disso. No Chafariz 
              nós tivemos inestimável colaboração 
              de um amigo, que também foi nosso diretor, o Saulo Carvalho. 
              Os demais nem pertenceram à diretoria. O que existe são 
              muitas inverdades publicadas por pessoas que não gostam da 
              história como ela é e querem tumultuar. Esse é 
              o detalhe.
 “O 
              Vai Quem Quer não foi fundado no Chafariz, nós apenas 
              saíamos de lá. Ele foi fundado, em 1972, no Bar do 
              Alemão”
 CONTATO – E agora resolveu contar tudo isso num livro 
              que está escrevendo...
 Sbruzzi – Em março desse ano, completo 66 
              anos de idade. Mexo com carnaval desde 1952. O livro já está 
              quase terminado, só preciso de um patrocinador para fazer 
              a confecção. Depois vou distribui-lo porque não 
              tenho interesse comercial nisso. O livro vai se chamar “Maus 
              54 anos de carnaval”. Nele vou contar minha vida carnavalesca, 
              como ela foi, os blocos que fazia na Associação, os 
              amigos daquela época. Numa parte vou citar o Vai Quem Quer. 
              Vou descrever nossos primeiros desfiles até 1990, quando 
              larguei o bloco. Também vou falar sobre o bloco Zorra Total 
              que fundei e registrei, mas não consegui colocá-lo 
              na rua por causa do vereador Luizinho da Farmácia, que colocou 
              uma série de dificuldades para nós. Entre os blocos 
              de Taubaté somente o Zorra Total tem uma malfadada lei, de 
              autoria desse vereador, contrária à saída do 
              bloco Zorra Total. Gostaria de saber o por quê. Isso aconteceu 
              depois que a Câmara aprovou [Lei nº 094/2001, que dispõe 
              sobre concessão de subvenção pela prefeitura 
              de Taubaté ao bloco Zorra Total], o vereador Luizinho entrou 
              com um projeto substitutivo, em 2001, impondo uma série de 
              obrigações que o bloco teria que cumprir para receber 
              a verba, o que não foi possível ser feito porque eram 
              muitas dificuldades impostas.
 “O 
              Zorra Total é o único bloco que tem uma lei que o 
              impede de desfilar”
 |